Expresso

Lucas e Karol Conká: as preocupações com a saúde mental no BBB

Cesar Gaglioni

03 de fevereiro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 22h56)

Embates entre ator e cantora acenderam sinal vermelho no público, que acusou o programa de ser conivente com tortura psicológica

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FOTO: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Lucas Penteado e a cantora Karol Conká, participantes do BBB 21

O ator Lucas Penteado e a cantora Karol Conká, participantes do BBB 21

No ar desde o dia 25 de janeiro, o BBB 21 tem despertado no público uma preocupação com o estado mental de parte de seus participantes, após conflitos que começaram pequenos, mas se tornaram grandes desentendimentos dentro do reality show da TV Globo.

O principal protagonista dessa história é o ator paulista Lucas Penteado, de 24 anos. Na madrugada de sábado (30), durante uma festa, ele teve conflitos com todos os colegas de programa.

Alcoolizado, ele acusou alguns dos participantes de serem preconceituosos e tentou organizar um cenário dentro da casa onde o jogo principal seria um embate entre negros e brancos. Lucas, que naquela mesma madrugada pensou em desistir do BBB , pediu desculpas aos colegas no dia seguinte e chegou a se consultar com uma psicóloga do programa.

Tanto a atitude de Lucas, como a reação dos outros “brothers” nos dias seguintes à festa ligaram nos espectadores um sinal vermelho de que talvez o confinamento esteja mexendo bastante com a cabeça dos jogadores – algo que é natural do jogo, mas que se manifestou mais rapidamente do que o habitual em 2021.

As brigas e os dias subsequentes

Na madrugada de sábado (30), o BBB 21 promoveu a segunda festa do programa.Poucas horas depois do início das festividades, Lucas começou a confrontar seus colegas de casa. O primeiro alvo foi a influenciadora digital Camilla de Lucas, 26.

Lucas foi falar com Camilla e propor a ela o que chamou de “jogo dos 7”. Nele, os sete participantes negros do reality se uniriam para eliminar a maior parte dos participantes brancos até a metade do confinamento, garantindo que um deles ganharia o prêmio de R$ 1,5 milhão.

Camilla logo desconversou e se afastou do colega. A outros participantes, a influenciadora afirmou que Lucas foi agressivo na proposta e que ela chegou a se assustar com a linguagem corporal dele. “O Lucas não está bem”, disse.

Na sequência, Lucas foi conversar com o cantor sertanejo Rodolffo Matthaus, 32, confrontando-o. “Eu vou fazer a revolução. Vou desconstruir um boy escroto, que não sabe que é escroto”, afirmou. Dias antes, o músico tinha criticado a reação da participante Lumena Aleluia, 29, ao episódio no qual parte dos homens da casa se maquiaram , o que foi visto como transfóbico por ela.

Entre idas e vindas, Lucas acabou se desentendendo com todos os outros 19 participantes do reality. Nas horas finais da festa, o ator chegou a cogitar sair do programa, mas desistiu. Ainda no sábado, ele conversou com uma psicóloga da Globo. O diálogo não foi revelado e nem transmitido para o público.

No sábado (30), no domingo (31) e na segunda-feira (1º), o clima dos participantes com Lucas não estava dos melhores, mas quem personificou o azedume da casa com o “brother” foi a cantora e rapper Karol Conká, 34.

Ela, com concordância de outros participantes, proibiu Lucas de almoçar com os colegas.

FOTO: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Lucas Penteado almoçando sozinho no BBB 21

O ator Lucas Penteado almoçando sozinho no BBB 21

“Não quero que você fale enquanto estou na mesa comendo, obrigada”, afirmou Conká na segunda-feira (1º). Na sequência, Lucas se retirou da cozinha e foi para o quarto. “Vá a merda”, disse a cantora enquanto ele saía do cômodo. “ Vou deixar esse menino tantan ”, afirmou no mesmo dia.

Em outros momentos, Conká continuou falando sobre Lucas para outro participante, chegando até mesmo a compará-lo com o ex-goleiro Bruno Souza, do Flamengo, condenado em 2013 pelo assassinato de sua ex-namorada, Eliza Samúdio.

As reações do público

Do lado de fora do confinamento, o público ficou preocupado com as atitudes da cantora e os efeitos dela no ator. Uma petição para que Conká fosse expulsa do reality foi criada na segunda-feira (1º), e, até a manhã de quarta-feira (3), registrava cerca de 300 mil assinaturas.

