Coluna

Alicia Kowaltowski

MAGA sem liberdade, jornalistas, artistas ou cientistas?

03 de março de 2025

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Consequências de medidas do segundo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos podem ser devastadoras à população
Foto da colunista Alicia Kowaltowski

A colunista Alicia Kowaltowski

O segundo governo Trump chegou como um rolo compressor, agressivamente implementando ações visando revolucionar, no pior sentido possível, as atividades dos mais variados e importantes setores da sociedade norte-americana. Não se pode negar que os esforços coléricos de Trump 2.0 (também conhecido como governo Musk) sejam energéticos e organizados. Também é impossível negar sua abrangência, atacando os mais diversos e importantes setores da sociedade.

Em vingança à classe jornalística, barrou, dentre outros, a Associated Press, instituição apartidária de inquestionável qualidade, tendo sido reconhecida com 59 prêmios Pulitzer, de cobrir eventos na Casa Branca, pois esta decidiu ignorar a acriançada declaração de que o Golfo do México deveria ser renomeado. A alteração de nomes lembra as doidices do ditador Saparmurat Niyazov do Turcomenistão, que governou continuamente alterando os nomes de cidades, dias da semana e até da palavra “pão”, para honrar a si mesmo e sua família. 

Em um ataque a ações de saúde, Trump não somente conseguiu confirmar o bizarro desinformante antivacinas Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde, como também colocou o país em risco eminente ao aleatoriamente demitir 750 funcionários do Centro de Controle de Doenças e 180 do FDA (órgão que supervisiona alimentos e medicamentos) para confusamente recontratar alguns logo depois. Também resolveu sair da OMS (Organização Mundial da Saúde), cortar fundos internacionais que auxiliam no controle de moléstias altamente transmissíveis como ebola, e paralisar reuniões necessárias para o desenvolvimento de vacinas de gripe, doença que leva à hospitalização de mais de 400 mil americanos por ano. Interessante notar que há poucos anos, durante a tentativa de se coordenar uma ação global de vacinação para conter mortes por covid, as duas últimas duas nações a se recusar a vacinar sua população, Coreia do Norte e Eritréia, eram lideradas por ditadores obscurantistas. 

No âmbito das artes, Trump se fez eleger presidente do conselho do Centro Kennedy, núcleo cultural de artes norte-americano no qual o atual presidente se orgulha de nunca ter  assistido uma apresentação, mas sobre o qual quer controle. A atitude levou à renúncia de vários membros da organização, além de recusas de artistas a participar de eventos programados. A perseguição das artes é quase marca registrada de ditadores como Hitler, que iniciou uma campanha para eliminar a arte que chamava de “degenerada” (quase toda produzida por artistas judeus ou negros) imediatamente ao tomar poder. 

Alicia Kowaltowskié médica formada pela Unicamp, com doutorado em ciências médicas. Atua como cientista na área de Metabolismo Energético. É professora titular do Departamento de Bioquímica, Instituto de Química da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. É autora de mais de 150 artigos científicos especializados, além do livro de divulgação Científica “O que é Metabolismo: como nossos corpos transformam o que comemos no que somos”. Escreve quinzenalmente às quintas-feiras.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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