Acadêmico

A influência da mídia no ensino de geografia na escola

Francisco Fernandes Ladeira

21 de julho de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h36)
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Dissertação: A geopolítica mundial na mídia: conceitos, valores e discursos presentes no ensino de geografia na educação básica

Autor

Francisco Fernandes Ladeira

Orientador

Vicente de Paula Leão

Área e sub-área

Educação, geografia

Publicado em

Universidade Federal de São João del-Rei 28/02/2018

Link para o original

Esta dissertação, realizada na Universidade Federal de São João del-Rei, analisa como os noticiários influenciam na percepção de docentes e discentes no ensino e na aprendizagem de geografia durante o ensino básico.

Segundo a pesquisa, o oligopólio dos noticiários internacionais direcionam os conteúdos para os discursos geopolíticos pautados por visões favoráveis às políticas externas das principais potências globais e, em contrapartida, apresentam representações negativas a respeito de nações ou organizações consideradas hostis pela cultura ocidental.

1Qual a pergunta a pesquisa responde?

Como os discursos geopolíticos da mídia se incorporam ao meio didático e são ressignificados e/ou reproduzidos por professores de geografia e alunos do 3º ano do Ensino Médio?

2Por que isso é relevante?

Compreender a linguagem midiática é uma questão importante para a geografia escolar. Os veículos de comunicação de massa podem representar um poderoso concorrente discursivo da ciência geográfica. Parte dos noticiários centralizam questões relacionadas à geografia como globalização, conflitos geopolíticos, aquecimento global, problemas urbanos, fontes de energia, crescimento demográfico e desenvolvimento sustentável. Por isso, espera-se que os meios de comunicação de massa estejam constantemente presentes nas reflexões de pesquisadores e professores de geografia.

Após análise de diversas matrizes curriculares, é possível perceber que as relações entre mídia e processo educacional são pouco abordadas nos cursos de licenciatura em geografia, fator que dificulta a formação de profissionais que estejam preparados para trabalhar com o material midiático em sala de aula. Ainda há poucos trabalhos acadêmicos sobre as relações entre discurso midiático e ensino de geografia.

Soma-se a influência exercida pelos grandes grupos de comunicação na formação intelectual de boa parte da população e o baixo número de pesquisas científicas sobre a importância da mídia no processo de ensino-aprendizagem em geografia, considera-se que este trabalho seja relevante para o meio acadêmico de maneira geral e para os estudos na área de educação geográfica, em particular.

3Resumo da pesquisa

A pesquisa analisa como conceitos do pensamento geográfico – como território, paisagem e espaço – estão constantemente presentes no vocabulário utilizado pelos principais noticiários internacionais. Para facilitar a compreensão do público sobre temáticas geopolíticas, os meios de comunicação de massa utilizam linguagens baseadas em estereótipos, maniqueísmos, clichês, truísmos e tipificações.

Este tipo de abordagem dos fatos empobrece as análises sobre o complexo cenário das relações internacionais. O oligopólio da mídia brasileira reverbera as notícias distribuídas pelas agências internacionais sem fazer a devida análise, fazendo assim, a reprodução desses conteúdos para a sociedade.

Para tanto, foram aplicados questionários e realizadas observações de aulas em que docentes e discentes tiveram contato com algum tipo de material midiático. Constatou-se que a mídia ainda é o principal fator que condiciona os imaginários geopolíticos dos discentes. Por outro lado, grande parte dos educadores ainda concebe o material midiático apenas como mais um recurso e não como objeto de estudo a ser sistematizado em sala de aula.

4Quais foram as conclusões?

A hipótese levantada por este trabalho – o conteúdo midiático, principalmente em questões geopolíticas, influencia o discurso do professor e o processo de construção do conhecimento geográfico por parte do aluno – foi, em parte, confirmada durante a pesquisa em campo.

Os professores que participaram da pesquisa consideram que a mídia manipula informações em favor de determinados interesses. No entanto, a maioria dos participantes não foi capaz de descrever como ocorrem as manipulações midiáticas. Este tipo de desconhecimento sobre o funcionamento básico do maquinário midiático remete, em grande medida, à formação inicial durante a graduação, pois grande parcela dos docentes não foi formada para entender as relações entre o ensino de geografia e os discursos apresentados na mídia.

O fato de os discursos dos educadores não se alinharem aos padrões ideológicos da grande mídia brasileira (isto é, de acordo com a interpretação das relações internacionais a partir dos interesses das grandes potências) pode estar relacionado à prática de recorrerem constantemente a veículos da chamada mídia alternativa e à internet para prepararem suas aulas sobre geopolítica ou para se manterem informados sobre os principais acontecimentos globais.

A mesma postura não se aplica aos discentes. Nas questões propostas que abordaram assuntos complexos, referentes à geopolítica mundial, percebeu-se a grande influência dos discursos propagados pelos meios de comunicação de massa. Os imaginários geopolíticos dos alunos são permeados pelas representações midiáticas, independentemente do tipo de instituição a que pertencem.

Pode-se afirmar que os professores educam com a mídia, mas não educam para a mídia e através da mídia, o que significaria passar da mera utilização instrumental do artefato midiático para a introdução de metodologias didáticas que incentivem os discentes a lerem criticamente os textos presentes nos meios de comunicação de massa.

5Quem deveria conhecer seus resultados?

Profissionais da área de ensino

Francisco Fernandes Ladeira é d outorando em geografia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Mestre em geografia pela UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). Entre 2011 e 2021 foi articulista do Observatório da Imprensa, principal site brasileiro de crítica de mídia. Como autor ou organizador possui 12 livros publicados.

Referências

  • GUIMARÃES, Iara Vieira. Sobre os sentidos de ensinar e compreender o mundo – discurso jornalístico e ensino de Geografia. São Paulo, Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Tese de Doutorado), 2006.
  • KATUTA, Ângela Massumi. Ensino de Geografia: conceitos, linguagens e mídia impressa. In:______, et al. (orgs). (Geo)grafando o território: a mídia impressa no ensino da Geografia. São Paulo. Expressão Popular, 2009.
  • LEÃO, Vicente de Paula. O uso da mídia no ensino da geografia na educação básica. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, 2003.
  • STEINBERGER, Margareth Born. Discursos geopolíticos da mídia – jornalismo e imaginário internacional na América Latina. São Paulo: FAPESP, EDUC, CORTEZ, 2005.
  • LEÃO, Vicente de Paula; CARVALHO LEÃO, Inêz Aparecida de. Ensino de Geografia e Mídia: linguagens e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2008.

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