No Google Trends, ferramenta que mostra as tendências do buscador, o termo “tortura psicológica” registrou um aumento de 610% nas pesquisas, já que nas redes choviam acusações de que Conká estava abusando mentalmente de Lucas.

A tortura psicológica é caracterizada pelos maus tratos mentais e emocionais em uma relação desigual de poder entre duas ou mais pessoas. Depressão, ansiedade e estresse pós-traumático são alguns dos efeitos da tortura psicológica.

O público também acusou a Globo de ser conivente com a suposta tortura psicológica, já que em nenhum momento a direção interviu nos conflitos. Salvo exceções – como casos onde crimes foram comprovadamente cometidos – a emissora deixa claro ao público que não interfere ativamente nos rumos do que acontece na casa.

Nas redes, parte do público chegou a tentar mobilizar uma campanha de boicote contra o reality, exigindo que patrocinadores tirassem seu apoio ao programa, como forma de pressionar a Globo a rever as regras do jogo e expulsar a cantora.

Para Martha Hübner, professora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) e ex-presidente da Associação Internacional de Análise Comportamental, os episódios envolvendo Lucas e Conká seguem à risca a definição de tortura psicológica.

“Ele já estava fragilizado psicologicamente, e ela foi para cima com o objetivo de desestabilizá-lo ainda mais para tirá-lo do jogo”, disse ao Nexo .

Segundo a psicóloga, talvez o caso fosse o estopim para a Globo reavaliar algumas das regras do jogo. “Agressão física é proibida no BBB, mas a verbal está liberada. Por quê? A gente sabe que uma agressão verbal pode ser tão danosa quanto uma física”, afirmou.

Na terça-feira (2), Conká assumiu que passou dos limites e pediu desculpas ao ator. Os dois se abraçaram, naquilo que, segundo eles mesmos, foi um gesto para “selar a paz”.

O Nexo tentou entrar em contato com a Globo em busca de um posicionamento sobre os ocorridos na casa, mas não obteve resposta. A emissora não se pronunciou publicamente sobre o caso.

Os efeitos do confinamento total

Tudo no BBB é feito para pressionar os participantes – de longas provas de resistência que rendem prêmios dentro do jogo ao fato de que há mais pessoas do que camas nas primeiras semanas do reality.

Em cima dessas pressões, há aquela inerente ao formato: um confinamento total de 100 dias, com monitoramento 24h por parte da direção e do próprio público.

Não há uma fórmula pronta para o BBB quando se fala em conflitos dentro da casa. Com elencos diferentes, cada edição tem suas particularidades. Porém, o que chamou a atenção em 2021 é que no segundo dia de confinamento, brigas já estavam acontecendo .

Em outras edições, os conflitos costumavam aparecer por volta da segunda ou terceira semana do jogo, já que na primeira os participantes ainda estavam conhecendo uns aos outros e vivendo a euforia de estarem na “casa mais vigiada do Brasil”.

Martha Hübner argumenta que todo o programa foi construído para ser uma espécie de tortura psicológica com os participantes.

“Todos os elementos do programa estão ali para manipular variáveis e incitar sentimentos”, disse. “São 20 pessoas disputando um único prêmio de R$ 1,5 milhão, os ânimos ficam aflorados. E eles [na produção] incitam o fogo no parquinho, como eles mesmos dizem”, afirmou.

“O que a Karol fez foi explicitar a tortura psicológica de um jeito diferente, já que no caso dela não foi pelo prêmio em si, e sim para tirar o Lucas do jogo”.

Para Hübner, o BBB pode ser questionado do ponto de vista ético, já que expõe as fragilidades de duas dezenas de pessoas, tensionando-as ao extremo, mas pouco pode ser feito no sentido de intervenção direta da emissora, a menos que haja uma revisão das regras do reality.“Aquilo é um jogo, tem regras, e as pessoas se submeteram por livre e espontânea vontade. Se a Globo chama a Karol para conversar e dizer que ela exagerou, estará favorecendo ela e aí não vai ser justo com os outros participantes”.

“Em 2021, essa tortura psicológica está chamando mais a atenção porque alguns dos participantes, incluindo o Lucas, estão visivelmente transtornados logo no começo do jogo”, afirmou. Não se sabe se tais condições são resultado do jogo, algo pregresso ao reality – como o isolamento social pela pandemia, por exemplo – ou uma mistura de fatores.

“Pelas regras atuais, ganha quem for mais maduro, quem for mais bem resolvido, quem aguentar essa pressão por mais tempo”, concluiu.

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