Coluna
(colunista até agosto de 2016)
Como avançar nas concessões de infraestrutura?
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É indiscutível que o maior problema na conjuntura atual é fiscal. Sem desamarrar esse nó, nada mais avança. Há, no entanto, outros problemas que precisam ser enfrentados para que, quando a questão fiscal for resolvida, o Brasil possa retomar uma trajetória vigorosa de crescimento econômico. Dentre eles, o déficit da infraestrutura merece destaque. A escassez de infraestrutura tem consequências negativas sobre os demais setores produtivos, prejudicando a sua produtividade. Dada a escassez de infraestrutura, os retornos associados a investimentos na área são altos o suficiente para fazer com que todos – governo, usuários e concessionários – ganhem. Por que eles não andam?
Os fracassos dos últimos anos sugerem que é preciso melhorar o desenho das concessões. A mais básica das lições tem sido recorrentemente ignorada. Os concessionários devem ser recompensados pelos riscos aos quais são expostos. Caso não sejam remunerados pelo risco – e o governo tem relutado em garantir essa remuneração – os concessionários não investirão. A falta de interesse em projetos de transmissão no setor elétrico é uma manifestação disso. Um bom desenho procura eliminar, ou ao menos reduzir, qualquer risco que esteja fora do controle do concessionário. O risco regulatório, ou seja o risco associado à própria atuação do governo como regulador, é um deles.
Ao eliminar risco não gerenciável, as taxas de retorno exigidas serão menores por duas razões. A primeira é que, para um dado número de participantes da licitação de um projeto, a taxa que um participante exigirá será menor (por conta do menor risco). A segunda razão é indireta. Sendo menor o risco, mais investidores participarão das licitações, aumentando a competição e diminuindo a chance de aparecerem cartéis, que tanto dano andaram fazendo ultimamente. Isso, combinado com um desenho do leilão que estimule lances agressivos, reduzirá ainda mais a taxa de retorno demandada pelo vencedor. O governo não precisa forçar a taxa de retorno para baixo. É só fazer o serviço direito que ela será a mais baixa possível. A redução de taxa de retorno demandada induzida significa maiores bônus de assinatura para o governo e menores tarifas para o usuário.
Outra dimensão relevante de desenho é a definição do quê se contratar. No passado, governos basicamente contratavam um insumo (ou ativo) a ser usado na provisão de um serviço de infraestrutura. Por exemplo, contratava-se a construção de uma estrada. Hoje, é algo consensual entre especialistas – note, leitor, que fizemos referência a concessionários – que governos deveriam se mover na direção de contratar diretamente o produto: os serviços providos pela estrada (ex: a possibilidade de motoristas irem de A a B de forma segura e célere).
A contratação de serviços de infraestrutura faz com que seja natural que se “empacote” os estágios de elaboração do projeto, de execução e de operação do serviço. Quando um construtor opera a concessão, é também responsável por sua manutenção. Logo, internaliza os benefícios de investir em maior qualidade da obra. A elaboração dos projetos básico e executivo (como ocorre com a contratação integrada) incentiva melhores soluções de engenharia. Não menos importante, o governo passa a poder desenhar incentivos baseados em produto, ou seja, na qualidade do serviço de infraestrutura provido.
(colunista até agosto de 2016)é presidente do Insper, Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia. Atuou como professor assistente no Departamento de Economia da Universidade de Stanford e da EPGE/FGV. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Instituto de Resseguros do Brasil. Diretor executivo do Itaú-Unibanco, entre 2006 e 2009, e vice-presidente até 2013.
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