Golpistas invadem Congresso, Palácio do Planalto e Supremo
Da Redação
08 de janeiro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 21h23)Milhares de bolsonaristas que não aceitam resultado da eleição avançam sobre escassas barreiras policiais, quebram vidraças e entram nos prédios que representam os Três Poderes da República
Bolsonaristas em frente ao Supremo Tribunal Federal
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federalneste domingo (8) em Brasília. Os golpistas depredaram vidros e tomaram as dependências internas dos prédios que representam os Três Poderes da República.
Um grupo de milhares de bolsonaristas que não aceitam o resultado da eleição de 2022 e o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva avançou pela Esplanada dos Ministérios por volta de 15h, num protesto pedindo golpe de Estado. Um pequeno contingente de policiais tentou impedir o grupo com spray de pimenta. Mas a barreira foi facilmente rompida e a Praça dos Três Poderes, tomada.
Bolsonaristas invadem Congresso por não aceitar derrota nas eleições
A responsabilidade pela segurança da área é do governo do Distrito Federal, comandado porIbaneis Rocha (MDB). O secretário de Segurança Pública era Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Torres está nos EUA. Após a invasão, Ibaneis anunciou a demissão do secretário. Governadores ofereceram ajuda ao Distrito Federal, com envio de PMs.
No início da madrugada de segunda-feira (9), o ministro do Supremo Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Ibaneis do cargo por 90 dias.
As imagens do episódio mostram um efetivo reduzido no local neste domingo (8). Há cenas de policiais tirando fotos ao lado de golpistas enquanto ocorriam as invasões. O prédio do Supremo foi o retomado pelas forças de segurança pouco antes das 17h. Meia hora depois, a polícia retomou o Palácio do Planalto, usando bombas de efeito moral contra os invasores. Por volta de 18h30, o prédio do Congresso também foi retomado.
No início da noite, a Polícia Civil afirmou que cerca 300 golpistas haviam sido presos em flagrante.
Pouco antes das 18h, Lula, que estava em Araraquara, no interior paulista, convocou a imprensa para decretar intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal até 31 de janeiro. O presidente indicou Ricardo Garcia Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, como interventor. Ele responderá diretamente a Lula.
“Todas as pessoas serão encontradas e punidas”, disse o presidente, que se referiu aos golpistas como fascistas. Lula também disse que vai buscar identificar quem financiou os bolsonaristas.O presidente apontou negligência da polícia do Distrito Federal, destacando o fato de PMs terem escoltado os golpistas pelas ruas de Brasília antes da invasão dos prédios dos Três Poderes. A AGU (Advocacia-Geral da União) pediu ao Supremo a prisão de Anderson Torres.
Ainda em seu pronunciamento, Lula afirmou que vai apurar também se houve omissão dentro do governo federal. E disse que Bolsonaro estimulou a invasão ao atacar de forma recorrente as instituições durante seu mandato. Obras de arte dentro dos prédios foram vandalizadas. Um quadro deDi Cavalcanti foi rasgado a facadas.
Bolsonaristas dentro do Congresso, após depredarem vidros do prédio
Bolsonaro está nos EUA desde o fim de dezembro. Ele viajou para a Flórida a fim de não passar a faixa para Lula, seu sucessor. Segundo o canal Globonews, o ex-presidente se reuniu com Anderson Torres nos últimos dias. O agora ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal nega, e diz que está nos EUA apenas de férias .
Bolsonaro só se manifestou sobre a destruição causada por seus apoiadores às 21h da noite de domingo (8), quando os prédios já haviam sido esvaziados. Ele escreveu no Twitter que “manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia”, e disse que depredações e invasões “fogem à regra”. Ele refutou qualquer culpa pelas ações extremistas.
Bolsonaristas fazem há dias convocações para atos na Esplanada dos Ministérios.O ministro da Justiça, Flávio Dino, chegou a autorizar o uso da Força Nacional , em Brasília, para auxiliar outras forças de segurança locais diante de “ ameaças veiculadas contra a democracia”.
O grupo veio do entorno do Quartel-General do Exército na capital federal, onde bolsonaristas radicalizados acampam desde o segundo turno das eleições. No fim de semana de 7 de janeiro, após a primeira semana do novo governo, cerca de 100 ônibus chegaram à capital federal, levando cerca de 4.000 pessoas. Circularam mensagens em grupos de conversa chamando bolsonaristas para Brasília, a fim de manter vivo a mobilização golpista, que vinha se esvaziando .
Bolsonaristas no plenário do Supremo, após invasão do prédio
A sexta-feira (6) marca dois anos da invasão do Congresso americano por apoiadores do ex-presidente Donald Trump que não aceitavam a derrota para Joe Biden, nos EUA. O ataque foi feito enquanto parlamentares confirmavam a eleição do democrata, eleito em 2020, e cinco pessoas morreram. Dois anos depois, 900 pessoas foram presas e mais de 190, condenadas pela Justiça.O Congresso brasileiro está vazio, de recesso até fevereiro.
Há divergências internas no governo brasileiro sobre o que fazer com esses acampamentos, que reúnem apoiadores radicalizados do ex-presidente. Dino defendia a retirada desses grupos até sexta-feira (6). Já o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, dizia que as manifestações são parte da democracia e estão se desmobilizando .
Na sexta-feira (6), policiais desmontaram uma concentração na frente de um prédio militar em Belo Horizonte, a pedido da prefeitura. A retirada ocorreu após um fotógrafo de 60 anos ser agredido pelos bolsonaristas. Na sexta-feira (6), uma mulher foi vítima de agressão durante uma carreata golpista em São Paulo.
Nos últimos meses de 2022, membros de acampamentos colocaram fogo em carros e ônibus em Brasília e tentaram invadir a sede da Polícia Federal. Às vésperas da posse, um apoiador do ex-presidente tentou realizar um atentado terrorista no aeroporto da cidade.
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