Tribuna

Áurea Carolina

O levante contra o governo da burrice

17 de maio de 2019

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A cada atitude truculenta, a cada malfeito, a cada agressão, a administração de Jair Bolsonaro desencadeia uma mobilização social cada vez mais potente

Ao tentar explicar com uma patética matemática de chocolates a decisão do governo Bolsonaro de patrocinar cortes no orçamento dos institutos e das universidades federais, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, expôs seu completo desdém pela educação e pela vida pensante no Brasil.

Além do valor enganoso do corte de 3,5% declarado na cena, que na realidade incidirá sobre cerca de 30% das despesas discricionárias para manutenção e serviços essenciais das instituições, a performance do ministro e do presidente da República não podia ser mais deplorável. Enquanto o ministro dizia que o recurso seria guardado para ser gasto depois, segurando três chocolates e meio, o presidente se afobou para comer com sofreguidão a outra metade do chocolate, entregando na literalidade da infeliz metáfora o contrário do que se dizia.

Rapidamente se acendeu uma ampla reação na sociedade brasileira contra essa política de desmonte da educação, na esteira de insatisfações com o desempenho e outras medidas do governo, tais como a reforma da Previdência e a flexibilização do porte de armas.

A resposta mais contundente veio no último 15 de maio, quando centenas de milhares de pessoas ocuparam as ruas em mais de 200 cidades de todo o país . O tsunami da educação foi um levante de jovens estudantes, professores e trabalhadores do setor, mas também de diversas outras expressões sociais, inclusive muita gente que não faz parte de movimentos organizados.

Dos Estados Unidos, país que venera, Jair Bolsonaro tratou de desqualificar os atos, chamando os manifestantes de “idiotas úteis” e “massa de manobra”. Na véspera, percebendo que os cortes poderiam ter um preço alto demais, o presidente recuou em conversa com líderes da sua base no Congresso Nacional, mas logo em seguida foi desmentido pela própria Casa Civil. Prevaleceu o interesse do poder econômico fiado por Weintraub, o ministro mãos de tesoura.

Áurea Carolina

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