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João Roberto Martins Filho
Este ensaio analisa a relação do presidente com os militares. O texto é o sexto de uma série sobre o governo federal em 2019 — e é parte de uma parceria entre o ‘Nexo’ e a Associação Brasileira de Ciência Política
A esfinge militar voltou a desafiar a política brasileira. Como não ocorria desde os anos 1980, nomes de generais da reserva como Mourão, Villas Bôas, Heleno, Santos Cruz — a lista é longa — voltaram a aparecer no noticiário, envolvidos nas sucessivas crises do governo de Jair Bolsonaro, seja como protagonistas, seja como parte de esforços para diminuir os danos (o porta-voz da Presidência, Rego Barros, é um general da ativa).
Ao contrário do período ditatorial (1964-1985), desta vez não são as tensões entre os próprios militares que chamam a atenção. É o choque entre o núcleo castrense do novo governo e uma ativa extrema direita civil. Esta tem um patrono, o polemista Olavo de Carvalho, apoiado pelos três filhos do mandatário e pelos titulares das pastas da Educação e do Itamaraty.
A posição do próprio presidente diante desse conflito é surpreendente. Ao ordenar comemorações nos quartéis no aniversário do golpe de 1964, Bolsonaro associou as Forças Armadas à ditadura militar de 1964-1985. Assustou-as ao deixar em suspenso uma possível intervenção na Venezuela ou a mudança da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém . Permitiu que seus filhos divulgassem diatribes de Olavo contra generais proeminentes do governo, num crescendo que está longe de ser interrompido.
É bom lembrar que, até há pouco, esse panorama não estava escrito nas estrelas. É unânime entre os estudiosos do tema que a mudança que levou os militares de novo ao Planalto foi de certa forma imprevista.
É possível vincular a aproximação entre militares e Bolsonaro a uma nova ideologia militar? Há quem diga que sim , e busque as origens da situação atual em ideias que há muito circulam na caserna. Em contraste, para o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim a caserna “não carrega hoje em dia uma ideologia pronta” , como em 1964.
Os artigos publicados no nexo ensaio são de autoria de colaboradores eventuais do jornal e não representam as ideias ou opiniões do Nexo. O Nexo Ensaio é um espaço que tem como objetivo garantir a pluralidade do debate sobre temas relevantes para a agenda pública nacional e internacional. Para participar, entre em contato por meio de ensaio@nexojornal.com.br informando seu nome, telefone e email.
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