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(colunista até agosto de 2016)
Gastos do Governo: eficiência e justiça distributiva
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A saída da crise passará, necessariamente, pela reversão da trajetória de gastos públicos. Esse ajuste não será fácil. O populismo dos últimos anos resultou no comprometimento dos gastos públicos para além do compatível com a renda do país. Prometemos mais do que podemos entregar.
A superação da crise demandará ampla deliberação democrática sobre as difíceis escolhas que temos que enfrentar. Não só dos mais vocais (e abastados), cujo descontentamento se expressa nas manifestações contra o governo. Mas, principalmente, da maioria da população que não têm acesso aos mecanismos de pressão dos grupos de interesse.
A pesquisa do Instituto Data Popular, discutida por Malu Gaspar na revista Piauí, mostra que a insatisfação dos grupos com menor renda decorre da percepção de que o governo não entregou o prometido. A crise resulta no aumento do desemprego, na inflação que reduz o poder de compra e no encolhimento dos programas sociais. Como bem coloca o diretor do Data Popular, os mais pobres querem um Estado provedor.
A economia política não pode ser ignorada: como conciliar a necessidade do ajuste fiscal com a demanda por um Estado provedor? O governo deveria dar o exemplo. Houve uma impressionante expansão das políticas públicas nos últimos anos. Em muitos casos, porém, não existem avaliações sobre o seu impacto. Quais foram os grupos beneficiados? Em que medida as políticas são eficazes? Qual o seu custo de oportunidade? Em particular, quais políticas sociais não cumprem o papel provedor para os mais pobres, ou garantirem políticas universais como saúde e educação?
O país é pródigo em políticas simultaneamente ineficientes (que diminuem o tamanho do bolo) e regressivas (que beneficiam desproporcionalmente os mais ricos). Essas políticas foram intensificadas nos últimos anos. Liderar a transição, dando o exemplo, requer que todas as políticas públicas sejam reavaliadas sob os critérios de eficiência e justiça distributiva. Políticas que fracassem nas duas dimensões deveriam ser eliminadas.
(colunista até agosto de 2016)é presidente do Insper, Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia. Atuou como professor assistente no Departamento de Economia da Universidade de Stanford e da EPGE/FGV. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Instituto de Resseguros do Brasil. Diretor executivo do Itaú-Unibanco, entre 2006 e 2009, e vice-presidente até 2013.
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