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James Joyce, irlandês de família católica dublinense, que estudou em escolas de jesuítas, escreveu um dia a um amigo: “Jesus era solteiro e nunca viveu com uma mulher. Viver com uma mulher é, com certeza, uma das coisas mais difíceis que um homem tem a fazer na vida, e ele nunca fez isso.”
Teríamos aqui um Joyce misógino e machista, insinuando que mulher é osso duro de roer, e que os homens são uns doces de coco do mais fácil convívio, sobretudo se não forem atazanados por suas companheiras?
Um herege hediondo, por equiparar uma figura sagrada como Jesus aos homens comuns que não se dizem filhos de Deus e que nasceram de mulheres que copularam com homens?
E um homófobo mal-disfarçado, por insinuar que o compromisso dos homens é com as mulheres, e vice-versa, ignorando que há homens que preferem viver com homens, e mulheres que amam mulheres e passam muito bem, obrigada?
Minha tendência é dar respostas negativas a todas essas questões de gênero. Nem misógino, herege ou homófobo, o Joyce daquele parágrafo sobre Jesus é só um escritor heterossexual, casado com a mesma e única mulher, Nora Barnacle, por toda a vida, e um dos maiores artistas da palavra que já andaram pela face da Terra. O que ele fez escrevendo ao amigo foi só desabafar um pouco sobre as vicissitudes da sua vida conjugal.
Reinaldo Moraesestreou na literatura em 1981 com o romance Tanto Faz (ed. Brasiliense) Em 1985 publicou o romance Abacaxi (ed. L&PM). Depois de 17 anos sem publicar nada, voltou em 2003 com o romance de aventuras Órbita dos caracóis (Companhia das Letras). Seguiram-se: Estrangeiros em casa (narrativa de viagem pela cidade de São Paulo, National Geographic Abril, 2004, com fotos de Roberto Linsker); Umidade (contos , Companhia das Letras, 2005), Barata! (novela infantil , Companhia das Letras, 2007) , Pornopopéia (romance , Objetiva, 2009) e O Cheirinho do amor (crônicas, Alfaguara, 2014). É também tradutor e roteirista de cinema e TV.
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