Dissertação: Quando os leões contam histórias: contos como recurso didático no ensino de história e cultura africana
Autora
Joyce Oliveira Pereira
LattesOrientador
José Henrique de Paula Borralho
Área e sub-área
História, Educação para relações étnicos raciais
Publicado em
Universidade Estadual do Maranhão em 14/07/2020
Como participar?
Esta dissertação, defendida na Universidade Estadual do Maranhão, discute como histórias orais da tradição africana podem ser usadas no ensino da disciplina de história.
A pesquisa analisou cinco contos evidenciando questões sociais, econômicas e culturais que aparecem nessas narrativas. Segundo o estudo, essas histórias são fontes de conhecimento sobre sociedades africanas, comunidades quilombolas e de religiões de matriz africana. Por isso, elas podem ser usadas para o aprendizado sobre esses grupos.
O texto defende que o uso do produzido na África é uma alternativa à visão eurocêntrica que prevalece no ensino da disciplina, uma visão que contribui para a perpetuação de desigualdades étnicas e raciais. Assim, o trabalho oferece um material didático para professores que desejam se instrumentalizar no uso desses contos em sala de aula.
Como os sujeitos constroem a história da África?
Os contos analisados na pesquisa são fontes orais de conhecimento de grupos africanos e afro-diaspóricos, como as comunidades quilombolas e de religião de matriz africana. Eles oferecem uma forma de narrar a história diferente da experiência europeia, guiada por uma outra lógica racional – no caso, o humanismo africano. Como recurso didático, eles possibilitam a construção de um conhecimento étnico racial da África a partir da produção cultural desses povos. Por isso, há a necessidade de materiais especializados que abordem as racionalidades africanas e afro-diaspóricas, auxiliando o trabalho desses textos pelos docentes em sala de aula.
O ensino de história é feito com base na historiografia ocidental, que foi produzida em consonância com a memória de seus escritores europeus ou pertencentes a povos que tiveram contato com eles. Essa historiografia afirma posições políticas de dominação e subordinação que remontam ao século 18, o que incide diretamente na fabricação de imaginários sociais e na produção de identidades individuais e coletivas.
Este trabalho buscou compreender o processamento das historicidades de povos da África Ocidental através de contos, em alternativa à historiografia ocidental. A história cultural foi utilizada como metodologia para analisar as evidências que mostram como os africanos construíram seus repertórios de representação social.
A pesquisa teve como resultado o produto didático “Mate Masie: cinco contos de África”, que conjuga orientações historiográficas, pedagógicas e metodológicas voltadas para docentes da disciplina de história no ensino médio.
Nos contos estão expressos elementos que são constituidores das sociedades africanas, mas que não reconhecemos por conta dos filtros eurocentrados e da racionalidade cartesiana em que estamos inseridos. Nesse sentido, o trabalho em sala de aula que aborda as racionalidades africanas e afro-diaspóricas permite um conhecimento ampliado das realidades do continente.
O público em geral.
Joyce Oliveira Pereira é doutoranda em história pelo Programa de Pós Graduação em História da Uema (Universidade Estadual do Maranhão), especialista em política e igualdade racial no ambiente escolar pela UFMA (Universidade Federal do Maranhão). Atua na área de educação para as relações étnico-raciais. Foi professora do Programa Darcy Ribeiro da Uema e atualmente é professora da Rede Municipal de Rosário (MA). Faz parte da equipe de professores de “ O Historiante ”, grupo de professores de história que produz História Pública por meio das redes sociais.
Referências
- CHARTIER, Roger. A História cultural: entre práticas e representações. Algés, PO: DIFEL, 2002.
- SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
- TOWA, Marcien. A ideia de uma filosofia negro-africana. Belo Horizonte: Nandyala; Curitiba: NEAB –UFPR, 2015.
- MUNDIBE, Valetin. A invenção da África: gnose, filosofia e ordem do conhecimento. Manguade, PO; Luanda, ANG: Pelago; Edições Mulemba, 2013.
- MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. São Paulo: N-1 edições, 2018.