Paper: Linguagem e construção de identidades: o caso da língua portuguesa em Timor-Leste
Autora
Joice Eloi Guimarães
LattesOrientadora
Raquel Salek Fiad e Terezinha de Jesus Machado Maher
Área e sub-área
Linguagem, construção de identidades
Publicado em
Revista Gláuks 06/12/2018
Como participar?
Este artigo, elaborado por Joice Eloi Guimarães e publicado na Revista Gláuks, analisou como a população do Timor-Leste construiu uma identidade linguística-cultural a partir da língua portuguesa.
Colonizado por Portugal, o país do sudeste asiático teve o português como idioma oficial até 1975, quando foi invadido pela Indonésia e obrigado a adotar a língua dos invasores. Com a proibição do uso do português, o idioma se tornou um símbolo de resistência à presença indonésia no país.
Segundo Guimarães, o desenvolvimento da identidade linguístico-cultural da população timorense com o português foi solidificado ao longo dos 24 anos em que o país resistiu à presença da Indonésia. Esse movimento foi reforçado pela oficialidade da língua portuguesa no Timor a partir de 2002, ano em que a sua Constituição atual foi promulgada.
Como a população do Timor-Leste construiu uma identidade linguística-cultural vinculada à língua portuguesa? Como essa construção se manifesta no ensino de língua portuguesa no país?
Com base no contexto sócio-histórico do Timor-Leste, a pesquisa mostra como a língua é um fator determinante na construção de uma nação. Além disso, apresenta o percurso da língua portuguesa e seu atual status de língua co-oficial no cenário multilíngue leste-timorense – realidade por vezes desconhecida por falantes de português de outras localidades.
O estudo propicia uma reflexão sobre os embates políticos, ideológicos e econômicos envolvidos nas ações de preservação do português em países marcados pelo processo de colonização. A importância dessa reflexão se estende ainda às discussões atuais acerca da internacionalização da língua portuguesa, por evidenciar os efeitos da hierarquização linguística em contextos em que o português divide espaço com outras línguas.
Para investigar a construção da identidade linguística-cultural com o português no Timor-Leste, a pesquisa apresentou uma breve trajetória da língua portuguesa no país, analisando a relação entre enunciados ditos por timorenses e a situação social em que eles foram pronunciados.
O estudo também examina enunciados presentes em documentos educacionais – como as diretrizes curriculares – que orientam as ações didáticas na área de desenvolvimento linguístico. A partir dessa discussão, propõe-se uma reflexão sobre como os docentes timorenses com base em sua formação cultural, reconstroem suas identidades com a língua portuguesa.
A pesquisa permitiu observar, nos diferentes momentos da história da língua portuguesa em Timor-Leste, a maneira como a linguagem desempenha um papel fundamental na construção de identidades.
Durante os 24 anos de domínio indonésio em Timor, a população construiu uma identidade linguística-cultural relacionada à língua portuguesa por meio da disseminação de discursos atrelados a um projeto de reconstrução do Estado-nação timorense. A consolidação desse projeto identitário se deu por meio do discurso, com seus elementos sociais, históricos e ideológicos, em 2002, com a promulgação da Constituição da República Democrática de Timor-Leste.
Desde então, um dos caminhos para a manutenção dessa relação identitária ocorre pelo uso de palavras de autoridade, como os documentos oficiais. Na esfera educacional, a pesquisa mostrou que os diálogos que os professores timorenses estabelecem com as diretrizes curriculares são responsáveis por produzir diferentes facetas da sua identidade linguística.
Pesquisadores da esfera acadêmica, gestores institucionais e, sobretudo, atores que implementam diretamente as políticas linguísticas nos diferentes centros em que a língua portuguesa está presente, como no Timor-Leste.
Joice Eloi Guimarães édoutora em linguística aplicada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Mestre em educação e graduada em letras pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Referências
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