FOTO: TON MOLINA/REUTERS

Luiz Inácio Lula da Silva é o candidato do PT à Presidência da República nas eleições de 2022. Nasceu em Garanhuns, no agreste pernambucano, em 27 de outubro de 1945. Tem, portanto, 76 anos.

É filho de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo, um casal de lavradores que teve oito filhos. Seus pais se separaram e, depois, Aristides teve outros dez filhos. Lula é pai de cinco, Lurian, fruto do relacionamento com uma namorada, e Marcos Cláudio, Fábio Luís, Sandro Luís e Luís Cláudio, da união de décadas com a ex-primeira-dama Marisa Letícia. Atualmente, ele é casado com a socióloga Rosângela da Silva.

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é o patrimônio declarado por Lula ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2022

O que fez até disputar a primeira eleição

Após a infância pobre no agreste de Pernambuco, Lula e a família se mudaram para São Paulo. Ele começou a trabalhar ainda menino, em atividades como ambulante e engraxate.

Quando concluiu o ensino fundamental, já vivendo na capital paulista, conseguiu emprego em uma fábrica de parafusos e, mais tarde, formou-se torneiro mecânico pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Com 17 anos, arranjou trabalho numa metalúrgica. Lá, em 1963, teve o dedo mínimo decepado após um colega cochilar e soltar a prensa que operava. Depois, durante o regime militar (1964-1985), Lula foi trabalhar em uma montadora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Em 1967, ingressou no Sindicato dos Metalúrgicos por influência de um de seus irmãos, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro. Em seguida, aos 23, casou-se pela primeira vez com Maria Lourdes da Silva, que morreu dois anos depois. Seu segundo casamento foi na década de 1970, com Marisa Letícia , que morreu em fevereiro de 2017, aos 66 anos.

Como líder sindical, Lula esteve à frente das principais greves gerais do país no fim dos anos 1970, um dos períodos mais violentos da ditadura. Em razão de sua atuação sindical, ele foi preso em abril de 1980 por desrespeito à Lei de Segurança Nacional e ficou 31 dias no Dops (Departamento de Ordem Política e Social).

O ativismo sindicalista marcou o início da trajetória política de Lula, berço também da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do Partido dos Trabalhadores , lançado em fevereiro de 1980.

Os cargos políticos que ocupou até aqui

Lula, depois de comandar sindicatos diversos, conquistou o primeiro cargo eletivo em 1986, como deputado federal constituinte. Na formulação da nova Constituição de 1988, o então parlamentar atuou principalmente pela aprovação de direitos trabalhistas.

Após ser derrotado em três campanhas presidenciais, em 1989, 1994 e 1998, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, em 2002, o 35º presidente da República. Impulsionado por conquistas sociais, em especial pelo programa Bolsa Família , reelegeu-se em 2006. Em 2010, conseguiu eleger como sucessora sua então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também do PT, e deixou o cargo com 83% de aprovação popular , segundo o Datafolha, um recorde histórico.

Os oito anos de governo do petista ficaram lembrados, de um lado, por índices que registraram crescimento econômico, criação de emprego e redução da miséria, e, de outro, também pelo escândalo do mensalão, revelado em 2005.

A denúncia do esquema de compra de apoio político na Câmara não comprometeu a reeleição de Lula em 2006, mas se mostraria, anos depois, como embrião de um escândalo maior, revelado pela Operação Lava Jato , em março de 2014.

No curso das investigações sobre desvios na Petrobras tocadas pela Lava Jato, Lula foi acusado de ser beneficiado e de liderar o esquema em que partidos recebiam propinas em troca de favores a empreiteiros – políticos e parlamentares dos mais diversos partidos foram investigados e/ou acusados em decorrência da operação.

Nesse contexto, somado a uma crise política, Dilma sofreu impeachment , não por denúncias de corrupção, mas por acusações de manobras fiscais . O PT entrou em uma crise profunda e sofreu uma dura derrota nas eleições municipais de 2016.

