O valor de uma antibiblioteca, segundo Nassim Taleb
Murillo Otavio
28 de novembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h50)Autor libanês utiliza exemplo do escritor e filósofo italiano Umberto Eco, que era proprietário de uma coleção de 30 mil obras, para refletir sobre o valor dos livros não lidos em uma biblioteca pessoal
Exemplares de livros em uma biblioteca
Todo leitor assíduo tem livros nunca lidos guardados em sua biblioteca. Seja porque é tomado pelo ímpeto de acumular mais publicações do que pode ler, seja porque o desejo de adquirir conhecimento é maior do que o tempo disponível para a leitura.
Em sua biblioteca pessoal, o escritor e filósofo italiano Umberto Eco tinha cerca de 30 mil obras. No documentário italiano “Sobre memória” (2015), é possível ver imagens das tantas pilhas de livros e corredores que se desdobram pela sua casa.
A partir da inquietação sobre a figura de Eco e sua coleção monumental, o escritor libanês Nassim Nicholas Taleb, de 62 anos, se dedicou a entender a esmiuçar o que chamou de antibiblioteca. No livro “A Lógica Do Cisne Negro” (2007), Taleb conta que constantemente Eco era indagado se havia lido todos aqueles exemplares e se, caso sim, fazia sentido acumular tanto conhecimento.
“O escritor Umberto Eco pertence àquela classe restrita de acadêmicos que são enciclopédicos, perceptivos e nada entediantes. Ele é dono de uma vasta biblioteca pessoal (que contém cerca de 30 mil livros) e divide os visitantes em duas categorias: os que reagem com:‘Uau! Signore professore dottore Eco, que biblioteca o senhor tem! Quantos desses livros o senhor já leu?’, e os outros — uma minoria muito pequena — que entendem que uma biblioteca particular não é um apêndice para elevar o próprio ego, e sim uma ferramenta de pesquisa. Livros lidos são muito menos valiosos que os não-lidos”.
Para Taleb, uma biblioteca deve conter tanto obras sobre assuntos que o leitor tem familiaridade como aqueles sobre os quais não. “Você acumulará mais conhecimento e mais livros à medida que for envelhecendo, e o número crescente de livros não-lidos nas prateleiras olhará para você ameaçadoramente. Na verdade, quanto mais você souber, maiores serão as pilhas de livros não-lidos”, escreve.
Taleb é profundo admirador da obra de Eco, que foi um dos principais intelectuais do século 20. O intelectual era crítico do ambiente virtual, dizia que a internet daria voz para pessoas “imbecis”. Entre suas principais obras estão o“Nome da rosa”, “O pêndulo de Foucault” e a “História da Beleza”. Os 30 mil livros da sua biblioteca particular foram doados para a Universidade de Bolonha após a sua morte, em 2016.
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