Coluna

Claudio Ferraz

Polarização de crenças e seus efeitos sobre as políticas públicas

17 de março de 2022

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Precisamos entender como se formam as percepções sobre programas e iniciativas de governos para poder comunicar de forma clara seus benefícios

Em 11 de março a Petrobras aumentou o preço da gasolina e do diesel em cerca de 20%, como resposta à alta do preço internacional do petróleo. Essa decisão, extremamente impopular, fez com que as mídias sociais explodissem com críticas à política de preços da Petrobras. Não há dúvidas que um aumento do preço dos combustíveis é regressivo. Mas quando partimos para a discussão sobre políticas públicas que aliviam esses efeitos, a polarização domina.

Por um lado, muitos acreditam que o governo deveria subsidiar o preço da gasolina e do diesel beneficiando diretamente quem usa esse produto e quem é afetado pela variação de preço via cadeia produtiva. Por outro lado, algumas pessoas acreditam que um subsídio generalizado que reduzisse o preço da gasolina seria regressivo e que uma intervenção mais apropriada seria focalizada naqueles que são mais afetados pelo aumento de preço.

Qual é a origem dessas discrepâncias? Visões diferentes sobre políticas públicas podem ser geradas por compreensões diferentes dos efeitos de uma política, pelopeso diferente dado aos custos e benefícios ou por percepções distintas sobre quem paga a conta e se isso é justo ou não. Será que a razão pela qual as pessoas pensam de forma diferente importa?

A princípio, sim. Se as percepções diferentes são causadas pela falta de compreensão dos efeitos de uma política ou por pesos diferentes dados aos custos e benefícios é importante que essas informações sejam passadas para a sociedade da forma mais completa e neutra. Porém se as diferenças estão ligadas a preferências por justiça, por exemplo, a informação não mudará a forma como as pessoas pensam na formação de políticas públicas.

A economista Stefanie Stantcheva , da Universidade de Harvard, tem pesquisado nos últimos anos como são formadas as crenças e percepções sobre políticas públicas nos EUA. Num importante trabalho recente chamado “ Understanding economic policies: What do people know and learn? ”, ela estuda como o público entende, pensa e aprende sobre quatro tipos de políticas públicas relacionadas com: imposto de renda, impostos sobre heranças, plano de saúde e política comercial. O trabalho usa informações de pesquisas feitas online com aproximadamente 2.000 pessoas e experimentos aleatorizados que variam o tipo de informação que é dada para cada pessoa.

Claudio Ferrazé professor da Vancouver School of Economics, na University of British Columbia, Canadá, e do Departamento de Economia da PUC-Rio. Ele é diretor científico do JPAL (Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade de Stanford e no MIT.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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