Temas
Compartilhe
Nesse ano, o 7 de setembro foi celebrado de forma, digamos assim, mais branda. Sem grandes paradas, altas demonstrações de civismo ou atos ufanistas, as comemorações da independência de 2016 parecem ter assumido o tom cinza que vem acompanhando os brasileiros nesses últimos meses. Temer compareceu às festividades mas, mais uma vez, tentou driblar o ritual: não desfilou em carro aberto e abriu mão do discurso ou da faixa presidencial. Procurou estar e não estar presente, mas mesmo assim tomou vaia. A impressão que fica é que o governo vai se dando conta de que, nesse contexto, performar o espetáculo do “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”, como se nada tivesse ocorrido, soa mera provocação. Talvez por isso, também, a celebração de ontem pouco lembre a altivez heroica que o evento parece demandar.
Porém, e por linhas tortas, a “timidez política” do 7 de setembro de 2016 ressoa o ato inaugural do ano de 1822; o famoso “Independência ou morte”. Ao que parece, também naquele ano fatídico, o feito foi devidamente varrido de seus problemas e contradições, para ganhar um ar grandioso e memorável. Diferente do que mostra a majestosa tela de Pedro Américo, encomendada por Pedro II no final do Segundo Reinado como uma forma de elevar a memória do pai e também da própria monarquia, a realidade pouco teve de apoteose. Nada de uniformes vistosos, colina elevada, ou cavalos garanhões prontos para empinar. Vamos então no passo a passo, no andar do jumento, aliás, o animal em que Pedro I estava montado naquele fatídico dia.
Quadro de Pedro Américo “Independência ou Morte”
Lilia Schwarczé professora da USP e global scholar em Princeton. É autora, entre outros, de “O espetáculo das raças”, “As barbas do imperador”, “Brasil: uma biografia”, "Lima Barreto, triste visionário”, “Dicionário da escravidão e liberdade”, com Flavio Gomes, e “Sobre o autoritarismo brasileiro”. Foi curadora de uma série de exposições dentre as quais: “Um olhar sobre o Brasil”, “Histórias Mestiças”, “Histórias da sexualidade” e “Histórias afro-atlânticas". Atualmente é curadora adjunta do Masp para histórias.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
Destaques
Navegue por temas