A categoria que busca incentivar a entrada de mulheres na Fórmula 1
Lucas Zacari
13 de agosto de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h28)F1 Academy quer ser uma espécie de divisão de base para esporte, que é historicamente masculino. Projetos anteriores não foram para frente por falta de investimento
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Susie Wolff, ex-piloto de testes da equipe Williams e atual diretora administrativa da F1 Academy, durante o GP de Silverstone de 2005, na Inglaterra
A temporada de 2024 da F1 Academy, categoria automobilística voltada exclusivamente para mulheres, terá participação das 10 equipes da Fórmula 1 . Anunciada em 26 de julho, a iniciativa tenta aproximar os dois campeonatos, que também passam a seguir um mesmo calendário.
Criada em 2023 pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), a F1 Academy tem o intuito de desenvolver e preparar mulheres para a Fórmula 1. A participação histórica feminina na principal categoria do esporte é praticamente nula: em 73 anos de corridas, somente cinco mulheres conduziram carros de Fórmula 1 em provas oficiais.
Neste texto, o Nexo explica o que é a F1 Academy e apresenta o panorama da participação feminina nas etapas da Fórmula 1.
A F1 Academy não é a primeira iniciativa voltada exclusivamente para o automobilismo feminino internacional. Em 2019, a britânica Catherine Bond Muir, advogada esportiva, criou a WSeries , categoria voltada para mulheres que também tinha o objetivo de ser um caminho para a Fórmula 1. Em três anos, 22 corridas foram disputadas, mas a temporada de 2022 foi interrompida por falta de investimento .
O encerramento teria ocorrido pela desistência de um patrocinador. Em junho de 2023, a empresa mantenedora da WSeries, que tinha dívidas maiores que o patrimônio, pediu recuperação judicial .
Quando a temporada feminina foi interrompida, em outubro de 2022, o piloto britânico Lewis Hamilton fez críticas à falta de investimentos na formação de pilotos mulheres por parte da F1.
“Durante toda a história da Fórmula 1, não houve um enfoque suficiente às mulheres no esporte, e não há ênfase suficiente nisso agora. Eles não estão ampliando o grande trabalho que está sendo feito lá. Não há representação suficiente em todos os setores, dentro da indústria. E não há realmente um caminho para essas pilotos jovens e incríveis chegarem à Fórmula 1”
No mês seguinte à cobrança do heptacampeão mundial, a Fórmula 1 e a FIA anunciaram a F1 Academy . A categoria foi pensada como uma divisão de base exclusivamente feminina , assim como categorias regionais de Fórmula e da Fórmula 4, em que há a presença mista de homens e mulheres.
Diferentemente da WSeries, em que existe uma idade mínima de 17 anos para as participantes, a F1 Academy limita a idade das condutoras entre 16 e 25 anos . Nela, jovens terão mais tempo de pista, além de preparo físico, técnico e mental para a chamada Rota para a F1 .
F1 Academy creates a new avenue for the next generation of young female drivers 📈#F1Academy pic.twitter.com/xdHOP1nxsx
— F1 Academy (@f1academy) February 1, 2023
O mais comum nesse caminho é que os pilotos da Fórmula 1 sejam provenientes da F2 e da F3 (Fórmula 2 e Fórmula 3, respectivamente). Na temporada de 2023, somente a alemã Sophia Floersch está competindo nas categorias superiores – e recentemente se tornou a primeira mulher a marcar pontos na F3.
A temporada atual da F1 Academy conta com cinco equipes (ART Grand Prix, Campos Racing, MP Motorsport, PREMA Racing e Rodin Carlin), cada uma com três pilotos. Esses times também estão na F2 e na F3, o que pode auxiliar a entrada das condutoras nesses campeonatos.
A temporada atual da F1 Academy já teve seis das sete etapas. A última do ano será entre os dias 19 e 21 de outubro em Austin, no Texas, e acontecerá no mesmo final de semana do GP dos Estados Unidos da Fórmula 1. A espanhola Marta García é a favorita para a conquista do título, contando atualmente com 235 pontos – 48 a mais do que a segunda colocada, a suiça Léna Buhler.
