O site que conta histórias de indígenas mortos pela covid
Mariana Vick
28 de dezembro de 2020(atualizado 28/12/2023 às 13h03)Iniciativa ‘Memorial Vagalumes’ reúne perfis e biografias compartilhadas por familiares das vítimas. Povos tradicionais estão entre os mais afetados pela pandemia no país
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Indígena visita o túmulo do pai, morto por covid-19, em cemitério de Manaus
A plataforma Memorial Vagalumes reúne histórias de vida e fotografias de indígenas que viviam no território brasileiro e foram mortos pela covid-19, doença causada pelo novo coronavírus .
A iniciativa cria as histórias a partir do relato de pessoas próximas das vítimas e nasceu com o objetivo de homenagear os mortos, preservando parte de sua memória. A plataforma reuniu mais de 40 perfis desde o início da crise.
Entre as histórias do site está a de Laureano Cordeiro, mestre do povo Waikhana (Pira-Tapuia) que vivia no noroeste da Amazônia e morreu de covid-19 em maio. Ele era um benzedeiro (kumu) reconhecido e grande transmissor das histórias e dos conhecimentos de seu povo, segundo texto do memorial.
A iniciativa também conta a história de Bernaldina José Pedro, conhecida como Meriná, que vivia na terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. O texto, baseado na homenagem de um neto, a descreve como “uma mulher que parece ter sido gerada em um favo de mel de tão doce criatura”.
A plataforma foi lançada em junho numa parceria entre a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e a Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana. As histórias são colhidas e redigidas por voluntários das áreas de jornalismo, antropologia, história, entre outras.
É possível navegar pelo site do memorial e encontrar, além das histórias das vítimas, informações sobre o estado da pandemia de covid-19 entre os povos indígenas e iniciativas solidárias que estão aceitando doações para dar apoio às comunidades neste momento.
O nome do projeto, “Vagalumes”, faz referência à ideia de vagalumes do filósofo francês Georges Didi-Huberman, que, inspirado no cineasta Pier Paolo Pasolini, fala sobre a representação do brilho sutil como forma de resistência cultural e política.
A pandemia do novo coronavírus teve grande impacto sobre os povos indígenas brasileiros. Com acesso precário ao sistema de saúde, menos condições de se proteger da covid-19 e sem assistência do governo federal, eles têm registrado maiores índices de mortalidade pela infecção do que outros grupos do país.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil contabiliza 889 indígenas mortos e 41.509 infectados em 161 povos do país até quinta-feira (10). O Ministério da Saúde, que considera apenas os dados de indígenas que vivem em terras tradicionais — excluindo os que não estão aldeados, como os que vivem nas cidades —, conta 496 óbitos e 35.607 casos de covid-19 até a mesma data.
Entre dos povos indígenas na pandemia entre está o alto índice de mortes de idosos, que são grupo de risco para o novo coronavírus. Os óbitos têm desorientado as comunidades , que veem os anciãos como autoridades morais, conselheiros espirituais e detentores de conhecimento e memória.
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