Expresso

Quais os riscos da coinfecção pelo coronavírus

Cesar Gaglioni

04 de março de 2021(atualizado 28/12/2023 às 22h59)

Estudo de pesquisadores brasileiros identificou dois casos de contaminação simultânea por variantes distintas

O Nexo depende de você para financiar seu trabalho e seguir produzindo um jornalismo de qualidade, no qual se pode confiar.Conheça nossos planos de assinatura.Junte-se ao Nexo! Seu apoio é fundamental.

FOTO: NIMAR-IRLD/REUTERS

Imagem microscópica do novo coronavírus

Imagem microscópica do novo coronavírus

Cientistas brasileiros foram responsáveis pelo primeiro estudo que detectou casos de coinfecção pelo novo coronavírus – a contaminação de um indivíduo por duas variantes distintas do agente patogênico.

O estudo foi liderado por microbiólogos da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS). O artigo foi divulgado no dia 22 de fevereiro na revista científica Virus Research, da Elsevier, um dos principais veículos de publicações científicas do mundo.

O estudo e as descobertas

O estudo foi feito a partir do sequenciamento genético dos vírus presentes em 92 pacientes, vindos de 40 municípios do Rio Grande do Sul. Os voluntários tinham entre 14 e 80 anos, e as amostras nasais foram coletadas entre os dias 23 e 30 de novembro de 2020.

Originalmente, a pesquisa tinha como objetivo determinar quais as variantes do coronavírus presentes no estado. Porém, no processo, foi detectada a presença de duas linhagens do vírus em duas pacientes – de 32 e 33 anos. É a primeira comprovação de que a coinfecção é possível. Até então, essa ideia estava apenas no campo das hipóteses .

Em uma dessas pacientes foram identificadas duas cepas do vírus que circulam no Brasil desde o início da pandemia, em março de 2020. Na outra, além de uma linhagem mais antiga, foi encontrada a chamada variante P.2 , identificada oficialmente pela primeira vez no Rio de Janeiro em fevereiro, potencialmente mais transmissível.

Em ambos os casos, as mulheres se recuperaram plenamente, sem sequelas e sem a necessidade de internação. Contudo, a identificação da coinfecção chamou a atenção pelos riscos presentes em casos como esses.

Os riscos

Até o momento, não foi identificada uma relação entre a coinfecção e o agravamento da doença.

O principal risco da coinfecção é o surgimento de novas variantes do coronavírus, que podem vir a ser mais transmissíveis e mais mortais .

“Vamos imaginar que, com a circulação desenfreada do vírus, essas duas variantes se encontrem no mesmo indivíduo. A recombinação do genoma pode dar origem a uma variante com as duas características: mais transmissível e mais agressiva, características que tornariam o controle ainda mais difícil”, afirma ao jornal O Estado de S. Paulo o virologista Fernando Spilki, um dos autores do estudo.

Os vírus são considerados parasitas obrigatórios , ou seja, só sobrevivem se estiverem em um organismo hospedeiro, onde se reproduzem, como forma de continuarem existindo.

Com o passar do tempo, vacinas e tratamentos vão surgindo, e o próprio corpo dos indivíduos passa a apresentar respostas imunológicas que combatem a presença dos vírus.

Os agentes infecciosos então precisam achar formas de se adaptar e criar mecanismos para continuarem se espalhando. Na maior parte dos casos, tais adaptações são feitas a partir de mutações espontâneas – surgidas de mudanças bruscas no genoma viral.

Em outros casos, as adaptações são mais rápidas e aperfeiçoadas, já que surgem do encontro de duas linhagens virais distintas, que se comunicam entre si e absorvem as melhores características uma da outra a fim de criar uma cepa mais resistente e com melhor capacidade de reprodução.

Variantes mais transmissíveis e mais agressivas podem agravar o quadro da pandemia no Brasil e no mundo. Há também o risco dessas mutações conseguirem driblar a imunização promovida por vacinas – o que, segundo Spilki, só reforça a necessidade de uma campanha de vacinação massiva rápida e ampla.

“A vacinação em massa é fundamental, e quanto mais rapidamente acontecer, menor a chance do surgimento dessas novas variantes”, disse, também a’O Estado de S. Paulo.

O aparecimento de tais variantes também poderia fazer aumentar os casos de reinfecção – quando uma pessoa curada é contaminada novamente.

Os pesquisadores da Universidade Feevale argumentam no artigo que são necessárias mais pesquisas para analisar a frequência numérica de coinfecções e também estudos que monitorem o possível surgimento de novas variantes.

“Entender a filodinâmica [padrões de comportamento do vírus], a estrutura populacional e a complexidade genômica do Sars-CoV-2 [nome científico do vírus] é uma estratégia poderosa para estabelecer medidas de saúde pública para controlar sua disseminação”, diz o artigo.

NEWSLETTER GRATUITA

Nexo | Hoje

Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Gráficos

nos eixos

O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Navegue por temas