FOTO: PAULO PINTO/FOTOS PÚBLICAS

Em julho de 2017, Lula foi condenado à prisão pelo então juiz federal Sergio Moro . No início de 2018, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmou a condenação, impondo ao petista uma pena de 12 anos e 1 mês de detenção. No dia 7 de abril de 2018, Lula foi preso .

“Eu vou lá [para a prisão] com a crença de que vão descobrir o que tenho dito todo dia. Eles não sabem que o problema deste país não se chama Lula, chama-se vocês, a consciência do povo. Não adianta tentar evitar que eu ande por este país. Porque tem milhões de Boulos, de Manuelas e Dilmas para andar por mim. (…) Meu coração baterá pelo coração de vocês. São milhões de corações. (…) Eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia. Uma ideia misturada com as ideias de vocês”

Lula

durante discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, São Bernardo do Campo, antes de se entregar à Justiça

Qual sua trajetória partidária

– PT : Partido dos Trabalhadores (1980-até hoje)

A trajetória partidária de Lula resume-se ao PT, único partido ao qual foi filiado. O sindicalista disputou uma eleição pela primeira vez em 1982, ao governo de São Paulo, em que ficou em quarto lugar, com 10,7% dos votos. Quatro anos depois, foi eleito para a Assembleia Nacional Constituinte.

Em 1989, disputou pela primeira vez a Presidência, sendo derrotado no segundo turno por Fernando Collor de Mello (PRN, na época). De volta à Câmara, Lula encerrou seu mandato como deputado federal em 1991.

Fora do parlamento, o petista deu início a ações que serviram para mantê-lo em evidência, em especial graças às “Caravanas da Cidadania” , em 1993, viajando por centenas de cidades em todo o país.

As viagens, pautadas por um discurso de combate à corrupção, a privilégios e à fome, serviram de base para a campanha presidencial de 1994. O petista foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que venceu embalado pelo lançamento do Plano Real. O desfecho foi o mesmo nas eleições seguintes, de 1998.

FOTO: JAMIL BITTAR/REUTERS – 08.11.2002

Em 2002, quando Lula foi enfim eleito, a campanha ficou lembrada pelo estilo “paz e amor”. Com um discurso mais ameno , o ex-torneiro mecânico conseguiu superar a resistência de parte do eleitorado e do setor financeiro a votar em um ex-líder sindical filiado a um partido de esquerda.

Lula e o PT são classificados como representantes da centro-esquerda. Tendo como base movimentos sociais e dos trabalhadores, a sigla surgiu associada a ideias de um “socialismo democrático”, tentando se contrapor a regimes socialistas autoritários. Aos poucos, na medida em que o partido se organizava na busca pela conquista da Presidência, a legenda ganhou contornos mais pragmáticos.

A mudança foi se refletindo nas campanhas eleitorais de Lula à Presidência. De “trabalhador vota em trabalhador”, slogan de 1982, o PT apostou em “a esperança vai vencer o medo”, em 2002. Ao lado de um vice empresário, José de Alencar, Lula prometeu manter as bases da política econômica de Fernando Henrique, ao mesmo tempo em que assegurava uma gestão voltada aos mais pobres. No poder, para formar maioria no Congresso, também buscou apoio de legendas identificadas mais à direita.

“Eu nunca fui comunista e anticomunista. Quando o PT nasceu, a gente já nasceu combatendo o tipo de socialismo que existia no leste europeu, a questão do partido único, da falta de liberdade. (…) O PT nem pode ser aquilo que a direita quer, nem pode ser aquilo que a esquerda quer. O PT está no ponto, ou seja, o PT tem um ponto de equilíbrio”

Lula

em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1994

Como se posicionava nas eleições de 2018

Mesmo na prisão, Lula foi o candidato do PT à presidência nas eleições de 2018 até 31 de agosto daquele ano. A candidatura do político, porém, foi rejeitada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que o tornou inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.

