Coluna

Denis R. Burgierman

Eu sou um corrupto

02 de fevereiro de 2017

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Na semana da prisão do Eike, o momento é de confissões. Aproveito então para fazer a minha

Oi, tudo bem? Prazer, meu nome é Denis. Eu sou um corrupto.

Não me olhe assim, vai. Juro que foi sem querer. Quer ver, julgue você mesmo. Escute minha história e ponha-se no meu lugar.

Sou um motorista cuidadoso, seguidor das regras. Mais ainda desde que passei a carregar no banco de trás cadeirinha para levar criança pequena. Dirijo pouco, já que sempre que posso prefiro pegar ônibus, metrô, caminhar ou pedalar. Ainda assim, um belo dia, chegou pelo correio para mim uma carta avisando que eu tinha um porrilhão de pontos por multas de trânsito e iria perder minha habilitação.

Eu não merecia a punição. Emprestei meu carro três vezes, e nas três dei azar. Meu cunhado recifense foi buscar a família no aeroporto e, sem conhecer bem o lugar, parou na área de desembarque para pegar as crianças e foi canetado. Meu pai, que cuidou do meu carro enquanto eu viajava ao exterior, levou duas multas, uma das quais bem estranha, já que era por falar ao celular no volante, sendo que meu pai não usava celular. Enquanto eu viajava, uma amiga minha que tinha uma kombi pegou meu carro emprestado para ir ao litoral e, desacostumada com a potência do carrão , levou duas multas de velocidade no caminho. Por vergonha e preguiça, não transferi os pontos de nenhuma dessas multas. Bobeei.

Só que eu não podia perder minha habilitação naquele momento. Minha mulher estava grávida do nosso segundo filho e eu não queria ficar sem poder dirigir na hora do parto. Então me informei sobre os procedimentos legais e preparei, sozinho, uma defesa, que, modéstia à parte, ficou bem boa. Juntei provas definitivas de que eu nem estava no país na data da maioria das multas, reuni cartas assinadas do meu cunhado, do meu pai e da minha amiga contando o ocorrido, expliquei o que tinha acontecido com clareza, autentiquei tudo em cartório e, no último dia do prazo, mandei ao Detran pelo correio (único jeito possível).

Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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