Calor no inverno: o verão também vai ser escaldante?
Mariana Vick
18 de setembro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h08)Nove estados entram em alerta por massa de ar quente que atinge o Brasil. Fenômeno promete quebrar recordes de temperatura para o mês de setembro em todo o país nos próximos dias, com termômetros batendo mais de 40ºC
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Instalação do artista Henk Hofstra representa ovo derretido na avenida Faria Lima, em São Paulo
Nove estados de quase todas as regiões entraram em alerta nesta segunda-feira (18) pela onda de calor que atinge o Brasil. A chegada da massa de ar quente promete quebrar recordes de temperatura para o mês de setembro em todo o país nos próximos dias. Os termômetros devem bater de 40ºC a 45ºC.
A onda de calor marca a última semana de inverno, que registrou altas temperaturas também em agosto. A primavera começa no sábado (23). O aumento do tempo quente é comum na transição entre estações, mas fenômenos como o El Niño influenciaram a elevação incomum das temperaturas neste período em 2023.
Neste texto, o Nexo explica o que é a atual onda de calor, quais são suas causas e quais partes do Brasil ela deve afetar. Mostra também qual o saldo deste inverno e o que se espera para o verão no fim do ano, considerando o calor extremo que marca o fim da estação fria.
A onda de calor que atinge o país deu os primeiros sinais no fim de semana. Os termômetros da capital paulista bateram recorde do ano no domingo (17), com 33,9°C. Outras regiões do Sudeste e Centro-Oeste também registram desde o começo da semana temperaturas muito elevadas, que devem se reforçar nos próximos dias.
O pico do calor deve ocorrer no sábado (23) no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul. A massa de ar quente também vai afetar com força estados como São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão. Apenas no Rio Grande do Sul deve chegar uma frente fria que irá causar chuvas.
Casal com máscara passeia na orla de Copacabana durante a pandemia
A causa das altas temperaturas é o que meteorologistas chamam de cúpula de calor. Também chamado de domo ou bolha de calor, o fenômeno ocorre quando uma área de alta pressão permanece por algum tempo (semanas, por exemplo) sobre a mesma região, comprimindo e aquecendo o ar embaixo. O centro da bolha de calor que atua agora no Brasil está entre o Centro-Oeste e o Paraguai.
Os nove estados em alerta de onda de calor nesta segunda (18) são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Em Cuiabá (MT), as temperaturas mínimas noturnas devem chegar a quase 30ºC. Também há previsão de que cidades do Norte passem de 40ºC até o fim da semana.
Com a atual onda de calor, o inverno de 2023 termina com temperatura mínima e máxima acima da média histórica em grande parte do Brasil. Em São Paulo, por exemplo, os termômetros bateram mais de 30ºC em diversos dias de agosto. No Rio de Janeiro, a cidade de Irará registrou 40ºC , batendo o recorde do mês para o estado.
O aumento das temperaturas ao longo da estação é resultado da influência do El Niño, segundo Estael Sias, meteorologista da MetSul. Declarado oficialmente em junho, o fenômeno é marcado pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial, como o Nexo explica no vídeo abaixo. Acontece a cada alguns anos e influencia o clima em todo o mundo:
“É normal, em anos de El Niño, termos menor incursão de massas de ar polar, de frio [no inverno]. Tivemos geada, eventos de neve, marcas negativas [de temperatura], mas esses períodos de frio foram concentrados em poucos dias”, disse Sias ao Nexo . “Predominou um padrão mais ameno e até mesmo de temperatura acima da média.”
Ondas de calor como a de agora também são comuns na transição do inverno para a primavera, que marca o fim da estação seca em várias regiões do Brasil, como o Centro-Oeste. “São semanas prolongadas de domínio de ar seco e quente [antes do fim da estação]”, afirmou. “[A onda de calor] é uma condição da variabilidade climática, ou seja, eventualmente vai acontecer, independentemente do El Niño.”
44,8ºC
foi a maior temperatura registrada na história do Brasil, na cidade de Nova Maringá (MT), em 2020, durante uma onda de calor como a de agora, entre o fim da estação seca e o início da estação chuvosa
Apesar das altas temperaturas no fim do inverno, essa não é uma garantia de que as próximas estações, a primavera e o verão, também serão excessivamente quentes, segundo Sias. A meteorologista lembrou ao Nexo que o verão também será marcado pela influência do El Niño. Com ele, a estação deve registrar mais chuvas, o que aplaca o calor extremo.
“Quando temos El Niño, a frequência da chuva é maior e mais abrangente”, disse. “Dependendo da região, ter calor nesta época não significa que o verão será extremamente quente.” Regiões como Sul, Centro-Oeste, Sudeste, interior do Nordeste, sul do Pará e parte do Tocantins estão entre áreas onde as chuvas devem aumentar no fim de 2023.
Adolescentes jogam bola na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em meio à pandemia de covid-19
Apenas se houver estiagem haverá chance de registros de temperaturas maiores, segundo ela. Ainda assim, isso não significa que o verão será fresco. “Devemos ter, sim, um verão quente e abafado, porque vamos ter calor e umidade — dois ingredientes que geram a sensação de abafamento, de sufocamento até”, disse.
Apesar de ondas de calor como a de agora serem comuns no fim da estação seca, Sias escreveu para o MetSul no domingo (17) que a mudança climática tem aumentado a frequência de cúpulas de calor intensas. Vários estudos apontam aumento da intensidade, duração e frequência de ondas de calor no Brasil. As evidências vão ao encontro das projeções científicas sobre o aumento dos chamados eventos climáticos extremos no contexto atual.
Meteorologistas alertam para os perigos do calor. O instituto Climatempo disse que as temperaturas podem causar desconforto e mal-estar , recomendando hidratação e atenção para a prática de atividade física ao ar livre. Para a empresa MetSul, o cenário representa risco à vida e demanda atenção das autoridades.
As recomendações valem para todos. Grupos como idosos, crianças, pessoas obesas e pessoas com doenças preexistentes, porém, estão entre os mais vulneráveis à onda de calor, que pode sobrecarregar órgãos como rins e coração . Profissionais que trabalham expostos ao sol também estão sujeitos a risco e devem buscar proteção extra.
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