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Quem já frequentou um restaurante por quilo e faz alguns cálculos simples sabe que, entre comida e bebida ingerida em uma única refeição, se coloca para dentro do corpo mais de meio quilo. Isso significa que, pela lei da conservação das massas, você sai do almoço pesando pelo menos meio quilo a mais do que quando entrou. Poucas pessoas pensam em quanto ingerem, mas, em média, se estima que um ser humano engula mais ou menos uma tonelada de alimentos e bebidas em um ano. No entanto, nenhuma pessoa engorda uma tonelada por ano; ninguém jamais engordou nem perto de uma tonelada em um ano. Para onde então vai toda essa comida?
É exatamente essa pergunta que se tornou a obsessão da vida do professor, fisiologista e médico Santorio Sanctorius de Pádua (1561-1636), considerado por muitos o pai da ciência metabólica. Sanctorius decidiu medir seu próprio peso, o que ingeria, e o que saía de seu corpo por meio de fezes, urina e até mesmo transpiração. Para isso, criou um equipamento especial para medir transpiração, uma das várias ferramentas médicas que desenvolveu (dentre elas, o termômetro clínico, ainda em uso hoje). Ele ficou surpreso ao verificar que a conta não fechava — sempre ingeria mais do que ganhava em peso e do que perdia em fezes, suor e urina. Parecia que parte da matéria que ingeria desaparecia, no que ele veio a chamar de uma “transpiração insensível”, uma alusão a uma perda por mecanismos que não conseguia medir.
Sanctorius usando a balança que criou para que pudesse medir mudanças de seu peso no decorrer do dia, e enquanto se alimentava
Alicia Kowaltowskié médica formada pela Unicamp, com doutorado em ciências médicas. Atua como cientista na área de Metabolismo Energético. É professora titular do Departamento de Bioquímica, Instituto de Química da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. É autora de mais de 150 artigos científicos especializados, além do livro de divulgação Científica “O que é Metabolismo: como nossos corpos transformam o que comemos no que somos”. Escreve quinzenalmente às quintas-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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