Favoritos

Bruno Levinson


15 de julho de 2023

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Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A convite da seção ‘Favoritos’, o jornalista e produtor cultural Bruno Levinson sugere livros não acadêmicos que abordam o consumo de drogas

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A humanidade busca desde sempre estados alterados da mente, seja qual for a cultura. Usamos drogas em rituais religiosos, com finalidades terapêuticas, para trabalhar, relaxar, nos divertir. Indico aqui cinco livros nada teóricos nem acadêmicos, de diferentes estilos literários, que têm em comum tratar a droga como um agente próximo, do cotidiano, que pode simbolizar vida e liberdade – mas também a morte. O importante é tirar a hipocrisia da sala e tratá-las como fatores culturais e comportamentais, e é isso que essas obras fazem.

Verão da lata

Wilson Aquino (Barba Negra/Leya, 2012)

 

 

No verão de 1987, um navio vindo de Cingapura com destino aos Estados Unidos fez uma escala no Rio de Janeiro. Na carga, trazia 22 toneladas de uma super maconha, acondicionada em latas de um quilo e meio, jogadas ao mar depois que os responsáveis suspeitaram estar sob a mira da Polícia Federal. Se você não se lembra disso, tente imaginar quando essas latas começaram a aparecer no litoral brasileiro,

do Rio até o Rio Grande do Sul. Um enorme cardume de latas de maconha! Quem pescou, jamais esqueceu. Conhecida como “verão da lata”, a história é contada pelo jornalista Wilson Aquino nesta bela edição com fotos, documentos e ilustrações.

Planet Hemp: Mantenha o respeito

Pedro De Luna (Belas Letras, 2018)

 

 

O Planet Hemp foi uma das mais instigantes, provocativas e criativas bandas do Brasil. Nesta biografia, acompanhamos as histórias da banda desde sua gênese: a amizade entre Marcelo D2 e o falecido Skunk, retratada no cinema em “Legalize Já”, de Johnny Araújo. A banda carioca marcou época não só pelo discos que vendeu, mas por seus versos provocadores (“não compre, plante”, “legalize já, é uma erva natural não pode te prejudicar”). Jogou luz não só na hipocrisia com que tratamos o assunto maconha, mas principalmente no direito à liberdade de expressão. O autor Pedro De Luna viveu bem de perto essa efervescência musical do início dos anos 1990, tendo biografado também o baixista Champignon, do Charlie Brown Jr., e o rapper Speed Freaks.

Moluscontos: Uma aventura canábica

Ulisses Oliveira (Moluscomix, 2020)

 

 

Um livro de contos protagonizado por Molusco, uma espécie de alterego de todos os maconheiros do Brasil que já fazia sucesso no Youtube antes de ganhar as páginas. Sua identidade é secreta graças a uma daquelas máscaras de luta livre de lutadores mexicanos. Em cada conto entramos com ele nas maiores roubadas canábicas, na companhia de Dentola, Sarcello, Otávio, Buga, Índio Maluco e outros amigos de fumaça. A edição é coisa de maluco! Maravilhosa! Cheia de ilustrações, papel grosso, capa dura. Daqueles livros para colocar em cima da mesa. Pode?

On the Road: Pé na estrada

Jack Kerouac (trad. Eduardo Bueno, LP&M, 2015)

 

 

Se meu desejo é indicar livros que tratem a droga de forma cultural e comportamental, não tem como não colocar na lista “On the Road”, clássico da geração beat americana. Arrisco dizer que ele foi um divisor de águas na forma de inserir o assunto drogas na literatura. Lançada originalmente em 1957, a obra nos faz cruzar os Estados Unidos de carona com os personagens Sal e Dean. No caminho tem muito álcool, drogas, sexo e um grande sentimento de liberdade. A sensação que temos ao ler o livro é de fazer parte do mesmo fluxo que fez Kerouac escrevê-lo numa tacada só, em 20 dias.

Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…

Kai Hermann e Horst Rieck (trad. Maria Celeste Marcondes, BestSeller, 2012)

 

 

Esse é daqueles livros que marcam época. Uma geração inteira, que hoje beira os 50 anos, ficou bem tocada com o relato verídico que a jovem alemã Christiane fez para os jornalistas Kai Hermann e Horts Rieck, contando sua incursão no mundo das drogas pesadas, álcool e assim na prostituição. Há também depoimentos da mãe e dos psicólogos da protagonista, numa história que depois foi para os cinemas num filme com participação de David Bowie. Meu intuito ao indicar essa obra é mostrar como o uso de drogas, como de quase tudo em geral, requer autoconhecimento. Drogas não são brincadeira, podendo não só matar, como desestruturar vidas e famílias.

Bruno Levinson é produtor cultural, formado em jornalismo. Está lançando o livro Baseado em papos reais, também é autor das biografias Vamos Fazer Barulho – Marcelo D2 e Não Se Preocupe Comigo – Marcelo Yuka; autor das peças teatrais A Entrevista e Cartão De Embarque (em parceria com Daniel Herz) e do romance O Início, O Princípio e O Começo. Como roteirista de TV participou de vários programas na TV Globo, Multishow, Canal Futura e Canal Curta. Na música, foi criador do Festival Humaitá Pra Peixe que revelou talentos como: Seu Jorge, Martnália, Planet Hemp, Maria Gadú, entre outros. Foi executivo das gravadoras Sony Music e Natasha Records e Diretor Artístico das rádios MPB FM e Oi FM, e produtor musical da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

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