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Hoje, no Brasil, partidos são cartórios.
Assim como se vai ao cartório para registrar um imóvel, um casamento, um bebê, vai-se a um partido para registrar uma candidatura, e assim cumprir os requisitos burocráticos para participar da política. No Brasil, assim como não é possível ter vida civil sem cartório, não se chega ao centro da vida pública, onde as decisões são tomadas, sem estar dentro de algum partido.
Tanto uns quanto os outros são intermediários privados entre o cidadão e o Estado. Ambos prestam serviço público e, no Brasil, ambos foram capturados por interesses privados. Tanto partidos quanto cartórios, por aqui, têm donos, que vivem da renda que essas instituições geram.
E é bastante renda. No caso dos partidos, as receitas principais são duas. Primeiro eles têm as centenas de milhões de reais depositados na conta todo mês pelo Estado brasileiro – o Fundo Partidário, dinheiro público que move a máquina privada que exerce a política (quanto maior a bancada no Congresso, mais dinheiro). E, historicamente, têm também as centenas de milhões de reais em doações. Aliás, deveria ter uma claque daquelas de seriado rindo a cada vez que alguém chama financiamento eleitoral de “doação”, porque é tudo que não é. As tais “doações”, como revelou a delação da Odebrecht, são um jeito de comprar um pouquinho do Estado. Volta tudo e muito mais para o “doador”, na forma de contratos generosos, leis favoráveis ou participação nas decisões. Hoje, essas doações são proibidas, mas do tamanho do caixa dois, ninguém nem sabe.
Para sair candidato na maioria dos partidos, normalmente só há dois caminhos: trazer votos ou dinheiro. Ou se chega com um curral eleitoral para chamar de seu ou com um “doador” (hahaha) ou bolsos próprios bem cheios. Ter boas ideias não abre portas para quase ninguém.
Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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