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Alicia Kowaltowski
Por que exercícios são pouco eficientes para perder peso
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Em uma coluna recente , comentei sobre um trabalho que estudou como o gasto de energia muda com a idade. Os resultados foram inesperados, mas muito bem suportados pelo número grande de pessoas estudadas, e uma técnica muito sensível para se estudar sua atividade metabólica. A extensa base de dados do grupo de milhares de pessoas em que se realizou este estudo está disponível agora para outras avaliações, e apenas algumas semanas depois, já temos novas publicações relacionadas. Duas destas se relacionam a exercícios físicos, e trazem resultados para os quais já havia alguma evidência na literatura anteriormente, agora confirmados em estudos muito robustos.
A má notícia é que, ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, a prática de exercícios físicos típicos de adultos normais (não estamos falando de atletas de alto desempenho) é uma péssima maneira de se perder peso. Isso ocorre porque o gasto de energia pela prática de exercícios físicos corresponde a cerca de 30% do nosso gasto de energia por dia, e é muito menor que o que o nosso corpo gasta para se manter vivo. O restante das calorias que usamos é necessário para atividades do nosso corpo que nos mantêm vivos, ou o chamado gasto energético basal. Órgãos como o fígado (que realiza grande número de transformações metabólicas de moléculas que comemos e armazenamos) e o cérebro (que nos faz pensar e coordena a função de nossos órgãos) gastam muito mais energia por dia que os músculos em exercício. Isso significa que a prática de exercícios contribui pouco para o gasto energético total.
Para piorar esse fato decepcionante, ao estudar o gasto energético total diário e medir em paralelo o gasto energético basal de mais de 1.700 adultos , verificou-se que existe uma compensação metabólica: quanto mais se gasta com exercícios físicos, menos gasto energético basal ocorre. Nossos corpos automaticamente economizam no uso basal toda vez que praticamos exercícios físicos. Em média, a compensação metabólica é de 28%. Isso significa que se você gastou 100 calorias com uma atividade física qualquer, seu gasto energético total no dia será apenas por volta de 78 calorias maior. O gasto de energia do exercício é compensado por mecanismos que ainda desconhecemos, mas que geram bastante interesse da comunidade científica, e que espero sejam melhor compreendidos logo.
Para piorar o fato de que existe essa compensação metabólica significativa, o estudo demonstra que a compensação metabólica é variável de acordo com a quantidade de peso que a pessoa poderia se beneficiar em perder. Enquanto a compensação de gasto energético basal é cerca de 28% para a maioria das pessoas com índices de massas corpóreas saudáveis, em pessoas obesas chega a 49%. Isso significa que quando uma pessoa obesa pratica exercícios físicos, metade das calorias gastas no exercício são compensadas por uma diminuição de gasto de metabolismo basal. Não sabemos, a partir destes estudos correlativos, se isso ocorre porque pessoas obesas já tinham uma tendência pessoal maior de ter essa compensação metabólica (explicando pelo menos em parte sua tendência a engordar), ou se desenvolvemos essa tendência de maior compensação metabólica à medida que engordamos. Mas o trabalho certamente demonstra quantitativamente que a prática de exercícios físicos é uma maneira muito pouco eficiente de se promover perda de peso, particularmente em pessoas com obesidade.
Boa notícia para os preguiçosos? Por mais abnegada que eu seja pessoalmente em relação à prática de atividades físicas, seria uma irresponsabilidade minha deixar de falar de seus benefícios cientificamente comprovados. Outro trabalho usando a mesma base de dados de atividades metabólicas verificou alterações de composição corporal de 2.000 pessoas em idades variando de três a 96 anos, e os correlacionou com atividade física. O estudo confirmou o já conhecido efeito da atividade física de aumentar a massa muscular. Também demonstra, quantitativamente, que o exercício previne a perda de músculos que sofremos com a idade mais avançada. Esse efeito é muito importante, pois há uma relação muito forte entre a preservação de nossos músculos e o envelhecimento saudável. Exercícios físicos também sabidamente têm efeitos benéficos para a saúde dos nossos ossos, sistema cardiovascular e cérebro durante o envelhecimento.
Alicia Kowaltowskié médica formada pela Unicamp, com doutorado em ciências médicas. Atua como cientista na área de Metabolismo Energético. É professora titular do Departamento de Bioquímica, Instituto de Química da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. É autora de mais de 150 artigos científicos especializados, além do livro de divulgação Científica “O que é Metabolismo: como nossos corpos transformam o que comemos no que somos”. Escreve quinzenalmente às quintas-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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