A Ponto Futuro, nova editoria do Nexo, quer pensar futuros possíveis a partir de cinco temas que são chave para transformar o Brasil e o mundo nos próximos anos: Amazônia, ciência, clima, gestão pública e infância.
São áreas que passaram por transformações profundas nos últimos anos, de crises decorrentes da pandemia de covid-19 e desmontes governamentais, e demandam um esforço de reconstrução coletivo daqui para a frente. A Ponto Futuro quer contribuir com esse debate.
Abaixo, o Nexo traz cinco dados essenciais para entender os temas que serão foco da Ponto Futuro – do histórico de desmatamento na Amazônia às urgências educacionais que afetam a infância no país.
Altas e baixas do desmatamento na Amazônia
O ritmo do desmatamento na Amazônia está crescendo ano após ano, num movimento iniciado em 2013, durante o governo Dilma Rousseff. Mas nem sempre foi assim: entre 2004 e 2012, o Brasil conseguiu reduzir em 83,5% a destruição da floresta amazônica. Isso se deu a partir de um conjunto de programas federais, implementados na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Monitoramento contínuo da floresta, intensificação da fiscalização de órgãos ambientais, expansão de áreas protegidas e restrição de crédito para desmatadores foram alguns dos pontos que permitiram esse período bem-sucedido de combate ao desmate. Essas também são algumas das áreas de atuação que mais foram minadas no governo de Jair Bolsonaro. Abaixo, você vê essa trajetória de avanços e retrocessos.
Desmatamento anual na Amazônia Legal
Observações: Os dados coletados são referentes de setembro até agosto do ano seguinte. Fonte: PRODES, INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O investimento dedicado à ciência no país
Mesmo com cortes no orçamento público da ciência, o Brasil conseguiu ampliar sua produção científica entre 2015 e 2020, e é o 13º país no mundo na publicação de trabalhos, segundo relatório do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, ligado ao Ministério da Ciência. A ciência brasileira evolui mesmo num cenário adverso, mas especialistas reforçam que essa resiliência tem limites.
A redução de verbas, além de interromper pesquisas em andamento, prejudica no longo prazo o desenvolvimento econômico e científico do Brasil, e contribui para a perda de profissionais, que deixam o país e a academia. O gráfico abaixo mostra a trajetória de financiamento das principais agências federais de fomento à pesquisa e dimensiona a queda que é pano de fundo desse cenário.
Orçamento liquidado da Capes e do CNPq
Corrigido pelo IPCA para valores de 06/22
Fonte: Siop, Ministério da Economia.
Onde olhar para cortar emissões e frear a crise do clima
Como parte do Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a reduzir 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, na comparação com 2005, a caminho de alcançar a neutralidade de carbono em 2050.
Parte significativa das emissões brasileiras é decorrente do desmatamento e alterações do uso do solo, que precisam ser freadas com urgência se o país quiser combater os efeitos mais graves da mudança climática, que já está em curso. O gráfico abaixo mostra as emissões brutas do país (sem considerar a captura de carbono, como a realizada por florestas), e sinaliza para onde o Brasil deve olhar na hora de cortar emissões.
Participação de cada setor no total
de gases estufa liberados no Brasil
emissões brutas, em co2 equivalente em 2020
Mudança de Uso da
Terra e Florestas
Alterações
de uso do solo
Emissões
pela
queima de
combustíveis
Gases da digestão de animais
ruminantes (vacas, cabras, ovelhas e etc.)
O Brasil emitiu 2,2 bilhões de toneladas equivalentes de CO2 em 2020.
Fonte: SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa), Observatório do Clima.
Como se organiza e divide a máquina pública
O poder público em suas várias esferas de governo e atuação é um canal fundamental para implementar transformações no país. Todos os outros dados apresentados neste gráfico, e suas trajetórias de altos e baixos, dependem de vontade política, pressão da sociedade e ações públicas.
É por meio de políticas públicas que ideias podem adquirir a escala necessária para impactar a sociedade e atingir quem mais precisa delas. E a sociedade pode – e deve – influenciar a formulação dessas políticas e cobrar sua implementação de forma devida. Abaixo, você entende melhor a organização desse universo.
Algumas das principais responsabilidades dos entes federativos:
Recursos para
saúde e educação
Saúde de média
a alta complexidade
Ensino fundamental
e médio
Ensino infantil e
fundamental
Regular a
ocupação urbana
Fonte: Constituição Federal.
As urgências da educação infantil na pandemia
Com fechamento de escolas, adoção do ensino a distância e redução da convivência, a pandemia de covid-19 iniciada em 2020 impactou estudantes no mundo todo. No Brasil, expôs dificuldades crônicas no setor de educação e agravou as desigualdades da infância no país, onde o acesso à internet não é homogêneo e crianças pobres ficam mais sujeitas à insegurança alimentar pela falta de merenda.
Medir os efeitos desse cenário é necessário para saber como agir para recuperar o déficit de aprendizado na crise sanitária e reduzir o impacto desse atraso na infância, período da vida fundamental para o desenvolvimento das pessoas. O gráfico abaixo mostra onde as falhas de aprendizado são mais graves, usando dados do estado de São Paulo.
Nível de proficiência de
crianças do 5º ano do ensino fundamental da rede pública em:
Em 2021 e 2019, no estado de São Paulo
Fonte: Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).