Bolsonaro diz que vai respeitar eleição, desde que seja ‘limpa’
Da Redação
22 de agosto de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h39)Presidente manteve condicionantes para aceitar o resultado das urnas em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Declaração mantém no ar sombra de golpismo repetido desde 2021
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Bolsonaro durante entrevista ao Jornal Nacional em 2022
Jair Bolsonaro estreou na noite desta segunda-feira (22) a série de entrevistas do Jornal Nacional com os principais candidatos à Presidência da República nas eleições de 2022, cujo primeiro turno está marcado para 2 de outubro.
Candidato à reeleição pelo PL, o presidente se comprometeu publicamente a respeitar o resultado das urnas, desde que as “eleições sejam limpas”, repetiu a defesa de remédios ineficazes contra a covid-19 – que já matou quase 700 mil brasileiros – e pôs culpa dos problemas de seu governo na pandemia, na crise hídrica de 2021 e na guerra na Ucrânia.
Os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos optaram por uma abordagem diferente daquela usada em 2018. Em vez de perguntas em tom um tanto bravo, tentaram ser suaves na voz. Os questionamentos, porém, se mantiveram incisivos nos 40 minutos de entrevista.
Logo no começo, Bolsonaro mentiu ao dizer que não tinha xingado ministros do Supremo e acusou Bonner de “fake news” por lembrar disso – o presidente já chamou de “canalha” Alexandre de Moraes e de “filho da puta” Luís Roberto Barroso.
Bolsonaro lembrou que sua cruzada contra o sistema eleitoral começou em 2014, quando o PSDB de Aécio Neves pediu auditoria nas urnas. “Quem vai decidir a transparência ou não vão ser as Forças Armadas”, disse o presidente, atribuindo aos militares um poder que eles não têm . Ao manter condicionantes para aceitar o resultado da eleição, manteve no ar a sombra de um golpismo repetido por ele desde 2021.
Questionado sobre as atitudes na pandemia , Bolsonaro disse que comprou vacinas quando foi possível e que sua frase segundo a qual as pessoas poderiam virar jacaré se tomassem os imunizantes era apenas algo que faz parte da “literatura portuguesa”.
O presidente defendeu de novo o chamado tratamento precoce com medicamentos que não funcionam contra a covid-19. Mentiu ao dizer que as pessoas se contaminavam mais pela doença se ficassem em casa e martelou sua ideia de que só tentou salvar a economia.
Bolsonaro também tentou se apropriar da criação do auxílio emergencial, um programa para famílias de baixa renda articulado pelo Congresso, não pelo governo. Ao ser questionado pelo mau desempenho econômico, o presidente disse que “a grande vacina” para a crise foram as reformas aprovadas em 2019, entre as quais as mudanças na Previdência .
Ao falar sobre desmatamento , defendeu a desregulamentação promovida por seu governo. Quando o tema foi política, disse que é impossível governar sem o centrão , grupo de parlamentares com histórico de fisiologismo que costuma se unir pra ter mais poder sobre o orçamento federal. Centrão que é aliado de Bolsonaro mesmo tendo sido atacado pelo presidente antes da sua eleição em 2018.
“Você está me estimulando a ser ditador?”, perguntou Bolsonaro a Bonner quando o apresentador confrontou o presidente com essa contradição. “Os partidos de centro fazem parte da base do governo para que possamos avançar em reformas”, disse.
O candidato à reeleição pelo PL voltou a dizer que não há corrupção em seu governo, mesmo com as evidências dizendo o contrário. Ele negou interferência nos órgãos de controle, como a Polícia Federal .
Capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador registraram panelaços durante a entrevista. No centro da capital paulista, opositores do presidente pediram“fora, Bolsonaro”. Outros fizeram gritos de apoio ao ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, que concorre contra o atual chefe do Executivo à eleição presidencial. O protesto contra Bolsonaro havia sido divulgado nas redes sociais ao longo desta segunda (22).
Crítico da TV Globo, Bolsonaro aceitou conceder entrevista ao Jornal Nacional para poder “ falar para fora da bolha e atingir, além da classe média, também as classes C e D”, segundo um integrante da equipe que coordena a campanha à reeleição em entrevista à coluna da jornalista Thaís Oyama no UOL. Nas pesquisas de intenção de voto, o atual chefe do Executivo possui os piores resultados na comparação com o ex-presidente Lula entre os eleitores mais pobres.
O Jornal Nacional é o telejornal mais assistido do Brasil há décadas. Dados da Kantar Media divulgados pela coluna do jornalista Ricardo Feltrin no portal UOL apontam que o programa teve uma média de audiência de 21,4 pontos no índice Ibope nos quatro primeiros meses de 2022, o que corresponde a uma média superior a 15,2 milhões de espectadores. Apesar dos números altos , e esses são os piores resultados para esse período do ano desde 1969. O carro-chefe do jornalismo da TV Globo tem registrado queda na audiência. De acordo com o portal Notícias da TV, o recorde de audiência do programa em 2022 foi de 27,8 pontos, registrado na edição de 4 de agosto.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o núcleo da campanha de Bolsonaro tentou convencê-lo a participar de um media training para se preparar para a entrevista, mas o presidente não quis. Mesmo assim, aliados próximos a Bolsonaro, como seu filho Flavio Bolsonaro e o ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, procuraram passar, na medida do possível, estratégias elaboradas pelo grupo ao candidato.
Essa não foi a primeira vez em que Bolsonaro foi entrevistado no Jornal Nacional. Na campanha eleitoral de 2018, quando o então deputado federal liderava as pesquisas de intenção de votos, sua participação no telejornal ficou marcada por uma fala disseminando a mentira de que um material distribuído nas escolas públicas para combater a homofobia era na verdade um “kit gay”, criado para incentivar os alunos a serem homossexuais. Nesse momento, os apresentadores chamaram sua atenção por estar desrespeitando as regras da entrevista.
Na ocasião, Bolsonaro também falou sobre sua parceria com o economista Paulo Guedes, que se tornaria ministro da Economia, declarou ser contra a paridade de salários entre homens e mulheres que exercem as mesmas funções no trabalho e chegou a anunciar que estava vendendo um apartamento. “Quem quiser comprar está à disposição, e agora estou morando num funcional”, disse.
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