Coluna

Denis R. Burgierman

No longo prazo, estaremos todos mortos (mas está encurtando esse prazo)

29 de junho de 2017

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Enquanto a Amazônia queima, Trump declara guerra à ciência. Aguarde as consequências

A Amazônia está cercada. Cada vez mais encurralada no cantinho de cima, à esquerda, do triângulo que é o Brasil, a floresta está acuada por uma larga faixa de queimadas, assassinato e destruição que rasga o país ao meio, do Acre ao Maranhão – o chamado “arco do desmatamento”. Não bastasse a violência do avanço dessa fronteira, que queima dois campos de futebol de floresta a cada minuto, lá em Brasília, uma quadrilha de bandidos que tomou o poder vai rapidamente rasgando toda lei e perseguindo toda instituição que possa ficar no caminho da destruição.

O desmatamento na Amazônia, que há pouco mais de uma década estava a caminho de ficar sob controle, voltou em ritmo total, e está crescendo rápido. A destruição que vemos hoje é fruto de políticas desastrosas do governo Dilma, como o absurdo Código Florestal, que incentiva grilagem ao garantir impunidade para quem havia desmatado ilegalmente. Pior ainda é a destruição que veremos nos próximos anos, fruto do completo desmando que reina em Brasília neste triste momento da história.

O que está acontecendo agora é um crime e as maiores vítimas serão os nossos filhos e os filhos dos filhos dos filhos deles. A destruição da Amazônia muito provavelmente vai desligar a bomba biótica que puxa umidade dos oceanos e a espalha pela América do Sul. Espere para breve grandes secas no Centro-Oeste, no Sudeste, no Sul, matando nossa agroindústria, nossa proverbial fertilidade e provavelmente causando fome.

Quando a floresta tiver queimado inteira, toda a matéria da qual ela é feita terá se gaseificado na forma de fumaça e ficará presa no teto da atmosfera por mais ou menos 100 anos. Essa fumaça criminosa será a grande contribuição brasileira para uma outra tragédia: a mudança do clima global. Nossa floresta queimada legará ao futuro quase tanto gás de efeito estufa quanto os escapamentos dos carros do mundo.

O que o Brasil está fazendo é terrível, mas não é o único crime ambiental atualmente sendo cometido por governos. Ao norte, Donald Trump transformou a ciência em inimiga e iniciou uma cruzada para queimar combustível fóssil desnecessariamente. Trump é um idiota e, como tal, está sendo basicamente ignorado pelos Estados e pelas empresas. Ainda assim, vai gerar distração suficiente para atrasar ainda mais um processo de adaptação que já vinha bem atrasado. Espere furacões, tufões, tempestades, secas cada vez maiores, cada vez mais frequentes, cada vez mais imprevisíveis.

Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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