Assim, Fernando Haddad foi o nome escolhido como plano B do partido, substituindo Lula na campanha em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno. A chapa encabeçada pelo ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo teve como vice a ex-deputada estadual pelo Rio Grande do Sul Manuela d’Ávila, do PCdoB.

Lula e o Partido dos Trabalhadores se posicionaram contra a decisão judicial, mas seguiram com a campanha contra o principal adversário, Jair Bolsonaro (PSL, na época), que, pouco depois, sagrou-se o vencedor daquela disputa.

“ Os tribunais proibiram minha candidatura à Presidência. Na verdade, proibiram o povo brasileiro de votar livremente para mudar a triste realidade do Brasil. Estou indicando ao PT e à coligação a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que desempenhou com extrema lealdade a posição de vice”

Lula

em carta escrita da prisão e lida pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, ao anunciar Haddad como candidato do partido em 2018

O que fez desde 2018

O ex-presidente e atual candidato passou 580 dias detido na sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, a partir de abril de 2018.

Em fevereiro de 2019, a juíza substituta Gabriela Hardt condenou Lula em outro processo , envolvendo um sítio em Atibaia. Dois meses depois, em uma decisão unânime, a Quinta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu manter a condenação do petista no caso tríplex, mas reduziu a pena de prisão de 12 anos e 1 mês para 8 anos e 10 meses.

Também em abril daquele ano, Lula deu sua primeira entrevista na prisão . Aos jornais Folha de S.Paulo e El País, ele reafirmou sua inocência e disse que o Brasil estava sendo governado por um “bando de malucos”, em referência a Bolsonaro e sua equipe.

FOTO: RODOLFO BUHRER/REUTERS – 08.11.2019

Em junho de 2019, o site The Intercept Brasil começou a revelar uma série de diálogos entre procuradores da Lava Jato e Sergio Moro , quando ainda era juiz. As conversas via aplicativo Telegram colocaram sob suspeita os procedimentos da operação.

Já em outubro de 2019, o STF (Superior Tribunal Federal) começou a julgar ações que contestavam as prisões após condenações em segunda instância. O julgamento foi concluído em 7 de novembro de 2019. Por 6 votos a 5, os ministros derrubaram a determinação de prender um condenado após a segunda instância, adotada em 2016, e abriram caminho para a liberdade de Lula, assim como de outros quase 5.000 condenados.

Ele foi solto no dia seguinte à decisão, em 8 de novembro de 2019. Em frente à carceragem da PF curitibana, centenas de apoiadores se concentraram para acompanhar a saída do petista da cadeia. Parte deles ficou de vigília no entorno da prisão durante esses um ano e sete meses.

O ano de 2021 marcou uma reviravolta nas situações jurídica e política de Lula. O ex-presidente retomou seus direitos políticos em março daquele ano, com a anulação dos casos julgados em Curitiba. O Supremo concluiu que o político não deveria ter sido julgado na capital paranaense, pois seus casos não tinham relação direta e exclusiva com a Petrobras, que era foco da Lava Jato no Paraná. Moro, que chegou a ser ministro da Justiça de Bolsonaro, também foi considerado parcial nos processos que conduziu contra Lula.

Em janeiro de 2022, a Justiça Federal determinou o arquivamento da ação penal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do apartamento tríplex no Guarujá, encerrando definitivamente o processo que o levou à prisão.

No mês de maio, Lula casou-se com a socióloga Rosângela Silva, conhecida como Janja , com quem iniciou um namoro pouco antes de ser preso.

Entre a soltura da detenção até a oficialização da candidatura , em julho de 2022, Lula já aparecia como favorito nas pesquisas eleitorais para a corrida presidencial de outubro deste ano. Já candidato , o petista vem liderando os levantamentos realizados com eleitores, como o do Datafolha divulgado em 17 de agosto, que mostra Lula com 47% das intenções de voto , contra 32% do segundo colocado, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já no primeiro dia da campanha , em 16 de agosto, o candidato visitou uma fábrica em São Bernardo do Campo, região que é o berço do sindicalismo paulista, e discursou a operários do setor automotivo. Ali, Lula afirmou que o atual presidente foi possuído pelo demônio e que tenta manipular os evangélicos.

