Expresso

O que há de mobilização pública para o 7 de setembro bolsonarista

Malu Delgado

05 de setembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 23h20)

Presidente tenta demonstrar força em atos com apresentações da Marinha e da Aeronáutica no Rio de Janeiro e participação de servidores em Brasília 

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FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS – 7.SET.2021

O presidente Jair Bolsonaro nos atos de 7 de Setembro, em Brasília

O presidente Jair Bolsonaro no evento de 7 de Setembro de 2021, em Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus coordenadores de campanha pretendem transformar os atos de 7 de Setembro, data em que é comemorado o bicentenário da Independência do Brasil, em uma demonstração de força política do candidato, que tenta a reeleição. Convocações para a participação de atos em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo estão sendo difundidas nas redes sociais com foco nos eleitores de Bolsonaro, sobretudo fiéis de igrejas evangélicas, ruralistas, religiosos conservadores, profissionais de segurança pública, servidores públicos, entre outros.

As hashtags #7deSetembroeuvou, #7deSetembrovaisergigante, #Dia7VaiSerGigante são as mais comuns. Os convites para que cidadãos participem dos atos, sobretudo nas três capitais, falam de defesa da liberdade, da pátria e da família, além de uma “segunda independência” do país.

Neste texto, o Nexo mostra a preparação dos bolsonaristas para os atos de 7 de Setembro e como o evento ecoa os protestos antidemocráticos de 2021.

O que está programado

Em Brasília haverá o desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios. Bolsonaro já confirmou que participará. Além das comemorações tradicionais, que foram suspensas nos dois anos de pandemia, manifestantes pró-Bolsonaro programaram atos de apoio ao presidente.

A restrição para acessar a Esplanada dos Ministérios iria começar a partir de terça-feira (6) – estava previsto que não haveria expediente nos órgãos públicos por “medidas de segurança”. O bloqueio do local, no entanto, foi adiantado para a noite de segunda-feira (5) pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. A decisão foi tomada após a secretaria detectar que mais de dez caminhões tentavam acessar o local – a entrada de veículos desse porte estava proibida desde sábado (3), segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Para o 7 de Setembro, o governo federal pretende encher a Esplanada, contando também com a ajuda de servidores públicos. Um ofício enviado aos 22 ministérios , estatais e todos os órgãos federais pedia que funcionários públicos informassem seus nomes e dos convidados que querem levar ao desfile. De acordo com informações da Secretaria de Comunicação da Presidência, foram disponibilizados 400 convites para servidores em cada ministério.

A Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados convocou os funcionários para zelarem “pela manutenção da ordem” e garantirem a preservação do patrimônio público e a imagem institucional do Congresso. Enquanto o Supremo Tribunal Federal e o Congresso estarão fechados, o Tribunal Superior Eleitoral , que não fica na Esplanada, vai funcionar normalmente no dia 7.

Mas é no Rio de Janeiro que estarão concentradas as maiores atenções. A tradicional parada militar, que sempre foi realizada no centro da capital, na avenida Presidente Vargas, foi cancelada pelo Exército. O presidente não conseguiu convencer o Alto Comando Militar a fazer o desfile em Copacabana. Porém, Bolsonaro marcará presença na orla de Copacabana, onde as comemorações contarão com a participação da Marinha e da Aeronáutica . A Esquadrilha da Fumaça fará sobrevoos na orla. Navios de guerra farão um trajeto que vai terminar na orla, onde estará o presidente. Estão previstos ainda saltos de paraquedistas e 29 tiros de canhão, partindo do Forte de Copacabana. As pistas da avenida Atlântica ficarão fechadas para a passagem de veículos, e soldados do Comando Militar do Leste começaram a montar no domingo (4) a estrutura para o evento .

As atividades organizadas pelas Forças Armadas no Rio, que começam às 8h, serão palco para o presidente. Espera-se que Bolsonaro faça discursos em carros de som tanto em Brasília quanto no Rio de Janeiro. A presença do presidente no Rio ocorrerá na parte da tarde, a partir das 13h, quando também está prevista uma motociata, saindo do Aterro do Flamengo, com mulheres na linha de frente. Outra novidade será a “jetskiata” , com eleitores de Bolsonaro andando de jet ski pela orla.

Como está em campanha eleitoral, os aliados querem evitar um tom de ruptura institucional, como ocorreu em 2021. Há uma investigação em curso no Supremo Tribunal Federal contra milícias digitais que pregam e financiam atos antidemocráticos, o que é crime previsto na Constituição. Por isso, apoiadores mais moderados do presidente não querem associar as manifestações do 7 de Setembro com atos antidemocráticos.

