Esta pesquisa discute as ferramentas que a filosofia oferece para entender o funcionamento da sociedade da informação na era da internet.
O autor analisa questões éticas e de privacidade que surgem com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação. Para isso, é usada a teoria dos sistemas complexos e da auto-organização. Além disso, o autor destaca o tema do “quinto poder”: a possibilidade de participação política dos indivíduos graças às tecnologias digitais, dando voz aos usuários para expressão da cidadania.
Qual a relação entre filosofia e sociedade atualmente? Por que a denominação dos dias atuais por sociedade da informação? Quais mudanças surgem nas relações entres os indivíduos, destes com o ambiente e na própria concepção de si mesmos? O que é a filosofia da informação? Quais os impactos da inserção de tecnologias da informação e comunicação na vida diária dos indivíduos? Quais problemas são criados com tal inserção? Quais as alterações presentes na dinâmica organizacional dos indivíduos em sociedade? Quais problemas éticos estão presentes neste novo contexto informacional? Como analisar os problemas de cunho ético quando as teorias tradicionais parecem não serem suficientes? Quais as bases de uma ética informacional? Qual a agenda de problemas que constitui a preocupação inicial da ética informacional? Como analisar os limites entre público/privado, liberdade de expressão, censura, a identidade pessoal influenciada pelo ambiente digital, as novas formas de desigualdade social, ampliação da participação política online, entre outros problemas oriundos da mediação das ações dos indivíduos no ambiente mediadas por tecnologias digitais?
O desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, especialmente aquelas vinculadas à internet, promoveram uma revolução informacional inédita na sociedade. Artefatos tecnológicos que eram, até então, utilizados como meras ferramentas passaram a fazer parte da essência da vida urbana, sem os quais não é possível realizar tarefas simples e complexas. Dado o caráter de novidade, destaca-se a carência de ferramentas conceituais que contribuam para compreender as características e alcances de tal revolução. Expressões da vida humanas como trabalho, saúde, educação, lazer, entretenimento, entre outras têm sofrido tais impactos e sendo reformuladas. A diminuição das fronteiras entre ambientes off-line e online tem ressignificado profundamente tópicos como: privacidade, vigilância, identidade pessoal, participação política, poder, entre outras. Neste contexto, é urgente compreender como tais alterações afetam a relação entre os indivíduos e o entendimento de si mesmos, de modo que problemas filosóficos clássicos sejam recolocados e surjam outros, em especial os que dizem respeito ao âmbito ético.
Neste trabalho analisaremos a tese segundo a qual o Paradigma da Complexidade, ilustrado a partir da teoria dos sistemas complexos e da auto-organização, contribuiria para a análise de problemas da ética informacional. Entendemos que essa teoria fornece um método de investigação interdisciplinar e um arcabouço teórico que inclui várias dimensões informacionais no estudo de eventos, situações ou objetos, dentre eles alguns problemas da ética informacional. Este é um ramo da filosofia da informação que vem se consolidando nos últimos anos e, embora não haja ainda uma definição última, ela é concebida como uma área que visa refletir sobre questões, de cunho moral, relacionadas aos impactos da inserção de tecnologias informacionais na vida cotidiana. Julgamos que essa contribuição pode auxiliar na caracterização da ética informacional e de seus problemas, colaborando para a compreensão de novos rumos da pesquisa filosófica na sociedade da informação.
Os impactos das tecnologias da informação e comunicação, em especial as tecnologias digitais que são conectadas à internet, estão revolucionando a dinâmica dos indivíduos em sociedade urbana. Além da mudança em suas percepções da realidade, há impactos no ambiente de grande proporção. Faz-se necessário e urgente identificar as alterações que têm surgido, os novos padrões de conduta existentes, a ressignificação de problemas em virtude de suas expressões online. Analisamos dois problemas centrais que compõem este cenário informacional e se destacam: a privacidade e o quinto poder. Discussões sobre a privacidade têm sido rotineiras desde as denúncias de Edward Snowden em 2013, sejam acerca de seus limites, existência, vigilância, significação, entre outros. Já o quinto poder tem surgido da possibilidade de participação política dos indivíduos graças às tecnologias digitais, dando voz aos usuários para expressão de sua cidadania digital, reivindicando direitos e, mesmo que em modo incipiente, alcançando algum êxito. Renovam-se, assim, a relação entre privacidade, política, poder e liberdade na sociedade da informação.
Os resultados apresentados neste trabalho constituem um diagnóstico acerca da sociedade da informação, mais especificamente em relação às inúmeras mudanças que as tecnologias da informação e da comunicação promoveram na vida cotidiana dos indivíduos. Assim, dado que os impactos de tais mudanças são sofridos por todos os indivíduos, nossos resultados podem vir a ser relevantes a todos os interessados pelo tema, independentemente de sua inserção acadêmica.
João Antonio de Moraesé doutor em filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (2018). Mestre (2012), bacharel (2011) e licenciado (2010) pela Universidade Estadual Paulista – Campus de Marília. Atualmente é professor do Departamento de Filosofia da Faculdade João Paulo II, e do Instituto Federal de São Paulo – Campus de Votuporanga. É autor do livro “Implicações ética da virada informacional na Filosofia” (Edufu), além da organização de outros títulos e da publicação de artigos nacionais e internacionais.
Referências
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