Têm ganhado popularidade dietas conhecidas como jejum intermitente, em que se restringe o horário das refeições para que se passe um número de horas significativo em jejum. Seus proponentes sugerem que manter o corpo em jejum por períodos mais extensos de tempo ajudaria o corpo a queimar seus estoques de gordura. Mas será que há comprovação científica para isso?

Para responder a essa pergunta, um grupo americano estudou 105 pacientes com sobrepeso ou obesos que passaram 12 semanas monitorando seu peso e horário de refeições, sem restringir a sua ingestão de comida ou alterar sua prática de exercícios físicos . Eles foram divididos em dois grupos: um foi orientado a fazer três refeições estruturadas durante o dia, nos horários convencionais, podendo fazer lanches leves entre eles. O outro grupo foi orientado a comer o que quisesse, mas somente entre o meio-dia e 20 horas, podendo apenas beber água, café ou chá puro entre as 20 horas e o meio-dia seguinte (praticando, portanto, 16 horas de jejum diariamente).

Após as 12 semanas, os membros dos dois grupos perderam em média menos de um quilo de peso, e não haviam diferenças entre os que fizeram jejum de 16 horas diariamente ou não em termos da quantidade de gordura corporal, pressão arterial ou níveis de glicose, triglicerídeos ou colesterol no sangue. No grupo que fez jejum, foram notadas algumas alterações de padrão de sono, uma diminuição significativa na movimentação espontânea diária e contagem de passos dos participantes, além de uma diminuição de massa magra (músculos), todos efeitos leves, mas indesejáveis. A conclusão do trabalho é que restringir o horário de refeições sem restringir calorias não é benéfico para a saúde nem promove expressiva perda de gordura corporal a curto prazo.

Mas o que aconteceria em períodos mais longos, e quando se usa dietas em que se restringe calorias ingeridas? Um trabalho recente acompanhou 118 pacientes chineses obesos por um ano. Todos foram colocados em dietas com restrição diária de ingestão calórica contendo um balanço nutricionalmente ideal de carboidratos, proteínas e lipídeos e controlada por aplicativos. Um grupo podia comer as calorias alocadas diariamente a qualquer momento do dia, enquanto outro grupo somente poderia ingeri-las entre as 8 e 16 horas, mantendo 16 horas de jejum diário. No final do trabalho, os dois grupos perderam peso, mas não houve nenhuma diferença entre eles em termos desta perda ou de outros parâmetros de saúde.

Juntos, esses trabalhos indicam que restringir os horários de refeições de modo a se manter em jejum várias horas por dia não ajuda na perda de gordura corporal nem na melhora da saúde. Em entrevista ao jornal The New York Times , o professor Ethan Weiss, autor do primeiro trabalho e praticante de jejum intermitente durante os sete anos anteriores ao seu estudo, disse que se convenceu de que jejuar não é um aliado do viver saudável, e que voltou a tomar café da manhã após analisar cuidadosamente seus próprios resultados. A sua família diz que ele agora é muito mais agradável. De fato, não devem ser ignorados os efeitos comportamentais de dietas restritivas, que podem ter um impacto sobre aspectos sociais importantes, como a realização de refeições em família.