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Há alguns dias, algum editor da página do Instituto Mises Brasil no Facebook postou um texto argumentando que sociedades culturalmente mais homogêneas causam menor desigualdade social. O texto concluía “se o Brasil fosse inteiramente formado por uma população como a do interior do Rio Grande do Sul ou de Santa Catarina, a desigualdade seria tão baixa quanto a dos (países) nórdicos. Igualmente, se fosse inteiramente formado por uma população como a do interior do Maranhão ou do Piauí, também seria baixa. E mais pobre.”
A mensagem viralizou. Após alguns dias e muitas críticas, a postagem foi apagada e até mesmo rechaçada por outros membros do próprio instituto.
O curioso é que o austríaco e filho de pais judeus Ludwig von Mises, que dá nome ao instituto, imigrou para Nova York em 1940. Ele se juntou aos outros 11 milhões de imigrantes que viviam nos Estados Unidos naquela época, ampliando o multiculturalismo do país que o acolheu.
Achar que a homogeneidade da sociedade é a chave para explicar o desenvolvimento das nações não parece ser um caminho promissor. Além disso, é perigoso. Por isso mesmo, vou insistir no assunto. Afinal, são temas caros ao desenvolvimento e à própria história do Brasil, mas muito difíceis de serem relacionados empiricamente.
A partir da literatura científica, sabemos que o multiculturalismo, a diversidade étnica, contribui para que um país tenha uma vasta gama de pessoas com diferentes habilidades, nível educacional e posse de bens que facilitam a inovação e aumentam a produtividade da economia. Ao mesmo tempo, há registros de que diversidade étnica está associada com políticas públicas ineficientes, instituições menos inclusivas e conflitos derivados do ódio baseado nas próprias diferenças entre os grupos existentes. Por exemplo, a fragmentação etnolinguística tem correlação negativa com o desempenho econômico em diversas dimensões, com exceção em países mais ricos .
Humberto Laudaresé especialista em políticas públicas e desenvolvimento. É Ph.D em Economia pelo Graduate Institute, em Genebra (Suíça), e mestre pela Universidade Columbia (Estados Unidos). Fez Ciências Sociais na USP e Administração na FGV de São Paulo. Trabalhou com políticas públicas em governos, no parlamento e em organismos internacionais. Para acompanhar sua página no Facebook: www.facebook.com/laudares
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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