Como participar?
Inês Etienne Romeu foi uma militante integrante da guerrilha contra a ditadura militar brasileira. Em 1971 foi detida e levada a um centro de tortura conhecido como Casa da Morte. Foi a única sobrevivente das violências sofridas no local e anos depois denunciou as violações aos direitos humanos ali cometidas.
Esta pesquisa mostra como o caminho de luta de Inês cruzou com o da atriz e cineasta Norma Bengell, também crítica à ditadura e perseguida por suas opiniões políticas. Para isso, investiga registros visuais e documentos encontrados nos acervos pessoais das duas mulheres.
O que as imagens de arquivo e os acervos pessoais da atriz Norma Bengell e da militante política Inês Etienne dizem sobre os seus diferentes modos de luta contra a ditadura militar brasileira?
A pesquisa colabora para tornar visível perspectivas de luta contra a ditadura militar que inserem no debate histórico a importância do feminismo, do cinema realizado por mulheres e dos acervos privados para a elaboração de narrativas históricas.

Artistas protestam contra Ditadura Militar em 1968, entre elas Norma Bengell
O projeto analisou imagens produzidas no âmbito privado durante o período de 1964 a 1985 no Brasil. A investigação se apoiou em acervos para buscar registros amadores que denunciassem abusos cometidos pelos agentes do Estado. Ao examinar um filme do casamento de Inês Etienne Romeu, foi descoberto um registro de sua libertação da prisão produzido por Norma Bengell. Por meio das imagens e de seus arquivos pessoais, a trajetória e as redes de relação que aproximaram essas duas mulheres foram reconstruídas.
O método incorporado na pesquisa defende uma abordagem complexa das imagens, que se dá no encontro do olhar historiográfico com a análise estética. Assim, buscamos compreender as forças que atuaram no contexto de produção das imagens, ao mesmo tempo em que interrogamos os múltiplos sentidos encarnados por elas ao longo de sua migração no tempo e no espaço. Esse duplo movimento de pesquisa (que se volta para a origem e para o presente das imagens) nos levou a percorrer os mais variados acervos e a entrevistar distintos sujeitos envolvidos não só no contexto de produção, mas também nos processos que permitiram a sobrevivência, a conservação, a publicização e a circulação desses documentos audiovisuais.
A investigação dos arquivos pessoais de Inês e Norma revelou que as redes de solidariedade compostas por mulheres foram parte constitutiva da organização, preservação e existência dos documentos audiovisuais usados no processo de pesquisa. Ao analisar as imagens e documentos pessoais (como cartas, anotações, fotografias, recortes de jornais) que constituem os acervos da militante política e da atriz e cineasta, identificamos tanto formas de perseguição e gestos de opressão misóginos dos agentes do Estado quanto diferentes formas de resistência feminista. Foram essas redes de solidariedade entre mulheres que tornaram possível a inscrição e a sobrevivência das imagens que fazem sobreviver histórias de luta contra a ditadura no passado recente do Brasil.
Pesquisadores de história, cinema, arquivos e áreas afins.
Patrícia Machado é pesquisadora e professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). É Jovem Cientista do Nosso Estado na FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Integrante do Conselho de Administração da SAC (Sociedade Amigos da Cinemateca). Co-fundadora da REPIA (Rede de Pesquisadores de Imagens de Arquivos)
Thais Blank é professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em História, Política e Bens Culturais da FGV (Fundação Getúlio Vargas). É Jovem Cientista do Nosso Estado na FAPERJ e bolsista de produtividade CNPq. Co-fundadora da REPIA.
Referências
- BENGELL, N. Norma Bengell. São Paulo: Versos Editora, 2014
- BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Brasília: CNV, 2014
- BRENEZ, N. Carole Roussopoulos ou l’attention créatrice. In: Caméra Militante – Luttes de libération des années 1970. Paris, MetisPresses, 2010
- LEITE, I C.Fragmentos da vida de Inês Etienne Romeu: o encarceramento no presídio Talavera Bruce (1972-1979). Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, n.16, 2019.
- TELES, M A A. Violações dos direitos humanos das mulheres na ditadura. Estudos Feministas, Florianópolis, 23(3): 406, setembro-dezembro/2015