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As descobertas científicas premiadas pelo Nobel

Aline Pellegrini e Conrado Corsalette

09 de outubro de 2024(atualizado 10/10/2024 às 18h46)

Academia sueca anunciou laureados nas áreas de química, física e medicina. Falta de diversidade entre escolhidos em mais de 120 anos de existência do prêmio suscita críticas

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A Academia Real das Ciências da Suécia anunciou nesta quarta-feira (9) que os cientistas americanos David Baker e John Jumper e o britânico Demis Hassabis irão receber o Nobel de Química de 2024. Os laureados pela academia sueca para as áreas de física e medicina foram anunciados na segunda (7) e na terça-feira (8). O prêmio serve como uma vitrine para a produção em ciências desde 1901, mas a falta de diversidade entre os escolhidos levanta questões sobre as barreiras que existem na educação e nas carreiras científicas. O Durma com Essa conta as descobertas dos premiados e as críticas ao Nobel. O programa tem também Marcelo Montanini falando sobre a escolha de Gabriel Galípolo para comandar o Banco Central.

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Edição de áudio Brunno Bimbati
Produção de arte Lucas Neopmann

Transcrição do episódio

Aline: A mais prestigiada premiação em ciência do mundo. A honraria que reconhece trabalhos em medicina, química e física e serve como uma vitrine para pesquisadores. Mas uma vitrine criticada por abranger apenas parcialmente a produção científica mundial. Eu sou a Aline Pellegrini e esse é o Durma com Essa, o podcast de notícias do Nexo. 

Conrado: Olá, eu sou o Conrado Corsalette e tô aqui com a Aline pra apresentar este podcast que vai ao ar todo começo de noite, de segunda a sexta, sempre com notícias que podem continuar a ecoar por aí.

[trilha de abertura]

Aline: Quarta-feira, 9 de outubro de 2024. Dia em que a 

Academia Real das Ciências da Suécia anunciou que o Nobel de Química de 2024 é dos cientistas David Baker, John Jumper e Demis Hassabis. O trio foi premiado por suas descobertas sobre proteínas fazendo uso de inteligência artificial.

[áudio anúncio]

Conrado: Você ouviu o anúncio da Academia Real das Ciências da Suécia. Metade do prêmio de 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a 5 milhões e oitocentos mil reais, foi destinada a Baker, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que criou novas proteínas por meio de ferramentas de computação. A outra metade será dividida por Jumper e Hassabis, que trabalham na Google DeepMind, braço de inteligência artificial da gigante de tecnologia.

Aline: A pesquisa de Baker, que é americano, tem aplicação na indústria farmacêutica. Com base nas suas descobertas, as proteínas podem ser desenhadas para atingir alvos específicos do corpo humano. 

Conrado: Já o também americano Jumper e o britânico Hassabis desenvolveram algoritmos capazes de mapear a estrutura de proteínas com base na sequência de aminoácidos. Trata-se do AlphaFold, modelo de inteligência artificial que já é usado para o desenvolvimento de fármacos. A ferramenta permite visualizar a estrutura tridimensional de moléculas e prever com precisão as interações entre quase todas as proteínas conhecidas pela ciência.

Aline: Este é o segundo Nobel de 2024 que agracia pesquisas associadas à inteligência artificial. Na terça-feira, o prêmio de física foi para o americano John Hopfield e para o britânico Geoffrey Hinton, que usaram ferramentas da física para pesquisas em inteligência artificial.

Conrado: Os avanços nas tentativas de fazer com que máquinas sejam capazes de pensar ocorreram quando pesquisadores começaram a simular em computador o funcionamento de neurônios. E é exatamente aí que entram os laureados de física de 2024. Eles usaram conceitos fundamentais da física estatística para criar conexões neurais artificiais.

Aline: Hopfield criou uma memória associativa que pode armazenar e reconstruir imagens e outros tipos de padrões em dados. Já Hinton inventou um método que mapeia propriedades em dados e, assim, executa tarefas como identificar elementos específicos em imagens.

Conrado: As pesquisas dos premiados começaram a ter impacto nos anos 1980. O americano, que é professor na Universidade Princeton, nos Estados Unidos, e o britânico, professor na Universidade de Toronto, no Canadá, vão dividir igualmente o prêmio Nobel de física.

