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(colunista até agosto de 2016)

Vamos falar sobre o Fiscal ou deixar para o próximo governo?

23 de fevereiro de 2016

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A proposta do Ministério da Fazenda prevê adiar o enfrentamento do problema fiscal, deixando como herança uma dívida ainda maior para os próximos anos

Semana passada, o governo federal iniciou uma negociação com os governos estaduais sobre a grave crise fiscal. As notícias veiculadas pela imprensa, porém, deixam uma dúvida: serão enfrentadas as causas dos desequilíbrios estruturais ou, como nos últimos anos, serão adotadas medidas que vão permitir alívio nas contas públicas nos próximos anos a custa do agravamento do endividamento e de uma crise ainda mais grave a partir de 2019?

A proposta do governo federal inclui o alongamento das dívidas estaduais por 20 anos. Essa medida reduz a despesa financeira dos governos estaduais tendo como contrapartida o maior endividamento do governo federal.

As restrições de caixa de diversos governos estaduais decorrem do forte crescimento das despesas obrigatórias nos últimos anos, sobretudo a expansão dos gastos com pessoal, seja decorrente de contratação de novos funcionários, seja da concessão de aumentos acima da inflação. Além disso, a concessão de benefícios fiscais para diversas empresas comprometeu as receitas estaduais.

Enfrentar a crise fiscal requer reduzir a trajetória de aumento dos gastos obrigatórios. Entretanto, ao invés de enfrentar os problemas atuais, a proposta do Ministério da Fazenda prevê adiar o enfrentamento do problema fiscal, deixando como herança uma dívida ainda maior para os próximos anos. Se os estados hoje têm dificuldade em saldar as suas obrigações, como farão daqui a alguns anos, com uma dívida ainda maior? A política econômica do oportunismo parece procurar apenas postergar os problemas para serem enfrentados para os governos que se iniciam em 2019. O custo dessa opção, no entanto, será uma crise ainda mais grave do que a atual.

A proposta do governo federal inclui diversas contrapartidas, como limitar o reajuste das despesas correntes à inflação, medida pelo IPCA, não conceder novas renúncias fiscais e não contratar novos funcionários.

(colunista até agosto de 2016)é presidente do Insper, Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia. Atuou como professor assistente no Departamento de Economia da Universidade de Stanford e da EPGE/FGV. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Instituto de Resseguros do Brasil. Diretor executivo do Itaú-Unibanco, entre 2006 e 2009, e vice-presidente até 2013.

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