Expresso

Por que o grupo Boko Haram sequestra crianças na Nigéria

João Paulo Charleaux

15 de dezembro de 2020(atualizado 28/12/2023 às 13h02)

Grupo radical ataca escola e leva 300 estudantes no noroeste do país. Em 2014, sequestro de meninas pelos radicais ganhou repercussão mundial

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FOTO: SAHARA REPORTERS/REUTERS – 15.DEZ.2020

Shekau, líder do Boko Haram, de farda ao lado de homens armados e com rostos cobertos

Abubakar Shekau, líder do grupo extremista islâmico Boko Haram

O grupo radical islâmico Boko Haram assumiu nesta terça-feira (14) a responsabilidade pelo sequestro de 300 estudantes secundaristas de uma escola de Katsina, do noroeste da Nigéria.

O crime foi cometido no dia 11 de dezembro, quando dezenas de homens armados, usando motocicletas, atacaram a polícia local com fuzis e pistolas, antes de invadir a escola e fugir para a mata levando consigo os estudantes capturados.

Na mensagem de áudio em que reivindica a autoria desta ação mais recente, Abubakar Shejau, líder do grupo, explica que atacou a escola para desencorajar a “educação ocidental” no país. As vítimas do sequestro desta terça-feira (14) ainda não foram localizadas.

Sequestro de meninas em 2014

O grupo autor deste ataque é o mesmo que, em 2014, sequestrou mais de 270 meninas na cidade de Chibok, no nordeste da Nigéria, usando estratégia semelhante.

À época, Shejau, líder do grupo, disse que meninas a partir dos 9 anos já podiam se casar. As jovens foram convertidas ao islã, e algumas delas foram forçadas a casar com combatentes do grupo radical.

FOTO: JOE PENNEY/REUTERS – 11.MAI.2014

Mulheres sentadas em bancos de uma igreja rezam

Nigerianas rezam pela libertação de alunas sequestradas pelo Boko Haram

As meninas de Chibok, como ficaram conhecidas, tiveram destinos variados : algumas foram mortas, outras engravidaram dos guerrilheiros e muitas foram sendo libertadas em sucessivas operações de forças do governo ao longo dos anos, enquanto outras simplesmente conseguiram fugir e foram sendo encontradas de maneira esparsa até 2018.

O que move o Boko Haram

O nome Boko Haram é traduzido como “a educação ocidental é proibida” ou “a educação ocidental ou não-islâmica é um pecado”. O grupo foi fundado em 2009 e, desde então, foi responsabilizado pela morte de 36 mil pessoas na Nigéria

Em massacre recente, pelo menos 110 civis foramcruelmente assassinados”, no vilarejo nigeriano de Koshobe, no dia 28 de novembro. De acordo com Edward Kallon, coordenador humanitário da ONU (Organização das Nações Unidas) na Nigéria, as vítimas foram amarradas e degoladas por membros do grupo.

O Boko Haram tenta obter o controle sobre o norte da Nigéria, na África Ocidental, implementando um regime teocrático governado com base na sharia – nome dado à interpretação extremista dos preceitos do Islã.

A forma como o grupo rebelde interpreta e aplica as leis islâmicas é desaprovada e criticada pelas maiores autoridades religiosas da Nigéria, de maneira que o grupo constitui uma facção radicalizada, tal como o Estado Islâmico na Síria e no Iraque.

Alistamento forçado

Nas palavras de seu líder, Shejau, as ações violentas do grupo são uma forma de promover o islã e combater os valores ocidentais. Na prática, os sequestros de meninos são uma forma de aliciamento forçado de novos combatentes.

Jovens que conseguem fugir ou são libertados contam terem sido obrigados a pegar em armas e executar pessoas contra a própria vontade. O desligamento do grupo não representa o fim dos problemas para esses meninos, que passam a serem vistos com desconfiança pelo governo, que vê em alguns deles uma atitude colaboracionista com o Boko Haram.

Após o rapto dos 300 alunos da escola de Katsina, o governo ordenou a suspensão das aulas e o fechamento de todas as escolas da região, como uma forma de prevenir novos ataques.

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