Esta pesquisa, realizada na Unicamp, compara as representações do inferno em “A Divina Comédia”, poema de Dante Alighieri, e no longa-metragem “Blade Runner”, dirigido por Ridley Scott. Também discute a atualização da imagem do inferno ao longo da história, que vai de uma possibilidade ameaçadora após a morte a um lugar relacionado aos desastres da vida cotidiana.
Apesar disso, o pesquisador destaca, em sua conclusão, a semelhança entre as representações das duas obras analisadas, mesmo que sejam separadas por séculos.
O objetivo da dissertação é mostrar que existe um paralelo entre a maior obra do escritor Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, e o trabalho mais aclamado do diretor Ridley Scott, “Blade Runner”. Até que ponto uma quantidade de coincidências se transforma em evidência? O projeto procura identificar, comparar, estabelecer relações entre as duas obras.
Até o presente momento, não se conhece nenhum trabalho que estabeleça esta conexão. No aniversário de 35 anos do lançamento de “Blade Runner”, é interessante investigar esse “cult movie” sob uma ótica até então não vista. As duas obras são emblemáticas para cada tempo histórico. Cabe ao pesquisador avançar nesta discussão, trazendo novos elementos para o debate e aprofundamento do conhecimento dessas duas obras.
Esta dissertação procura mostrar que o inferno, ao contrário do que se pensa, não desapareceu. Ele continua sendo representado por roteiristas, diretores de cinema, desenhistas de quadrinhos e game designers, mas sua representação mudou. O inferno deixou de ser um lugar para onde se vai e passou a ser aquele onde se está. Ele não é mais lá. É aqui! E carrega toda a carga simbólica do “estar aqui”. Deste modo, não é um fogo constante que o alimenta, mas os desastres do mundo moderno. Desordem genética, poluição, sujeira e escuridão fazem parte das alegorias do inferno de hoje.
Para demonstrar como o inferno tem sido reconstruído por novos atores e autores, foi usado “Blade Runner”, um filme de Ridley Scott, de 1982. Nesta pesquisa, procurou-se demonstrar que os intérpretes da atualidade não abandonaram a noção de inferno, mas a atualizaram e a trouxeram para os nossos dias, nos inserindo num inferno realístico, em contraposição àquele existente como possibilidade temida no pós-morte. Buscou-se demonstrar, através das representações na arte, cinema e literatura, desde o Inferno de Dante Alighieri até o Blade Runner de Ridley Scott, que nós já vivemos no inferno.
A conclusão é que existem coincidências demais para serem somente coincidências. Há claramente uma intenção de relacionar a distopia de “Blade Runner” com o inferno retratado por Dante. Por certo, Ridley Scott e seus roteiristas tiveram contato com a obra, e de certa forma emularam algumas das características do inferno, numa representação atualizada.
Creio que qualquer pessoa interessada em história das religiões, literatura, inferno, Dante, Blade Runner e cinema poderia se interessar. Uma coisa que é curiosa é o interesse geral que despertam as palestras que faço sobre o assunto. Como costumo dizer, estudar o inferno é como fazer turismo: é sempre bom conhecer o lugar para onde se vai!
Paulo de Tarso Coutinho Viana de Souza é arquiteto, artista plástico e palestrante. Mestre em multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp em 2016, doutorando pelo departamento de Artes Visuais pelo instituto de Artes Unicamp. É um pesquisador do inferno e suas representações.
Referências
- ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia – Inferno. Tradução e Notas Italo E. Mauro. Editora 34, 1998.
- KERMAN, Judith B.(org) Retrofitting Blade Runner issues in Ridley Scott’s Blade Runner and Philip K. Dick do the androids dream of electric sheep? Popular Press 3.1997
- DICK Philip K. Do the androids dream of electric sheep? Editora Aleph.2014