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A demografia sempre foi um ramo da ciência pouco considerado no debate sobre política pública no Brasil. Não deveria.
A profunda, e rápida, transição demográfica que atravessamos resulta em difíceis desafios para as próximas décadas. Em 1960, cada casal tinha, em média, 6,3 filhos. Em 2012, esse número tinha caído para 1,7. Para manter o total de pessoas em idade ativa inalterado seriam necessários cerca de 2,1 filhos por casal.
Com a rápida transição demográfica os recursos se esgotam. O número de idosos, pessoas com mais de 65 anos, cresce 3,5% ao ano, enquanto que o número de trabalhadores cresce cerca de 0,7%. Como resultado, a população em idade ativa, a imensa maioria dos que trabalham, vai começar a se reduzir em 15 anos. Por outro lado, a população idosa, em grande parte aposentada, vai continuar aumentando até, pelo menos, a metade do século.
A proporção de idosos na população deve saltar dos atuais cerca de 8% para cerca de 23% em 2050. Contudo, o problema da previdência oficial, nos moldes atuais, é muito mais grave. Assumindo que a idade média de aposentadoria continue próxima aos 55 anos, a proporção de aposentados na população atingiria 36% em 2050. Além disso, os aposentados do futuro viverão significativamente mais. A expectativa de vida ao nascer, que em 1960 era de 55 anos, hoje já é de 75 anos. O sistema não só terá que arcar com um maior número de beneficiários, como também com benefícios por muito mais tempo. Sendo que, ao mesmo tempo, a proporção de trabalhadores na população, que financia as aposentadorias, irá se reduzir.
Segundo estimativas de Paulo Tafner, em 1980 havia 9,2 pessoas em idade ativa (entre 15 e 64 anos de idade) para cada inativo. Esse número caiu para 5,6 em 2015. Em 2040, serão 2,56 ativos para cada inativo, e em 2050 apenas 1,9.
(colunista até agosto de 2016)é presidente do Insper, Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia. Atuou como professor assistente no Departamento de Economia da Universidade de Stanford e da EPGE/FGV. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Instituto de Resseguros do Brasil. Diretor executivo do Itaú-Unibanco, entre 2006 e 2009, e vice-presidente até 2013.
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