Entrevista

Como o crescimento do nacionalismo promove a ‘desglobalização’

João Paulo Charleaux

16 de outubro de 2016(atualizado 28/12/2023 às 02h29)

Simon Evenett, especialista em comércio internacional, fala ao ‘Nexo’ sobre a retração no movimento de integração global iniciado nos anos 1990

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FOTO: JIM BOURG/REUTERS

Material de campanha com slogan de Donald Trump: ‘Faça a América Grande de Novo’

Bonés com slogan de Donald Trump: ‘Faça a América Grande de Novo’

Nos anos 1990, a palavra de ordem era “globalização”. Para seus entusiastas, sobretudo os defensores da liberalização da economia, se tratava de um avanço que levaria à partilha de tecnologias, bens e serviços no mundo. Para os críticos, tratava-se de um retrocesso predatório, que destruiria as indústrias nacionais e faria os investimentos migrarem para mercados mais precários e menos regulados, em busca de possibilidades maiores de lucro.

Na década atual, a ascensão de uma direita nacionalista vem acompanhada de uma repulsa à integração global —sendo o caso do Brexit o mais notável — e de um discurso que aponta para o fechamento das fronteiras e a aposta no mercado local como saída para a crise econômica, como demonstra o discurso de Donald Trump, nos EUA.

Por outro lado, a esquerda, que antes via a globalização com ressalvas, passou a defender a livre circulação de pessoas, o fortalecimento de blocos econômicos e políticos e a regulação cada vez maior dos assuntos nacionais por meio de organismos internacionais responsáveis pelo que se convencionou chamar de “governança global”.

A retração da integração é chamada por alguns estudiosos de “desglobalização”. Sobre o tema, oNexo entrevistou o acadêmico Simon Evenett, professor de Comércio Internacional e Desenvolvimento na Faculdade de Economia da Universidade de St. Gallen, fundada em 1898, na Suíça. Para ele, a “desglobalização” equivale a “mover os ponteiros do relógio no sentido inverso”.

Quais são os sinais de que há uma desglobalização em curso?

Simon Evenett Os defensores das políticas atuais de protecionismo diferem de país para país e de setor para setor. Mas, em setores como o aço, por exemplo, a oferta passou a superar a demanda, e houve tentativas de dumping [venda do excedente do produto abaixo da cotação real do mercado, para quebrar a concorrência]. Isso deu início a uma onda de investigações sobre concorrência desleal.

O baixo crescimento econômico induziu alguns governos a estimular as exportações por meio de um amplo leque de iniciativas de desoneração fiscal. Por fim, alguns governos adotaram políticas industriais agressivas e começaram a negar o acesso ao seu próprio tabuleiro para a ação das empresas estrangeiras.

O sr. interpreta a globalização como um fenômeno essencialmente positivo, enquanto a desglobalização é negativo. Por quê?

Simon Evenett De maneira geral a globalização tem sido uma força positiva no mundo, especialmente para os mercados emergentes que usaram a abertura da economia mundial para gerar exportações que produziram crescimento. Houve mudanças tangíveis no padrão de vida de muitas pessoas que vivem em mercados emergentes. A desglobalização seria, portanto, mover os ponteiros do relógio no sentido inverso.

Quais podem ser os efeitos da desglobalização para um país do Sul Global, para um país em desenvolvimento?

Simon Evenett A desglobalização limitaria as oportunidades de exportação por parte dos mercados emergentes, puxando para baixo o padrão de vida das pessoas. Menos tecnologia seria transferida por meio de investimentos internacionais diretos.

Qual a relação entre desglobalização e a ascensão da direita? É curioso que a esquerda fez nos anos 1990 uma grande crítica à globalização, mas agora a impressão é de que os papéis se inverteram.

Simon Evenett Forças nacionalistas captalizaram o descontentamento provocado pela fraca recuperação da crise econômica global. Nacionalistas culparam o comércio internacional e os estrangeiros pelo fracasso dos governos nacionais. É mais fácil culpar os outros do que encarar os próprios problemas.

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