O que esperar da participação do Brasil na COP28, em Dubai
Da Redação
09 de novembro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h12)Joana Portugal, Juliano Assunção e Paulo Artaxo debateram sobre as expectativas para a Conferência do Clima da ONU no ‘Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas’, com mediação de Cassio França
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Paulo Artaxo, Cássio França, Juliano Assunção e Joana Portugal-Pereira falaram sobre o Brasil na COP 28
A participação do Brasil na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas , que começa no dia 30 de novembro em Dubai (Emirados Árabes Unidos), foi tema de debate no terceiro dia do Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas, nesta quinta-feira (9).
Segundo os pesquisadores, a COP28 será um desafio não apenas para o Brasil, mas para todos os países, por causa da urgência explicitada pelos inúmeros eventos climáticos extremos vivenciados em 2023. É o caso da seca prolongada na Amazônia , as enchentes no Rio Grande do Sul , os incêndios no Canadá , as ondas de calor extremo e o anúncio do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus de que 2023 provavelmente será o ano mais quente do planeta em 125 mil anos .
A mesa“COP28 – Qual o papel do Brasil?” teve participação de Joana Portugal-Pereira, professora do Programa de Planejamento Energético na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Juliano Assunção, diretor-executivo do Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC Rio, e Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU.
Todos eles destacaram que os eventos climáticos extremos trazem para a COP28 uma virada: de ser novamente um evento centrado em intenções para se tornar uma reunião que agilize de fato as mudanças necessárias para frear as emissões de gases causadores do efeito estufa. Assista à conversa na íntegra:
Sobre a participação do Brasil, há uma expectativa positiva pela retomada do papel diplomático do país. Segundo Paulo Artaxo, a delegação brasileira será a maior já registrada na COP, com 2.000 pessoas.
“Isso mostra o enorme interesse do país. Essa é uma COP de oportunidades ao Brasil, que está em crescente influência internacional e tem tudo para mostrar ao que veio. O novo governo tem capacidade diplomática para mudar a direção dessa COP, para que não seja mais uma COP fracassada, porque as emergências climáticas estão cada vez mais próximas de nós”, disse.
Joana Portugal-Pereira, que participa como autora principal em relatórios do Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC, lembrou que a COP28 trará, pela primeira vez, um documento sobre o que foi realizado pelos países desde a assinatura do Acordo de Paris , em 2015.
“Infelizmente, vamos ver que não estamos em um bom caminho para canalizar recursos financeiros essenciais para reduzirmos emissões. A comunidade científica já faz esse alerta, e esses impactos estão sendo muito mais graves e rápidos. Não temos tempo a perder. Nos últimos quatro anos, o Brasil, infelizmente, perdeu sua liderança para acelerar estratégias e negociações climáticas na COP. Se espera, com muita alegria, que o Brasil volte a estar na dianteira”, afirmou a professora da UFRJ.
Juliano Assunção também frisou o balanço 2015-2023 que será apresentado na COP28. “Se os países olharem o balanço de maneira séria, vai ficar claro que precisamos sair do mundo das intenções para a implementação. E, nisso, o Brasil tem muito a contribuir”, disse. De acordo com ele, o país conta com duas condições extraordinárias para a agenda de mitigação das mudanças climáticas: os recursos energéticos renováveis e a captura de carbono via restauro florestal, o que coloca o país em uma posição mundial relevante na agenda do clima.
40%
é a redução necessária das emissões de CO2 até 2030 para alcançar a neutralidade climática nas próximas décadas
A mediação foi do cientista político Cassio França, secretário-geral do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). França questionou os participantes sobre quais são as travas que impedem que o mundo reduza de fato as emissões de gases de efeito estufa. De acordo com os pesquisadores, a sobreposição dos interesses econômicos ligados à exploração de petróleo e as falhas de governança são os principais entraves.
“Há empresas que pensam só no próprio lucro e com visão de curtíssimo prazo. Por outro lado, governos são suportados por essas empresas de energia e combustíveis fósseis. Há um desarranjo do sistema capitalista como um todo que levará ao aquecimento e aumento de 4°C ao longo desse século”, afirmou Paulo Artaxo.
110%
é a porcentagemde combustíveis fósseis que governos planejam produzir a mais até 2030, o que é incompatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C, segundo relatório do Instituto Ambiental de Estocolmo, divulgado na quarta-feira (8)
O Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas: o Brasil em debate é um evento realizado pelo Nexo e o Nexo Políticas Públicas para tratar de temas importantes da agenda pública do país por meio do debate qualificado e da boa disputa de ideias. Com atividades remotas, o evento é gratuito e dura até 17 de novembro.
Ainda nesta quinta-feira (9), o festival realiza às 17h a mesa“Memória e Reparação – Os caminhos do Brasil”, com Paulo Ramos (Afro-CEBRAP), Luciana Brito (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e Bianca Santana (Fundação Armando Alvares Penteado). A mediação é de Matheus Gato (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas).
É possível conhecer o restante da programação e se inscrever no festival por meio do site do evento .
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