Para 2024, a expectativa da F1 Academy é que o número de carros disputando a temporada seja dobrado. Das 15 pilotos do grid atual, dez serão distribuídas entre as escuderias vindas da Fórmula 1. As cinco restantes serão distribuídas por outras equipes que ainda serão anunciadas. Para completar as 30 pilotos, as cinco equipes atuais irão trazer novos talentos para a condução dos veículos.
A nova geração da categoria pode surgir do programa F1 Academy Discover Your Drive , lançado em junho. O objetivo do programa é ampliar a entrada de mulheres no esporte, tanto dentro quanto fora das pistas.
A iniciativa se junta a outro modelo de captação de talentos femininos adotado pela FIA, o Girls on Track Rising Stars . Em conjunto com a academia de pilotos da equipe Ferrari, o programa está em sua quarta edição e busca encontrar talentos promissores entre 12 e 16 anos ao redor do mundo.
Apesar das novidades, jornalistas especializados em automobilismo entendem que a F1 Academy está se escondendo . Enquanto as categorias F2 e F3 são transmitidas pelo canal oficial da Fórmula 1, as corridas da F1 Academy não têm transmissão. A FIA produz apenas um vídeo com os melhores momentos, publicado posteriormente à etapa.
No regulamento da Fórmula 1 , não há distinção ou proibição para a participação feminina nas corridas. No entanto, o ambiente majoritariamente masculino do automobilismo deu poucas oportunidades às mulheres na história da modalidade.
Desde 1950, quando a Fórmula 1 começou, mais de 800 pilotos já conduziram um carro de corrida em etapas da F1. Desse total, somente cinco mulheres disputaram como pilotos oficiais, sendo que a última vez em que isso aconteceu foi em 1992 .
Também há mulheres que alcançaram o posto de piloto de testes nas principais equipes. A escocesa Susie Wolff, por exemplo, atual diretora administrativa da F1 Academy , ocupou o cargo na equipe Williams entre 2012 e 2015.
Maria Teresa de Filippis
A italiana Maria Teresa de Filippis foi a primeira mulher a disputar uma prova de Fórmula 1. A pioneira disputou cinco edições entre 1958 e 1959 a bordo de um carro da equipe Maserati. Seu melhor resultado foi em sua primeira prova, no GP da Bélgica, com um décimo lugar – na época, somente os cinco primeiros se classificavam.
Lella Lombardi
Também italiana, Maria Grazia ‘Lella’ Lombardi foi a única mulher a pontuar na história da F1 . Entre 1974 e 1976, participou de 17 finais de semana e fez parte de 12 grids de largada – na época, os pilotos precisavam se classificar nos treinos para participar da corrida. Por conta de um grave acidente, o GP da Espanha de 1975 foi encerrado prematuramente e os pilotos tiveram sua pontuação reduzida pela metade. Lella terminou a corrida em sexto lugar e conquistou meio ponto nessa prova.
Divina Galica
Entre 1976 e 1978, a britânica Divina Mary Galica participou de três finais de semana, mas não conseguiu se classificar para o grid de largada. Galica teve mais sucesso em outro esporte: ela participou de quatro Jogos Olímpicos de Inverno como esquiadora.
Desiré Wilson
Única representante não europeia, a sul-africana Desiré Randall Wilson tentou competir em apenas um GP, da Inglaterra, em 1980, mas não conseguiu se classificar. Wilson, no entanto, foi a primeira mulher a vencer uma prova utilizando um carro de Fórmula 1, pelo campeonato britânico da categoria, também em 1980.
Giovanna Amati
A mais recente piloto mulher de F1 foi a italiana Giovanna Amati , no Campeonato Mundial de 1992. Pela equipe Brabham, Amati substituiu o japonês Akihiko Nakaya após a FIA vetar a participação do piloto. A italiana participou de três classificações, incluindo em Interlagos , mas não conseguiu ir para o grid de largada. Foi substituída pelo então estreante Damon Hill, que viria a ser campeão em 1996.
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