Coluna

Reinaldo Moraes

Boys’ night

18 de janeiro de 2017

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É sempre muito bem-vinda qualquer chance de respirar um pouco fora do aluvião de contas a pagar e das incertezas financeiras acerca do famoso dia de amanhã, em meio a uma fila de projetos em eterno stand-by

Não sei você, mas eu entrei em 2017 com o pé direito. O problema é que, até agora, não consegui botar o pé esquerdo no chão. Ando aos pulos como um saci atordoado, mimetizando assim os passos da nossa claudicante economia, antes nas mãos de larápios incompetentes de esquerda e agora sob a alta direção de salafrários de direita dando barretadas aos grandes capitalistas e as costas aos trabalhadores. Business as usual – negócios, como sempre -, máxima que os mafiosos do cinema gostam de repetir antes de passar fogo em seus desafetos. Na vida real acho que eles apenas apertam o gatilho sem repetir máxima nenhuma.

Nossa economia, que eu digo, é a economia do país e a minha pessoal, esta em alarmante dependência daquela. Vai daí, que é sempre muito bem-vinda qualquer chance de respirar um pouco fora do aluvião de contas a pagar e das incertezas financeiras acerca do famoso dia de amanhã, em meio a uma fila de projetos em eterno stand-by.

Falando em stand-by, tem dia que a sensação de estar no mato sem cachorro é tamanha que a minha vontade é sair entoando pelas ruas congestionadas e ciclovias vazias da cidade o refrão do famoso rock-balada que todo mundo gravou nos States desde que B.B. King a imortalizou nos anos 60 do século passado: “So darling, darling, stand by me, oh, stand by me…”

É isso aí, querida: fique pertinho de mim.

Esse fantástico hino do carentão pop clamando por companhia num mundo que desmorona à sua volta era a trilha sonora da minha cabeça enquanto eu caminhava ontem mesmo em direção à casa do meu querido amigo, o professor Antônio Pedro Tota, autor de clássicos da historiografia brasileira moderna, como “O imperialismo sedutor” e “O amigo americano” (ambos publicados pela Companhia das Letras), sobre as investidas culturais e econômicas do império gringo sobre o Brasil nos anos 1940/50, capitaneadas pela tão sedutora quão polêmica figura do mítico arquimiliardário Nelson Rockfeller.

Reinaldo Moraesestreou na literatura em 1981 com o romance Tanto Faz (ed. Brasiliense) Em 1985 publicou o romance Abacaxi (ed. L&PM). Depois de 17 anos sem publicar nada, voltou em 2003 com o romance de aventuras Órbita dos caracóis (Companhia das Letras). Seguiram-se: Estrangeiros em casa (narrativa de viagem pela cidade de São Paulo, National Geographic Abril, 2004, com fotos de Roberto Linsker); Umidade (contos , Companhia das Letras, 2005), Barata! (novela infantil , Companhia das Letras, 2007) , Pornopopéia (romance , Objetiva, 2009) e O Cheirinho do amor (crônicas, Alfaguara, 2014). É também tradutor e roteirista de cinema e TV.

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