Aline: Na segunda-feira, a academia sueca anunciou que o Nobel de Medicina de 2024 vai para os pesquisadores Victor Ambros e Gary Ruvkun por causa da descoberta de pequenas moléculas chamadas de microRNAs. Os cientistas americanos foram responsáveis por destrinchar o papel dos microRNAs na ativação e desativação de partes do material genético. O processo é considerado essencial tanto para o desenvolvimento do organismo quanto para o funcionamento das células.

Conrado: A pesquisa da dupla detalhou como funciona o processo que controla como as células se desenvolvem no nosso organismo. A função dos microRNAs é auxiliar as células na seleção de quais genes devem ser reproduzidos, garantindo que apenas as instruções genéticas necessárias sejam levadas adiante. Quando esse mecanismo não funciona corretamente, doenças como câncer e diabetes podem se desenvolver. 

Aline: Na quinta-feira será anunciado o prêmio Nobel de literatura, na sexta, o da paz, e no dia 14 de outubro, o de economia. A cerimônia de entrega dos prêmios está marcada para o dia 10 de dezembro.

[mudança de trilha]

Conrado: Ao longo desses mais de 120 anos, o Nobel se tornou a premiação mais prestigiada do mundo. Ele não só dá crédito a importantes avanços científicos, mas ajuda a divulgar pesquisas inovadoras, como as que possibilitaram o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, que protegem milhões de pessoas. Ou a criação de lâmpadas led, que economizam energia, por exemplo. Ou seja, o prêmio serve como uma vitrine para a ciência.

Aline: O prêmio Nobel surgiu a partir do testamento do inventor e empreendedor sueco Alfred Nobel, cujo trabalho mais conhecido é a criação da dinamite. Ele deixou instruções para que, depois da sua morte, em 1896, a fortuna que deixou fosse usada para recompensar “aqueles que, durante o ano anterior, tivessem conferido o maior benefício à humanidade”. 

Conrado: A ideia de Alfred Nobel era premiar esforços excepcionais nas áreas em que ele mais se envolveu: física, química, fisiologia ou medicina, literatura e paz. Os primeiros Prêmios Nobel foram concedidos em 1901. Em 1969, um novo prêmio foi estabelecido, o Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, mais conhecido como Nobel da economia.

Aline: Em seu testamento, Alfred Nobel designou as instituições que deveriam ser responsáveis ​​pelos prêmios: a Real Academia Sueca de Ciências para o Prêmio Nobel de Física e Química, o Instituto Karolinska pro Nobel de Medicina, a Academia Sueca para o Nobel de Literatura e um comitê de cinco pessoas a serem eleitas pelo Parlamento Norueguês para o Prêmio Nobel da Paz.

Conrado: A nomeação para os prêmios Nobel de Física, Química e Medicina é somente por convite. Assim, a cada ano, milhares de membros de academias, professores universitários, cientistas, laureados de outros anos e membros de assembleias parlamentares, entre outros, são convidados a enviar candidatos para receberem a honraria no ano seguinte. O site do prêmio Nobel destaca que “os indicados são escolhidos de tal forma que tantos países e universidades quanto possível sejam representados ao longo do tempo”.

Aline: Mas não é exatamente isso que acontece e é aí que está uma das principais críticas ao Prêmio Nobel. Estados Unidos e países europeus concentram a maior parte dos ganhadores. Ao lado dos americanos, alemães e britânicos dominam o ranking do número de laureados.

Conrado: A falta de diversidade não é só regional, como você pode notar pelos nomes dos vencedores dos prêmios de ciências de 2024 que a gente disse antes. São todos homens. Um artigo publicado no site americano The Conversation ressalta que todos nós, seja público em geral, seja imprensa, seja estudante ou professor, temos uma ideia sobre como se parece um cientista ganhador do Nobel. A imagem é predominantemente masculina, branca e mais velha. Cerca de 90% dos ganhadores dos prêmios Nobel de ciências foram homens.

Aline: Até hoje, 908 homens já foram anunciados como ganhadores. Enquanto só 64 mulheres ganharam o prêmio. Uma das exceções mais lembradas entre ganhadores como Albert Einstein e Ernest Rutherford é Marie Curie. Que pelas suas descobertas de novos elementos químicos e dos princípios da física atômica e da radioatividade não recebeu só um, mas dois Prêmios Nobel: um de física em 1903 junto com o marido Pierre, e um de química em 1911. 

