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O historiador Timothy Snyder teve a ideia de escrever o livro “Sobre a tirania” depois que um comentário seu, feito após a eleição de Donald Trump, viralizou no Facebook. “Não somos mais sábios do que os europeus que viram a democracia dar lugar ao fascismo, ao nazismo e ao comunismo no século 20. Nossa única vantagem é poder aprender com a experiência deles”, afirmou.
História não é bula de remédio, muito menos de longa duração. Mas o certo é que, como diz Peter Burke, ela tem a capacidade de atuar como lembrete. Conta o historiador inglês que “lembrete” era um funcionário que fazia questão de lembrar de eventos que os demais preferiam esquecer.
Pois bem, nesta coluna pretendo “deixar um lembrete” ao recordar o que foi a República de Weimar – essa espécie de parênteses na história da Alemanha, localizado imediatamente entre a Primeira Guerra Mundial, em 1919, e o início do regime nazista em 1933. Pretendo lembrar também como o nosso contexto contemporâneo marcado por “democraduras” – governos eleitos democraticamente, mas que praticam formas autoritárias de atuação – evoca esse momento turbulento e decisivo na história mundial.
Por outro lado, se é certo que a história se repete, ela nunca segue roteiro fixo. Mesmo assim, chega a ser impressionante a semelhança entre nossa situação atual e aquela vivenciada na pequena Weimar; uma cidade que faz parte do estado alemão da Turíngia. Foi em Weimar que, prestes a perder a Primeira Guerra Mundial, a liderança militar alemã, altamente autocrática e conservadora, passou o poder para as mãos dos democratas, que negociaram o armistício e a paz com as demais nações envolvidas no conflito.
Como a história tem sempre muitos lados, vale a pena lembrar ainda que foi em Weimar que moraram dois grandes escritores, Johann Wolfgang von Goethe (1794-1832) e Friedrich Schiller (1759-1805), bem como o músico húngaro Franz Liszt (1811-1886), que passou boa parte de sua vida por lá. Foi também na pequena cidade que morreu, bem na virada do século, Friedrich Nietzsche (1844-1900) e que se inaugurou o movimento arquitetônico da escola Bauhaus; símbolo da renovação estética que ocorria na Alemanha.
Lilia Schwarczé professora da USP e global scholar em Princeton. É autora, entre outros, de “O espetáculo das raças”, “As barbas do imperador”, “Brasil: uma biografia”, "Lima Barreto, triste visionário”, “Dicionário da escravidão e liberdade”, com Flavio Gomes, e “Sobre o autoritarismo brasileiro”. Foi curadora de uma série de exposições dentre as quais: “Um olhar sobre o Brasil”, “Histórias Mestiças”, “Histórias da sexualidade” e “Histórias afro-atlânticas". Atualmente é curadora adjunta do Masp para histórias.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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