Quem dá mais, leva: o poder econômico nas eleições

Debate

Quem dá mais, leva: o poder econômico nas eleições
Foto: Adriano Machado/Reuters

Bruno Carazza


03 de novembro de 2020

Mesmo com a proibição de doações de empresas, os poderes político e econômico ainda são determinantes para decidir quem tem mais chances de ser eleito no Brasil

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Em 2018, Thais Ferreira concorreu pela primeira vez numa eleição. Mulher, jovem, preta, moradora de uma comunidade do Rio de Janeiro, ela tentou uma vaga na Assembleia Legislativa fluminense.

Naquela ocasião, a campanha de Ferreira arrecadou R$ 73.661,75. Desse total, apenas R$ 2.154 (menos de 3%) vieram do seu partido, o PSOL. O restante foi obtido junto a pessoas físicas, inclusive recorrendo a “vaquinhas virtuais”. Mesmo realizando uma campanha relativamente barata, Ferreira obteve 24.759 votos e quase foi eleita, tendo ficado como primeira suplente de sua coligação.

Animada com o resultado das eleições anteriores, Ferreira se lançou candidata novamente em 2020, desta vez para o cargo de vereadora na capital fluminense. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, a 12 dias das eleições, a candidata do PSOL não recebeu nenhum centavo de seu partido , mesmo sendo mulher e negra — os dois grupos sociais que, por determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), deveriam ser especialmente contemplados com recursos públicos distribuídos a cada legenda.

Thais Ferreira é só mais um exemplo, entre milhares, das distorções do sistema de financiamento eleitoral no Brasil — um sistema que reproduz desigualdades e erige barreiras à renovação da política desde a redemocratização, a despeito das bem intencionadas tentativas recentes de mudança.

Eleições custam caro — especialmente no Brasil. Temos dezenas de partidos e cada um deles lança dezenas ou centenas de candidatos a vereador, a depender do tamanho do município. Nas eleições para deputados estaduais e federais, as dificuldades são ainda maiores, pois a disputa ocorre em todo o estado, ampliando o tamanho do território (e da população) onde é necessário fazer chegar suas propostas. Destacar-se no meio da multidão tem um preço, e ele é bastante alto para quem não é uma celebridade ou não conta com um eleitorado cativo, como líderes religiosos, sindicais ou militares.

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