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Sebastião Velasco
Este ensaio analisa a política externa de Jair Bolsonaro. O texto é o quarto de uma série sobre o governo federal em 2019 – e é parte de uma parceria entre o ‘Nexo’ e a Associação Brasileira de Ciência Política
Incredulidade. Essa seria a palavra mais adequada para descrever o sentimento do observador atento da política externa brasileira que despertasse, agora, depois de longo período de desfalecimento. Com efeito, como acomodar no mapa cognitivo construído ao longo de anos os fatos estampados nas manchetes que tem à sua frente?
“Brasil diz que governo Maduro é mecanismo do crime organizado”; “Paulo Guedes diz que ele e Bolsonaro amam os americanos”; “Em visita fora da agenda, Bolsonaro vai à CIA”; “Apoio de Bolsonaro a Pinochet complica Piñera em visita oficial ao Chile”; “Após visitar o museu do Holocausto, Bolsonaro diz que nazismo é de esquerda”.
Como nos filmes de animação, ele pisca os olhos e belisca o braço para certificar-se de estar de fato acordado…
Política externa? Cabe usar a expressão para falar da ação aparentemente desatinada do governo de turno nesse âmbito? A noção de política supõe a definição clara de objetivos e o traçado de linhas de conduta adequadas aos meios disponíveis e às circunstâncias para alcançá-los. Como encaixar nessa definição um padrão de comportamento caracterizado pelos referidos disparates e por medidas insólitas, como as concessões unilaterais anunciadas durante a visita de Jair Bolsonaro a Washington (como a abertura do mercado de trigo às exportações americanas e o abandono das vantagens da cláusula do tratamento especial e diferenciado na Organização Mundial do Comércio)? Isso para não falar da oferta anterior logo retirada da mesa por pressão militar — do território nacional para a montagem de base militar americana; da promessa de transferir a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém; e dos ataques gratuitos a parceiros de primeira grandeza, como China e França.
Seria esse o comportamento esperável de “um bando de loucos”? Ou haveria uma base racional para esses gestos e opiniões, ainda que não exposta em nenhum documento programático digno desse nome? Um princípio básico de análise política sugere que devemos explorar essa segunda hipótese.
Os artigos publicados no nexo ensaio são de autoria de colaboradores eventuais do jornal e não representam as ideias ou opiniões do Nexo. O Nexo Ensaio é um espaço que tem como objetivo garantir a pluralidade do debate sobre temas relevantes para a agenda pública nacional e internacional. Para participar, entre em contato por meio de ensaio@nexojornal.com.br informando seu nome, telefone e email.
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