Favoritos

Natalia Pasternak


01 de abril de 2023

A convite da seção ‘Favoritos’, a pesquisadora e comunicadora Natalia Pasternak indica cinco livros que ajudam a diferenciar ciência de pseudociência

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Comunicar ciência no Brasil não é tarefa fácil. E menos ainda, lecionar sobre comunicação de ciência e uso de evidências em políticas públicas. Foi somente quando comecei a lecionar sobre estes temas, primeiro no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e depois na Fundação Getúlio Vargas, que percebi a falta de livros em português sobre os temas. Aqui nos EUA, lecionando na Universidade de Columbia, tenho muito mais opções. No meu trabalho como presidente do Instituto Questão de Ciência, que promove ceticismo, pensamento crítico e políticas públicas baseadas em evidências, sinto a mesma dificuldade. Por isso, fiz questão aqui de selecionar cinco livros com edições em português que convidam a conhecer os conceitos de ciência e pseudociência, e a praticar pensamento crítico e racional.

O mundo assombrado pelos demônios

Carl Sagan (Trad. Rosaura Eichenberg, Companhia das Letras, 1996)

Parece incrível que um livro escrito há quase 30 anos ainda seja tão atual. Sagan ensina as bases do ceticismo, explorando como a ciência funciona e mostrando como a pseudociência distorce a racionalidade e a lógica para vender produtos e serviços. A história do falso médium “Grande Carlos” na Austrália nos anos 1980 é inesquecível – imagino como seria repeti-la nos dias de hoje.

Truque ou tratamento

Edzard Ernst e Simon Singh (Trad. Cláudio Batista Figueiredo, Record, 2013)

Único livro de Edzard Ernst traduzido para o português, a obra explica diversas práticas pseudocientíficas na área de saúde, como homeopatia, quiropraxia, acupuntura, aromaterapia e outras tantas formas de medicina alternativa. Os autores são extremamente didáticos e, sem fazer qualquer tipo de julgamento moral, trazem as evidências – ou a falta delas – para cada uma das práticas. Alertam, assim, para os perigos do uso da medicina alternativa, reafirmando a importância do pensamento científico para tomar decisões sobre saúde, seja na esfera pessoal ou pública.

A bailarina da morte

Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling (Companhia das Letras, 2020)

Se antes de ler o livro eu já era pessimista em relação à nossa capacidade de aprender com os erros do passado, imagine depois… As autoras fazem um mergulho histórico irretocável na gripe espanhola, escancarando como cometemos os mesmos erros mesmo após 100 anos, incapazes de olhar para trás buscando o aprendizado. As semelhanças entre os diversos negacionismos científicos e sociais daquela pandemia e da de covid-19 são assustadoras. Não sabia se ria ou se chorava quando li o nome do remédio milagroso propagandeado para a gripe do início do século 20: o cloroquinino.

Ciência e pseudociência

Ronaldo Pilati (Contexto, 2018)

Quem melhor do que um professor de psicologia social para explicar por que o ser humano acredita em bobagens? Se o célebre físico Richard Feynman já alertava para o fato de que as pessoas mais fáceis de enganar somos nós mesmos, Pilati nos explica quais são os mecanismos psicológicos e sociais que tornam esse autoengano tão comum e difícil de detectar. O autor mostra que nossas crenças são influenciadas por vieses cognitivos, falácias lógicas e normas sociais. E que o pensamento crítico e racional pode nos ajudar a separar a ciência da pseudociência.

Negacionismo e desafios da ciência

Carlos Orsi (Editora de Cultura, 2022)

Declaro meu conflito de interesse de ter o privilégio de dividir a vida com o autor, mas não se pode falar de jornalismo científico e comunicação de ciência no Brasil sem falar de Carlos Orsi. Sua obra mais recente em português traz com maestria e didatismo uma análise histórica, filosófica e conceitual do negacionismo científico, um termo que se tornou uma expressão da moda, ao qual cada um atribui o significado e o contexto que lhe convém. Desde o problema da demarcação entre ciência e pseudociência na filosofia, até a explicação do que é método científico e a diferença entre possível, plausível e provável, o autor faz uma introdução ao pensamento crítico que deixa um gostinho de “quero mais” ao terminar a leitura.

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