Quando nosso continente separou-se da África, há 135 milhões de anos, o manto da Terra se rompeu: veio uma inundação de lava e a atmosfera foi tomada de gases asfixiantes. Era, sem tirar nem pôr, a receita para uma grande extinção da vida por aqui. No entanto, contra todas as probabilidades, a extinção não ocorreu. Sabe-se lá por quê.
Quem resolveu solucionar o mistério foi a geóloga Adriana Alves, 38 anos, professora da Universidade de São Paulo, ela é também uma sobrevivente das probabilidades. “Negra retinta”, como diz, ela descende de escravizados vindos também da África. Crescida na favela, filha de uma empregada doméstica e de um motorista de ônibus ausente, Adriana foi a primeira da família a entrar em universidade pública e uma das únicas negras em todo lugar por onde passou desde o ensino médio.
Mérito não lhe falta, mas “eu odeio a meritocracia”, diz. Adriana não quer ser a exceção usada para negar a regra que lhe é evidente: o racismo, que impede mais negros de chegarem aonde ela chegou. Fala disso com a leveza de quem há tempos ultrapassou as expectativas – “o objetivo, que era sair daquela vida, já foi cumprido”.
Cientistas do Brasil
Quem:Adriana Alves, 38 anos
O quê:geóloga, pesquisa rochas vulcânicas
Onde:no Instituto de Geociências da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo
Como:examinando rochas formadas em erupções vulcânicas, em busca de peças que montem o quebra-cabeças espatifado centenas de milhões de anos atrás