Como dissipar a raiva com um papel e uma caneta
Pedro Bardini
17 de abril de 2024(atualizado 17/04/2024 às 19h54)Cientistas japoneses fazem experimento com 50 estudantes. Resultado foi publicado na revista Nature. Técnica pode funcionar também no computador
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Folha de papel amassada ao lado de uma caneta
Um experimento realizado por dois cientistas da Universidade de Nagoya, no Japão, analisou a relação entre a escrita e a raiva. Os autores Yuta Kanaya e Nob Kawa publicaram o artigo na revista científica Nature em abril de 2024.
A ideia foi baseada em um estudo da Universidade Autônoma de Madrid feito em 2012. Na época, os espanhóis que participaram da pesquisa demonstraram que anotar pensamentos negativos sobre uma dieta alimentar e depois jogar o texto no lixo fazia com que se lembrassem mais dos malefícios de comidas pouco saudáveis.
Cinquenta estudantes universitários (sendo a maioria do sexo masculino, com média de 21 anos) participaram do estudo publicado na Nature. Segundo o artigo, eles foram submetidos a um experimento “provocativo” que relacionava a raiva à escrita.
Na primeira parte do experimento, os participantes foram instados a escrever um breve texto a respeito de problemas sociais recorrentes. Os cientistas disseram a eles que o material seria avaliado por “estudantes de doutorado”.
As falsas avaliações dos “estudantes de doutorado” foram devolvidas cheias de críticas negativas e ofensas. Os comentários tinham frases como: “Eu não consigo acreditar que uma pessoa educada poderia pensar algo como isso” ou “eu espero que essa pessoa aprenda algo na universidade”.
Na segunda parte do experimento, os participantes leram as avaliações “provocativas”. E foram instados a escrever sobre o sentimento que elas despertavam.
Na terceira e última parte, metade dos participantes pôde descartar o que escreveu no lixo. Já a outra metade foi instruída a deixar o material em cima da mesa dos cientistas, com o verso da folha para cima.
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A conclusão foi que a metade dos participantes que jogou o papel no lixo sentiu menos raiva depois do gesto. Já quem entregou o material ainda ficou permeado pelo sentimento.
Os resultados foram obtidos através de avaliações subjetivas sobre a raiva dos participantes antes, durante e depois do experimento.
A hipótese para explicar a redução do sentimento após escrita e descarte é que “a entidade psicológica (raiva) foi eliminada junto com o objeto físico (papel onde o texto foi redigido)”.
Os cientistas japoneses também relacionam sua interpretação ao fenômeno do “contágio mágico reverso”, que é “a crença de que ações tomadas sobre um objeto associado a um indivíduo podem afetar os próprios indivíduos”. Por exemplo: se você rasga uma foto de alguém é como se uma parte desse alguém também fosse destruída.
Os pesquisadores submeteram depois outros participantes ao mesmo experimento “provocativo”, mas pedindo que eles colocassem o papel em uma trituradora. Os resultados foram parecidos.
Por isso, Nob Kawa acredita que queimar o papel escrito com raiva ou até excluir um arquivo digital provocariam a mesma redução do sentimento.
Os autores do artigo lembram que há outros métodos para tentar reduzir a raiva, como a reavaliação cognitiva — que consiste na reinterpretação de um evento desagradável. Eles destacam que seu trabalho indica apenas que descartar o papel escrito com raiva é mais eficaz do que não descartá-lo.
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