Coluna
Giovana Xavier
Feliz Natal para quem acredita que é possível viver de amor
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Em sete anos, incluindo um de gravidez, este é a primeira noite de Natal que eu e Peri não estaremos juntos. Na nova configuração de família, o 24 de dezembro ficou para o pai. O 31 com a mãe. Essa partilha de datas coloca, mais uma vez, juntos dois sentimentos que dinamizam a maternidade: amor e culpa. Hoje (24), acordei cedo, arrumei-me e fui, finalmente, comprar o presente de Natal do meu pequeno. Entre decisões mudadas a cada semana, Peri definiu-se por um jogo de tabuleiro. Sua escolha fez-me perceber o quanto o bebê tornou-se criança. Aos poucos, a pessoinha que dei à luz, através de um parto natural, vai se transformando em menino-homem.
Pensei em editais do CNPq como o Meninas nas Exatas, que tem por objetivo estimular que garotas despertem o interesse por cálculos, números, estatísticas e outros marcadores da área das ciências exatas. Rememorei um dos dias em que estive no Programa Encontro, na TV, dividindo o palco com Bia, uma adolescente que desenvolveu um canudo biodegradável à base de inhame, e Ana Carolina da Hora , idealizadora do projeto Com Opção. A acompanhante da adolescente, menor de idade, no programa, era sua mãe, com quem tive oportunidade de conversar. Olhando para as duas juntas, vendo aquela mãe orgulhosa da filha, minha certeza de que a chave das transformações está com as mulheres aumentou. Esse entendimento tornou-se possível porque, a despeito de todas as críticas, aproveitei da melhor forma a oportunidade de falar com a população brasileira na maior emissora do país. #permitase
Como pesquisadora do campo dos estudos de gênero, pensando em Bia e Peri, imaginei o quão interessante pode ser observar concepções de feminino e masculino entre crianças por meio da escolha dos seus presentes. Deu alívio lembrar que o projeto Escola sem Partido foi arquivado . Alívio e não propriamente felicidade, pois – em termos de política institucional – tudo pode mudar a cada instante, como temos observado e sentido. De 1º de janeiro em diante, sentiremos mais e mais e mais.
Em que momento meu filho tomou gosto pelos jogos de tabuleiro? Como eu não percebi isso? Senti-me culpada, pensando na minha agenda de viagens, nas responsabilidades acadêmicas, cada dia maiores, na relação conflituosa com o pai. Todos esses sentimentos derivados do machismo, do racismo e do patriarcado, que cobram um preço muito alto a mulheres que ocupam lugares que, a princípio, são pensados para os homens
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Giovana Xavieré professora da Faculdade de Educação da UFRJ. Formada em história, tem mestrado, doutorado e pós-doutorado, por UFRJ, UFF, Unicamp e New York University. É idealizadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras. Em 2017, organizou o catálogo “Intelectuais Negras Visíveis”, que elenca 181 profissionais mulheres negras de diversas áreas em todo o Brasil.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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