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Notícias sobre tecnologia vão ficando cada vez mais assustadoras. Evito me aprofundar muito sobre o tema da inteligência artificial, embora já tenha falado do tema aqui. É um desses assuntos sobre os quais prefiro não pensar. E, de resto, não precisarei pensar também, por razões óbvias.
Eis que surge uma novidade capaz de dar calafrios não apenas em nós, humanos, mas nos próprios computadores também. Cientistas estão usando células, isto é, algum tipo de material orgânico, no lugar de chips de computador.
Aparentemente, as “inteligências organoides” , com seus neurônios de proteína, funcionam melhor do que o mais eficiente artefato de silício. Junte uma quantidade de células cerebrais, ou quase, numa placa de vidro. Elas se interconectam e resolvem cálculos, imagino que de trás para a frente e de cima para baixo, com mais criatividade e rapidez do que um pobre circuito chatinho, inerte, mineral.
Pequenos pudins de massa cinzenta se revelam, desse modo, melhores do que pessoas com treino em tabuada, o que não é dizer muito, mas também do que processadores gigantescos.
Tiro disso uma primeira conclusão, de sabor rousseauniano. O cérebro nasce inteligente; o ser humano é que o emburrece. A massa neuronal age melhor se desprovida de corpo, consciência, alma ou sentimento.
Marcelo Coelhoé jornalista, com mestrado em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo). Escreveu três livros de ficção (“Noturno”, “Jantando com Melvin” e “Patópolis”), dois de literatura infantil (“A professora de desenho e outras histórias” e “Minhas férias”) e um juvenil (“Cine Bijou”). É também autor de “Crítica cultural: teoria e prática” e “Folha explica Montaigne”, além de três coletâneas com artigos originalmente publicados no jornal Folha de S.Paulo (“Gosto se discute”, “Trivial variado” e “Tempo medido”).
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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