Conrado: Essa raridade que são as mulheres premiadas levanta questões sobre as barreiras que existem na educação e nas carreiras científicas. São vários os fatores que provocaram esse cenário, muitos deles, como a disparidade salarial entre os gêneros, não se aplicam apenas a quem busca trabalhar com ciência.

Aline: A própria estrutura da ciência acadêmica pode dificultar o progresso das mulheres. Em artigo também para o site The Conversation, a professora da americana Universidade Estadual do Arizona Mary Feeney diz que os vieses implícitos contra mulheres como especialistas e cientistas acadêmicas, é generalizado. Ele se manifesta por meio da valorização, do reconhecimento e da concessão de bolsas de estudos para homens em detrimento das mulheres. 

Conrado: Esforços a fim de melhorar a representação feminina nas ciências se concentram em combater estereótipos e implementar programas educacionais para estimular o aumento do número de meninas que se dedicam a pesquisas científicas. 

Aline: O Durma com Essa volta já.

[trilha da redação]

Aline: O Senado aprovou na terça-feira a indicação do economista Gabriel Galípolo para assumir o comando do Banco Central entre 2025 e 2028. Antes da votação no plenário, ele foi sabatinado pela comissão de assuntos econômicos da casa. O Marcelo Montanini escreveu sobre o assunto. Marcelo, conta pra gente como foi essa sabatina.

Marcelo: Sinceramente, foi uma sabatina bem pró-forma. Os senadores mais elogiaram a simpatia, a postura e o currículo de Galípolo do que fizeram perguntas espinhosas ou incisivas. É verdade que muitas vezes as questões são dirimidas no beija mão, que é aquele périplo que o indicado faz nos gabinetes de parlamentares antes da sabatina.

Enfim, ele não foi pressionado durante as 4 horas de sabatina. Mas se saiu bem, mostrou conhecimento técnico e equilíbrio. E também tergiversou em questões que poderiam lhe render alguma dor de cabeça. Afinal, grande parte das perguntas eram relacionadas a sua relação com o presidente Lula e o que faria em caso de ser pressionado pelo chefe do Executivo.

Há tempos paira sobre Galípolo uma dúvida sobre se ele cederá a pressão do Executivo, visto que Lula tem criticado reiteradamente a alta dos juros.

Galípolo buscou reforçar o caráter técnico de sua atuação como diretor de Política Monetária do Banco Central, destacando que nesse um ano e meio no cargo já votou por manter, aumentar e baixar os juros. E negou ter sofrido qualquer pressão de Lula.

No geral, pode-se dizer que ele foi convincente. Não à toa, foi eleito por unanimidade pelos 26 senadores da Comissão de Assuntos Econômicos e por 66 votos a favor e só cinco contra pelo plenário do Senado.

Aline: E Marcelo, o que a gente pode esperar de uma futura gestão dele?

Marcelo: Galípolo vem há tempos sinalizando que não será leniente com a inflação e que não cederá às pressões do Executivo. Ele reforçou essa imagem na sabatina.

Defendeu a autonomia do Banco Central. Afirmou que cabe à instituição perseguir a meta de inflação estabelecida pelo poder democraticamente eleito. E, que para isso, deve colocar os juros em patamar restritivo pelo tempo que for necessário.

Pode-se dizer que a sabatina dele projeta uma gestão do Banco Central com perfil técnico frente ao combate inflacionário e às diretrizes econômicas definidas pelo Executivo.

Mas, talvez, essa dúvida que paira sobre uma possível cessão às pressões do Executivo seja um desafio intermitente que ele enfrentará.

Aline: O texto do Marcelo você lê em nexojornal.com.br. E quinta-feira vai ser o último episódio diário do Durma com Essa. A partir da próxima semana, o programa passa a ser semanal, mais robusto, e vai contar com as participações de mais redatores do Nexo e com o retorno de João Paulo Charleaux para falar sobre questões internacionais.

Conrado: Das descobertas científicas premiadas pelo Nobel em 2024 à aprovação de Gabriel Galípolo para o comando do Banco Central, durma com essa.

Aline: Com roteiro, apresentação e produção de Aline Pellegrini, apresentação e edição de texto de Conrado Corsalette, participação de Marcelo Montanini, edição de áudio de Brunno Bimbati e produção de arte de Lucas Neopmann, termina aqui mais um Durma com Essa. Amanhã tem mais. Até!   

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