O comportamento de Bolsonaro é imprevisível. Nos últimos dias, o presidente voltou a fazer ataques ao Supremo Tribunal Federal. Em 30 de agosto, em convenção do Partido Republicanos, em São Paulo, Bolsonaro afirmou que haverá “povo nas ruas e a tropa desfilando” em Copacabana, no Rio, pela primeira vez, para garantir a liberdade.

No sábado (3), ao discursar durante evento em Novo Hamburgo (RS), o presidente criticou indiretamente o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, sem mencionar o nome do magistrado. Disse que houve uma “canetada” de “vagabundo” na operação da Polícia Federal que quebrou o sigilo bancário de oito empresários bolsonaristas.

Linha tênue

É tradição a participação de presidentes da República nas paradas militares em comemoração à Independência do Brasil. No entanto, Bolsonaro é o primeiro mandatário desde a redemocratização a misturar uma festa militar, com protagonismo das Forças Armadas, em um aparato político-partidário. O presidente também transfere os principais atos da capital federal para o Rio, estado em que fez a sua carreira política e onde se concentra parte importante da sua força eleitoral. Na disputa presidencial de 2018, Bolsonaro teve mais de 60% dos votos na zona eleitoral de Copacabana.

A negativa do Exército em organizar a tradicional parada militar na avenida Atlântica foi um sinal de que parte das Forças Armadas não quer se associar diretamente a nenhum evento que possa pregar um golpe de Estado. Por outro lado, fica patente a adesão da Marinha e da Aeronáutica aos desejos do presidente, uma vez que haverá a mistura de protestos populares favoráveis a Bolsonaro aos atos oficiais das Forças.

O Ministério Público Federal pediu explicações à Marinha, Exército e Aeronáutica sobre quais medidas estão sendo tomadas para que os atos militares de 7 de Setembro não sejam confundidos com manifestações político-partidárias em favor de um candidato. Os ofícios enviados à cúpula das Forças Armadas pregam ainda a necessidade de equilíbrio e observância aos deveres e vedações previstos na Constituição. Na noite de segunda-feira (5), foi enviado o ofício de resposta em que o Comando Militar afirma que “o Exército Brasileiro, enquanto Instituição Nacional de caráter permanente, prima pela isenção político-partidária e seus integrantes trabalham, diuturnamente, balizados pela irrestrita observância aos preceitos estabelecidos pelo ordenamento jurídico vigente”.

As mensagens de convocação para os atos de 7 de Setembro, em grupos alinhados com Bolsonaro, difundiram notícias falsas e ideias conspiratórias absurdas, incluindo até mesmo um plano de assassinato do presidente e iniciativas para que ele seja cassado e não possa disputar as eleições. Os convites para a participação nos atos falam, também, de fraude eleitoral. Algumas das convocações orientam sobre a confecção de faixas para o evento, algumas pregando a destituição dos ministros do Supremo em 72 horas e abordando a falta de segurança das urnas eletrônicas, o que é um mantra bolsonarista.

A participação de candidatos bolsonaristas, representantes do agronegócio e influenciadores digitais também é esperada. Mensagens divulgadas convocando para a participação mencionavam até números de Pix para auxiliar no financiamento dos atos. Muitos dos textos espalhados nas redes falam em ruptura institucional .

Os ecos de 2021

Faltando menos de quatro semanas para a eleição, os protestos poderão passar a imagem de força política de Bolsonaro, que em todas as pesquisas de intenções de voto divulgadas até o momento está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa.

No 7 de Setembro de 2021, os protestos organizados por bolsonaristas foram vistos, na época, por muitos analistas e representantes dos Três Poderes como uma tentativa frustrada de golpe de Estado ou como um ensaio de golpe futuro, testando as instituições brasileiras.

O presidente fez discursos na Esplanada dos Ministérios e na avenida Paulista, em São Paulo, em 2021. Neles, Bolsonaro disse que as eleições são uma farsa e que só deixaria a Presidência da República morto. “Quero dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá”, afirmou na ocasião. No discurso, o ministro Alexandre de Moraes foi chamado de “canalha” pelo presidente. Apesar do estrago, a avaliação geral foi de que as instituições resistiram, em especial o Judiciário e o Congresso. Com a tensão gerada pelas declarações, Bolsonaro foi obrigado, dois dias depois, a divulgar uma nota negando a intenção de ofender os Poderes. O texto foi redigido pelo ex-presidente Michel Temer, que atuou como bombeiro para evitar o agravamento de uma crise entre Judiciário e Executivo.

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