As ilhas que tentam ser paraísos turísticos livres da covid-19
João Paulo Charleaux
04 de fevereiro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 22h56)Lugares remotos que dependem fortemente da atividade econômica buscam formas de receber visitantes sem expô-los ao contágio
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Casal caminha à beira-mar em uma das 115 ilhas de Seychelles
Ilhas e arquipélagos que dependem fortemente do turismo estão buscando formas de reativar sua economia por meio da criação de rígidos protocolos sanitários na pandemia e até da adoção de uma espécie de passaporte vacinal a partir de 2021.
Dois casos são exemplares: o de Seychelles , arquipélago formado por 115 ilhas no Oceano Índico, a mais de 1.600 quilômetros da costa leste da África, e o das Ilhas Cayman , território ultramarino britânico no Caribe.
Até quinta-feira (4), Seychelles, que tem pouco mais de 96,7 mil habitantes, contava cinco mortos pela covid-19. Cayman, com aproximadamente 64,1 mil moradores, tinha dois mortos. A baixa incidência de casos fatais da doença está ligada à condição geográfica isolada desses locais. Como as duas localidades dependem fortemente do turismo, as autoridades estabeleceram rígidos protocolos de entrada e saída, para tentar impedir que a pandemia devastasse vidas e negócios.
Em Seychelles, o turismo responde por 65% do PIB (Produto Interno Bruto). O governo local elaborou inicialmente uma lista de 48 países de onde se dispôs a acolher visitantes.
Quem chega à ilha vindo dessas localidades deve apresentar testes negativos feitos 72 horas antes do embarque, além da contratação de um seguro de viagem.
No desembarque o visitante realiza novo teste, permanece isolado em estrutura de acomodação apropriada para esse fim, e só é liberado depois de uma terceira testagem negativa.
Porém, com o início da circulação dos imunizantes contra covid-19, o governo de Seychelles estuda liberar totalmente o acesso para visitantes que certifiquem ter tomado as duas doses da vacina.
O governo da possessão britânica de Cayman fechou a ilha num rígido protocolo de lockdown no início da quarentena. Desde julho, não há registro de transmissão local do vírus, o que permitiu o relaxamento de parte das medidas.
Assim como Seychelles, Cayman também exige testes negativos e quarentenas de viajantes que entram em seu território. Em novembro dois jovens americanos romperam a quarentena de 15 dias imposta a quem chega na ilha, e enfrentaram dois dias de detenção por crime contra as regras sanitárias.
Assim como no arquipélago africano, o controle sanitário de entradas e saídas, somado à testagem obrigatória e às quarentenas faz com que o uso de máscaras e o distanciamento social possam ser relaxados.
A situação dessas duas localidades mostra um tipo de turismo restrito a poucos privilegiados durante a pandemia. Conforme avança a vacinação no mundo, alguns governos de locais turísticos começam a estudar a possibilidade de reativar suas economias selecionando apenas visitantes que já tenham sido imunizados, sem exigir deles testagens ou quarentenas.
Chipre, tradicional destino turístico dos europeus na primavera que se aproxima no hemisfério Norte, e no verão que se segue, anunciou que, a partir de março, permitirá a entrada livre de pessoas vacinadas.
A ideia da criação de uma espécie de passaporte vacinal começou a ser discutida há meses. Ainda em setembro, Arthur Caplan, professor de bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, disse em entrevista ao Nexo que essa deveria ser uma tendência não apenas no setor do turismo, mas também entre indústrias e comércio de maneira geral.
“Acho que as pessoas andarão com certificados de vacinação no celular. Isso deve trazer questões interessantes sobre o direito de proteção de dados médicos”, previu Caplan na ocasião.
Mesmo antes da pandemia, viajantes já eram obrigados a apresentar atestados de cobertura vacinal para entrar em muitos países. A vacina da febre amarela é um exemplo. A diferença está na dificuldade para conseguir um imunizante contra a covid-19. Até quinta-feira (4), apenas 1,38% da população mundial havia sido imunizada.
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