O petista também criticou a condução da pandemia de covid-19 no Brasil, dizendo que Bolsonaro não “derramou uma lágrima pelas vítimas”. “Você [Bolsonaro] foi negacionista. Não acreditou na ciência, na medicina. Você acreditou na sua mentira. Se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro”, disse. A frase foi uma resposta a um vídeo publicado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em 9 de agosto, que tenta associar o petista a “trevas”.

Os pontos fracos

O ANTIPETISMO

A sucessão de escândalos de corrupção, principalmente após a Lava Jato, desgastou a imagem pública do PT . Entre 2015 e 2016, algumas das maiores manifestações políticas tiveram como alvo a saída do PT do governo e críticas a Dilma e a Lula.

ALVO DE FAKE NEWS

Lula costuma ser alvo de campanhas de desinformação , que divulgam boatos e mentiras nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens, fato que pode tirar alguns votos de indecisos.

EVANGÉLICOS

Ao contrário de seu principal oponente, Jair Bolsonaro, Lula não tem uma boa entrada no meio evangélico, fatia do eleitorado sempre disputado nos pleitos. Segundo o Datafolha , o atual presidente da República tem 43% das intenções de voto entre esse público, enquanto o petista tem 33%.

Os pontos fortes

LÍDER NACIONAL

Lula é o principal nome do PT e um dos mais tradicionais políticos do Brasil, nacionalmente conhecido, e que tem um discurso de forte apelo popular. Sua maior força nas eleições está no Nordeste, importante colégio eleitoral do país.

MEMÓRIA POLÍTICA

O ex-presidente deixou o Planalto com recordes de aprovação. O crescimento da economia durante o seu governo, somado à sua imagem conhecida, dão a Lula um capital político forte, o que explica em parte o desempenho do petista nas pesquisas de intenção de voto , mesmo após a Lava Jato.

AMPLA ALIANÇA

O PT tem uma estrutura bem organizada e, para o pleito de 2022, vem com o apoio de mais nove partidos, formando assim a maior aliança desta disputa ao Planalto. Juntam-se aos petistas, PCdoB e PV, que formaram a federação Brasil da Esperança com o PT, além de Pros, PSB, PSOL, Rede, Solidariedade, Avante e Agir (antigo PTC).

Quem é seu vice

FOTO: CARLA CARNIEL/REUTERS

Em abril de 2022, Geraldo Alckmin , hoje no PSB , foi indicado para vice da chapa de Lula. Meses antes, em dezembro de 2021, o ex-governador de São Paulo deixou o PSDB após 33 anos filiado à sigla. As tratativas entre eles ocorrem desde a desfiliação do Partido da Social Democracia Brasileira. Antigo adversário político do ex-tucano, Lula disse que as diferenças entre os dois deveriam ser vencidas, e que gostaria de ter como vice um “contraponto” para ampliar o diálogo com a sociedade.

Os dois chegaram a disputar diretamente a Presidência da República em 2006, numa campanha repleta de agressões verbais – Alckmin tentou a Presidência também em 2018 , mas não chegou a 5% dos votos. Nos últimos meses de 2021, entretanto, passaram a fazer acenos mútuos até fecharem uma aliança.

Alckmin nasceu em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, em 7 de novembro de 1952. Tem, portanto, 69 anos. Aos 19, entrou para a Faculdade de Medicina em Taubaté e, ainda no primeiro ano de curso, envolveu-se com a política partidária.

Em 1972, filiou-se ao MDB – ficou na legenda até 1988, quando migrou para o PSDB – e, a partir dali, só ficou sem cargo eletivo por alguns meses em 1982 e nos quatro anos entre 2006 e 2010. De lá para cá, foi governador de São Paulo, vice-governador, deputado federal, deputado estadual, prefeito de Pindamonhangaba e vereador.