Esta pesquisa, realizada na Hertie School of Governance, em Berlim, busca compreender se é eficaz a estratégia brasileira para a concretização dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas até 2030. A dissertação analisa os desafios e oportunidades existentes nesse sentido, a partir de quatro eixos: coerência política; avaliação e monitoramento; estratégia de longo prazo; e engajamento e parcerias.
Entre as conclusões, o autor destaca que o Brasil apresentou avanços importantes na implementação dos ODS, mas ainda insuficientes para alcançar as metas no prazo estipulado. Ele avalia que a atual estratégia brasileira para a implementação dos ODS tem restrições, como falhas na coordenação de diferentes instituições e deficiências em termos de inclusão e transparência.
Esta pesquisa procura entender a capacidade da atual estratégia brasileira para o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas). O Brasil foi considerado referência em boas práticas relacionadas à consolidação dos ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) da ONU no período de 2000 a 2015. Contudo, muitos desafios no campo da governança pública persistem para que a esperada realização dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) se concretize até 2030. Além disso, o país entra no estágio de implementação dos ODS em um contexto particular marcado pelos profundos efeitos da recente recessão econômica e instabilidade política.
O entendimento sobre a capacidade da atual estratégia nacional para a implementação dos ODS é imperativo por duas razões principais. Em primeiro lugar, esse esforço pode fornecer aos funcionários públicos e formuladores de políticas informações relevantes sobre os desafios atuais da governança pública brasileira para a realização dos ODS, apresentando sugestões construtivas a partir de uma perspectiva que busca equilibrar teoria e prática neste campo. Em segundo lugar, trata-se de um mecanismo importante para promover o engajamento por parte da população em geral, fortalecendo a capacidade da sociedade civil brasileira em avaliar as estruturas existentes e responsabilizar seus representantes governamentais no que concerne à devida implementação da Agenda 2030.
Esta dissertação fornece uma análise da estratégia nacional para a implementação dos ODS, baseada em um arcabouço de quatro temas que aparecem com destaque nas discussões sobre os desafios de governança para o desenvolvimento sustentável, a saber: coerência política; avaliação e monitoramento; estratégia de longo prazo; e engajamento e parcerias. Os métodos de investigação foram os seguintes: análise de um estudo de caso, revisão de relatórios oficiais do governo e da sociedade civil e realização de entrevistas semi-estruturadas com especialistas e formuladores de políticas.
Os resultados da pesquisa indicam que a atual estratégia brasileira para a implementação dos ODS é limitada em sua capacidade de abordar a Agenda 2030. Em particular, o trabalho destaca as seguintes restrições: falhas na coordenação de diferentes instituições governamentais e membros da Comissão Nacional para os ODS; falta de definição de indicadores nacionais e mecanismos de monitoramento e avaliação; ausência de uma estratégia de desenvolvimento sustentável de longo prazo; e deficiências em termos de inclusão e transparência. Três anos após a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável no âmbito internacional, o Brasil avançou pouco em termos da internalização e governança dos ODS. O estabelecimento da estratégia nacional para a implementação dos ODS e da Comissão Nacional para os ODS foram passos importantes e necessários nesse sentido. Entretanto, tais mecanismos são atualmente insuficientes para a implementação e alcance das metas globais da ONU no prazo estipulado.
Os resultados da pesquisa deveriam ser conhecidos prioritariamente por formuladores de políticas públicas e governantes brasileiros nos níveis federal, estadual e municipal para que o país continue sendo reconhecido como referência em boas práticas no alcance dos objetivos de desenvolvimento da ONU. Dada a relação entre os desafios à implementação dos ODS no Brasil e o próprio funcionamento do setor público no país, seria crucial a revisão do planejamento atual para a incorporação da Agenda 2030 no âmbito nacional e proposição de soluções inovadoras por parte dos funcionários responsáveis. Do mesmo modo, diferentes atores da sociedade civil como membros do setor privado, da academia e de organizações não-governamentais, assim como cidadãos brasileiros, podem se beneficiar das informações da pesquisa para melhor compreender a situação atual e exigir de seus governantes a devida implementação da Agenda 2030.
Thiago Elert Soaresé mestre em políticas públicas pela Hertie School of Governance em Berlim, como bolsista do programa Helmut-Schmidt doDAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico). Possui graduação em Relações Internacionais pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Atualmente é pós-graduando em Estudos de Desenvolvimento pela LSE (London School of Economics and Political Science), como bolsista do programa Chevening do governo do Reino Unido.
Referências
- Meadowcroft, J. (2011). Sustainable Development. In The SAGE Handbook of Governance (pp. 218–237).
- Saad, L. (2015). Brazil and the Post 2015-Sustainable Development Goal Agenda: What Has It Been Defending So Far? Rio+ Centre Working Paper Series (Vol. 55). Rio de Janeiro.
- Secretariat of Government (SEGOV). (2017). Voluntary National Review on the Sustainable Development Goals Brazil . Brasília.